Ser motorista de aplicativo em Sorocaba envolve desafios e estratégias para manter um bom faturamento. Ofir Castro, que atua há três anos na profissão, compartilha sua experiência sobre a rotina de trabalho, a variação dos ganhos e as mudanças no mercado, como a chegada do UberMoto.
Além disso, ele explica como administra custos, escolhe corridas e mantém uma renda estável, mesmo diante das dificuldades. Na entrevista abaixo, ele detalha o impacto das promoções, a importância da escolha do carro e suas perspectivas para o futuro da categoria.
Ofir, o objetivo desta entrevista é entender melhor como é a rotina de um motorista de aplicativo em Sorocaba. Para começar, gostaria que você contasse um pouco sobre como decidiu ingressar nessa profissão e há quanto tempo atua na área.
Ofir Castro: Minha entrada no ramo de motorista de aplicativo foi um processo natural, motivado pela necessidade de complementar a renda e me manter ativo. Eu tinha um pesqueiro em São Roque, mas acabei saindo desse negócio e me mudei para Sorocaba. Aqui, passei a administrar uma chácara de aluguel, o que me garantia uma renda fixa, mas percebi que ficava muito ocioso apenas com isso. Como sou uma pessoa ativa, senti a necessidade de encontrar algo para fazer no dia a dia, tanto para ocupar o tempo quanto para aumentar os ganhos.
Foi então que observei que meu sobrinho e meu filho trabalhavam como motoristas de aplicativo. Ao ver a experiência deles, resolvi tentar também. Comecei há três anos e, desde então, sigo nessa profissão, adaptando-me às mudanças do mercado e às demandas da cidade.
Como funciona a sua rotina de trabalho? Você segue um horário fixo, tem dias de folga ou ajusta a rotina conforme a demanda?
Ofir Castro: Minha rotina é bem estruturada, mas flexível quando necessário. Geralmente, eu folgo às terças ou quartas-feiras, ou até nos dois dias, dependendo das necessidades da chácara que administro. Como faço a manutenção do local, aproveito esses dias para resolver pendências, pois são os períodos mais fracos para corridas.
Nos outros dias, trabalho de quinta a segunda com certeza, seguindo um padrão de oito a dez horas por dia. Meu horário de início varia um pouco, mas, em geral, começo por volta das 10h da manhã e sigo até as 19h ou 20h. Se o movimento estiver bom, posso estender um pouco mais.
Você define sua meta de trabalho com base no número de corridas ou no faturamento diário?
Ofir Castro: Depende das promoções que o aplicativo oferece. Quando há promoções, eu foco no número de corridas, porque elas são mais vantajosas nesse contexto. O Uber, por exemplo, lança desafios que exigem um determinado número de corridas para atingir um bônus.
Mas, quando não há promoções, meu foco é financeiro. Minha meta diária de faturamento é de aproximadamente R$ 400 brutos. Nos finais de semana, esse valor pode ser um pouco maior, já que há mais passageiros e a demanda sobe. No entanto, durante a semana, há dias em que não consigo atingir essa meta, dependendo do fluxo de corridas.
Você organiza sua rotina de trabalho considerando os horários de pico da cidade?
Ofir Castro: Na verdade, não. Diferente de muitos motoristas que preferem começar o dia bem cedo, eu não gosto de acordar cedo para trabalhar. Então, o horário da manhã não faz parte da minha rotina. Costumo sair de casa por volta das 10h da manhã e seguir até o começo da noite, por volta das 19h ou 20h.
Se o movimento estiver bom, posso estender um pouco mais, mas prefiro trabalhar nesse intervalo porque se encaixa melhor na minha rotina. Dessa forma, evito o estresse do trânsito da manhã e consigo um fluxo contínuo de passageiros ao longo do dia.
Como você avalia a experiência de trabalhar em Sorocaba como motorista de aplicativo? Acha que é uma boa cidade para essa profissão? Você já trabalhou em outras cidades para comparar?
Ofir Castro: Sim, já trabalhei em outras cidades porque costumo pegar corridas longas para fora de Sorocaba. Inclusive, neste momento, estou em Barueri, pois trouxe um passageiro de Sorocaba para cá. Quando isso acontece, aproveito para trabalhar em São Paulo até o fim do dia, pois preciso faturar um valor suficiente para compensar o trajeto de volta.
