O próximo entrevistado do especial de fim de ano da 55, é o político Marlon Luz, considerado o primeiro vereador eleito na capital paulista a defender os motoristas de aplicativo.
Segundo Marlon, com o fim da pandemia em 2022, 2023 testemunhou um crescimento no número de corridas disponíveis, proporcionando mais trabalho e renda para os motoristas. Ele também afirma que a redução nos preços dos combustíveis em 2023 também beneficiou os motoristas, diminuindo seus custos operacionais.
Entretanto, Marlon defende que o ano também trouxe desafios, principalmente para os motoristas que alugam carros, devido ao aumento dos preços de aluguel. Este aumento os ganhos líquidos dos motoristas, pois eles tiveram que dedicar mais tempo para cobrir esses custos.
Em termos de mudanças positivas e negativas, Marlon destaca como positivo o surgimento de novas plataformas de transporte, como a Mobizap, visto que o novo app aumentou a competição no mercado, beneficiando os motoristas com mais opções e potencialmente melhores ganhos. Já como negativo, o vereador destaca o surgimento das categorias de moto dentro da 99 e da Uber.
Para ele, o desejo geral para o próximo ano é um retorno ao respeito e valorização da profissão de motorista de aplicativo, semelhante ao período entre 2015 e 2017, com melhores condições de trabalho, segurança e remuneração.
2023 foi melhor ou pior para quem é motoristas de aplicativo em relação a 2022? Por que?
Em 2022, ainda estávamos enfrentando a pandemia, que chegou ao fim naquele ano. Como resultado, 2023 foi o primeiro ano completo sem a pandemia. Isso impactou o mercado de transportes por aplicativo, com um aumento na quantidade de corridas disponíveis. Para os motoristas de aplicativos, isso significou mais trabalho e, consequentemente, mais renda. Além disso, o preço dos combustíveis em 2023 foi mais baixo do que em 2022, beneficiando os motoristas.
Outra mudança importante ocorreu entre o final de 2022 e o início de 2023, quando a Uber começou a mostrar o preço das corridas no aplicativo em todo o Brasil. Anteriormente, esse valor era oculto. Essa transparência é crucial, pois permite que os motoristas, como profissionais autônomos, vejam o valor das corridas antes de aceitá-las. Isso foi um ponto chave na CPI dos aplicativos de 2022, onde argumentei que a falta de transparência poderia indicar um vínculo empregatício.
Além disso, a Uber modificou sua política de deslogar motoristas que recusam corridas. Antes, se um motorista rejeitasse três corridas, ele era deslogado, criando dificuldades. Agora, os motoristas podem recusar corridas sem esse risco, o que também foi discutido na CPI, pois a penalidade anterior poderia implicar um vínculo empregatício.
Por todos esses motivos, acredito que 2023 foi um ano melhor para os motoristas de aplicativos de transporte no Brasil em comparação a 2022.
Qual foi o principal desafio para os motoristas de aplicativo em 2023?
O principal desafio enfrentado pelos motoristas que alugam carros em 2023 foi o aumento exorbitante dos preços de aluguel. Algumas locadoras começaram a elevar seus preços mensalmente, ou até semanalmente, afetando significativamente a renda dos motoristas de aplicativos. Normalmente, um motorista de carro alugado trabalha uma semana para cobrir os custos de combustível e outra semana para pagar o aluguel. Assim, o lucro efetivo é o que ele consegue economizar nas duas semanas restantes. No entanto, neste ano, observou-se que os motoristas tiveram que dedicar quase duas semanas apenas para pagar o aluguel, reduzindo drasticamente seus ganhos. Portanto, o aumento no custo dos aluguéis representou o maior desafio para esses profissionais.
Qual foi a principal mudança positiva para os motoristas de aplicativo em 2023? E a negativa?
A partir de São Paulo, emergiu uma nova plataforma de aplicativos de transporte, enriquecendo as opções para motoristas. A competição entre aplicativos beneficia o motorista: quanto maior a demanda por seus serviços, maior o potencial de ganhos. Isso se deve à lei de oferta e procura; uma ampla oferta de motoristas tende a reduzir os pagamentos, enquanto uma demanda elevada eleva os preços.
Destacando a Mobzap, que promoveu boas iniciativas para motoristas em São Paulo, é notável como a competição estimulou empresas como a Uber a oferecer promoções simultâneas para reter motoristas. Em 2023, novidades importantes surgiram: motoristas agora podem ver o valor das corridas antes de aceitá-las e têm a liberdade de rejeitar corridas, algo que não era possível em 2022.
Por outro lado, existem aspectos negativos. Em muitas cidades brasileiras, a introdução de categorias como a “99Moto” e “Uber moto” reduziu a demanda por motoristas de carro, afetando seus ganhos. Embora São Paulo tenha conseguido evitar isso em 2023, garantindo melhores rendas para os motoristas locais, outras cidades enfrentaram perdas. Além disso, mudanças na categoria “Confort” da Uber excluíram vários carros que anteriormente se qualificavam, o que também foi visto como um aspecto negativo.