Sobre Sorocaba especificamente, percebo que o movimento de corridas caiu bastante nos últimos tempos, especialmente depois da chegada do UberMoto. A entrada desse serviço impactou diretamente os motoristas de carro, reduzindo a demanda e, consequentemente, o preço médio das corridas. Antes, eu conseguia trabalhar com um valor médio de R$ 1,45 a R$ 1,50 por quilômetro rodado. Agora, esse valor caiu para R$ 1,25 a R$ 1,30.
Outro ponto que prejudica os motoristas é que, mesmo com o aumento do preço dos combustíveis, o valor das tarifas das corridas não foi reajustado proporcionalmente. Quando a demanda por corridas diminui, os valores também caem, pois há menos momentos de tarifa dinâmica.
Apesar desses desafios, Sorocaba ainda tem uma boa quantidade de corridas, mas os valores pagos aos motoristas diminuíram significativamente. Se eu comparar com Campinas ou São Paulo, essas cidades oferecem um faturamento melhor. No entanto, levando em conta a qualidade de vida e a praticidade, ainda prefiro continuar em Sorocaba.
Você mencionou que começou há três anos. Na sua visão, a situação era melhor naquela época? Era mais fácil ganhar dinheiro como motorista de aplicativo?
Ofir Castro: Com certeza, era muito melhor. Como mencionei antes, o UberMoto não existia, então as corridas de carro tinham um preço médio mais alto. Além disso, o Uber oferecia muito mais promoções para os motoristas.
Para você ter uma ideia, faz seis meses que eu não recebo nenhuma promoção do aplicativo. Antes, eu conseguia ganhar bônus regularmente, o que ajudava bastante no faturamento. Essa mudança impactou diretamente os ganhos.
Outro fator foi a redução do número de corridas. Muitas pessoas começaram a optar pela moto, pois o preço das corridas de moto é bem mais baixo. Isso afetou principalmente as corridas curtas, que são um grande volume do trabalho diário dos motoristas de carro.
Se eu comparar os ganhos de 2022 e 2023 com os de agora, a diferença é gritante. Antes, eu conseguia fazer R$ 400 em uma jornada de oito horas de trabalho. Hoje, para atingir esse mesmo valor, preciso trabalhar nove ou até dez horas por dia. E, se o dia estiver fraco, nem mesmo nessas dez horas consigo atingir os R$ 400.
Então, pelo que você está dizendo, o faturamento varia bastante ao longo da semana e depende do dia e do movimento da cidade, certo?
Ofir Castro: Exatamente. O faturamento tem uma oscilação grande. Nos finais de semana, geralmente consigo atingir a meta de R$ 400 ou até ultrapassá-la, pois há mais movimento e as tarifas dinâmicas entram em ação com mais frequência.
Durante a semana, porém, há dias em que o movimento cai e o valor arrecadado não chega nem perto da meta. Isso acontece principalmente nos dias em que há menos passageiros utilizando o serviço, como terças e quartas-feiras.
Além disso, o custo operacional também aumentou. O preço dos combustíveis subiu, e os ganhos por quilômetro rodado diminuíram. Então, para manter um faturamento satisfatório, os motoristas precisam trabalhar mais horas do que antes.
Pelas minhas contas, atualmente, você fatura em torno de R$ 8.000 por mês, correto?
Ofir Castro: Sim, mais ou menos isso. Se considerarmos uma média de cinco dias de trabalho por semana, faturando cerca de R$ 400 por dia, isso dá em torno de R$ 2.000 semanais. No mês, o faturamento bruto fica entre R$ 8.000 e R$ 9.000. Porém, após todos os custos operacionais, o lucro líquido gira em torno de R$ 2.500.
Aproximadamente 75% do faturamento é consumido por custos operacionais. Em média, um terço do valor vai para combustível, outro terço cobre a manutenção e possíveis prestações do carro, e o que sobra é o lucro real.
Se você não fizer a manutenção adequada do carro, ele quebra e você fica sem trabalhar. Então, parte do faturamento sempre tem que ser destinada à manutenção preventiva. No final das contas, o dinheiro que realmente sobra para o motorista é apenas um terço do valor bruto.