Por que valeu a pena ser motorista de aplicativo em 2023?
É importante destacar a flexibilidade de horário no trabalho dos motoristas de aplicativo. Apesar de muitos trabalharem longas horas, eles têm a liberdade de escolher seus horários, seja durante o dia, à noite ou nos finais de semana. Essa flexibilidade, assegurada em 2023, foi um ponto de debate, especialmente com a discussão sobre possíveis contratações sob o regime CLT e outras regulamentações. Contudo, a flexibilidade permanece como o principal atrativo, oferecendo aos motoristas uma renda potencialmente maior do que muitos empregos CLT.
Além disso, gostaria de enfatizar que, na minha visão, São Paulo se destaca como um dos, se não o melhor, lugares para trabalhar com aplicativos de transporte no Brasil. Isso ficou evidente este ano, quando observei um significativo aumento no número de motoristas vindos de outras cidades, especialmente do Rio de Janeiro, Salvador e Minas Gerais. Muitos escolheram São Paulo como seu novo local de trabalho, o que demonstra a atratividade da cidade para esse setor.
Quais as expectativas para 2024? E o que todo motorista precisa começar a fazer no próximo ano?
Acredito que, em 2024, o foco deve estar na regulamentação dos motoristas de aplicativos. Em São Paulo, já existe um projeto de lei municipal que visa profissionalizar e valorizar estes profissionais. Isso é essencial pois os aplicativos tendem a preferir motoristas amadores, já que são mais baratos. Somente com a regulamentação que vem a profissionalização e com isso a valorização dos motoristas.
Há também a expectativa de uma regulamentação federal para 2024. Em 2023, o governo federal não avançou com nenhuma medida positiva para os motoristas, apesar de ameaças de regulamentações desfavoráveis. Graças ao nosso esforço em confrontar o governo e os sindicatos que falharam em representar adequadamente a categoria, conseguimos evitar propostas prejudiciais.
Estas expectativas para 2024 envolvem tanto a regulamentação municipal em São Paulo, que pode servir de modelo para outras cidades brasileiras, quanto a regulamentação federal. Portanto, é crucial trabalhar para assegurar que estas regulamentações sejam favoráveis aos motoristas.
Em São Paulo, os motoristas de aplicativo já são representados politicamente desde 2020, o que resultou em avanços significativos. Agora, é importante que essa representação se expanda para outras cidades do Brasil. Com as eleições municipais do próximo ano, é uma oportunidade de eleger mais vereadores que representem esta classe em todo o país, fortalecendo e valorizando ainda mais os motoristas de aplicativos em âmbito nacional.
O que você mais deseja para esta profissão para o próximo ano?
Meu desejo é que o trabalho por aplicativo para motoristas volte ao que era entre 2015 e 2017. Durante esses anos, quando comecei como motorista de aplicativo, a profissão era respeitada e valorizada tanto pela população quanto pelo governo. Os motoristas eram vistos como profissionais sérios e bem avaliados. As corridas eram todas vantajosas, sem a necessidade de selecionar ou depender de tarifas dinâmicas. Além disso, os problemas de segurança eram menores do que hoje. Naquela época, os motoristas estavam satisfeitos, os carros eram de qualidade e bem cuidados, pois a remuneração era boa. Desejo que essa realidade retorne no próximo ano.
O que o motorista precisa fazer para ganhar mais em 2024?
O objetivo comum é ganhar mais. Todos desejam aumentar seus ganhos para melhor sustentar suas famílias, uma aspiração justa e compreensível. Contudo, surge a questão: o que os motoristas de aplicativos precisam fazer para alcançar isso? A resposta é profissionalismo. Eles devem evoluir de amadores, uma postura muitas vezes incentivada pelos aplicativos, para profissionais qualificados e valorizados.
Relembrando o cenário dos táxis em 2014 e 2015, a qualidade era baixa e havia insatisfação geral. Com a chegada dos aplicativos, surgiu um serviço de transporte mais profissional e diferenciado, ganhando a preferência popular. Naquela época, os motoristas de aplicativos, orgulhosos, adotavam uma postura profissional, muitos até trabalhando de terno.
Com o tempo, porém, o nível do transporte por aplicativo caiu, regredindo ao amadorismo dos táxis de 2014. A competição entre os aplicativos, buscando um maior número de corridas, acabou fomentando essa queda de qualidade. Atualmente, embora ainda existam serviços de qualidade, há uma grande parcela de serviços inferiores, alimentando a dicotomia: é barato porque é ruim ou é ruim porque é barato?
Para mudar essa dinâmica e realmente aumentar seus ganhos em 2024, os motoristas devem manter o profissionalismo, resistindo à tendência de amadorismo e focando em oferecer um serviço de qualidade.