O carro tem um custo alto para o motorista, não é?
Ofir Castro: Com certeza! Os custos com combustível, manutenção, seguro e outras despesas reduzem bastante o valor líquido que sobra no final do mês.
Falando agora sobre sua relação com os passageiros em Sorocaba, como você avalia essa interação? O convívio com os passageiros é tranquilo?
Ofir Castro: No geral, sim. Em todos esses anos trabalhando como motorista, tive apenas duas ou três discussões com passageiros. Nunca enfrentei problemas graves de segurança, como tentativas de assalto, que infelizmente são mais comuns em outras cidades.
Sorocaba é uma cidade bastante tranquila para se trabalhar como motorista de aplicativo. Eu pego corridas para qualquer bairro, sem restrições, diferentemente de alguns motoristas que evitam determinadas regiões. Acho que isso tem muito a ver com o fato de eu ter morado em São Paulo antes de me mudar para cá. Lá, as periferias são bem diferentes, com favelas e regiões realmente perigosas. Em comparação, Sorocaba não tem esse tipo de cenário.
Por isso, não vejo problema em circular por qualquer bairro da cidade. Nunca sofri nenhum tipo de ameaça, nem me senti inseguro ao pegar passageiros. As poucas discussões que tive foram por motivos simples, como passageiros que se recusavam a pagar a corrida ou queriam entrar no carro em número superior ao permitido. Fora esses casos pontuais, minha relação com os passageiros sempre foi muito tranquila.
Quando você menciona promoções, o que seria exatamente uma promoção?
Ofir Castro: As promoções são desafios que o aplicativo lança para os motoristas. Por exemplo, em alguns finais de semana, a Uber estabelece metas como: se você completar 70 corridas entre sexta-feira, 4h da manhã, e segunda-feira, 4h da manhã, recebe um bônus adicional de R$ 100. Se completar 90 corridas nesse mesmo período, o bônus pode subir para R$ 150.
Esses valores variam, mas, antigamente, essas promoções eram muito mais frequentes. Hoje, elas praticamente desapareceram. Faz pelo menos seis meses que eu não recebo nenhuma promoção da Uber, o que impacta diretamente a renda dos motoristas.
Além da diminuição das promoções, muitos motoristas reclamam que a Uber está reduzindo a frequência das tarifas dinâmicas. Você sente essa mudança também?
Ofir Castro: Sim, com certeza. Isso acontece principalmente porque agora há uma divisão maior entre os tipos de transporte no aplicativo. Com a chegada do UberMoto, muitos passageiros optam pelas motos, que oferecem preços mais baixos do que os carros. Isso faz com que a procura por corridas de carro diminua, reduzindo a ocorrência da tarifa dinâmica.
O sistema de tarifa dinâmica funciona baseado na oferta e demanda: quando há mais passageiros solicitando corridas do que motoristas disponíveis, o preço sobe. Mas quando há muitos motoristas na rua e poucos passageiros pedindo corridas, os preços caem e o dinâmico praticamente desaparece. Com a introdução do UberMoto, o equilíbrio mudou, e o resultado é que as corridas de carro ficaram mais baratas e menos lucrativas.
Quais aplicativos você utiliza para trabalhar? Você já testou outros além da Uber?
Ofir Castro: Atualmente, eu trabalho apenas com a Uber. Já testei outros aplicativos, como a Maxin e a 99, mas tive problemas que me fizeram optar exclusivamente pela Uber.
A Maxin, por exemplo, tem um modelo complicado: o passageiro paga diretamente ao motorista, e nós precisamos colocar um crédito na plataforma para cobrir a taxa deles. Isso cria um risco, pois não há garantia de recebimento do pagamento pelo serviço prestado.
Já a 99 tem um problema muito sério com corridas pagas em dinheiro. A plataforma deveria garantir que o motorista receberá o valor da corrida, mas isso nem sempre acontece. Se um passageiro não tiver dinheiro para pagar, a 99 não permite que a gente passe a corrida para outra pessoa ou tome qualquer medida imediata. Isso significa que, em algumas situações, o motorista pode acabar sem receber pelo serviço.
O que acontece, então? Você tem que resolver a situação por conta própria, discutindo com o passageiro ou até indo até a polícia, o que leva tempo e gera estresse. Não vale a pena perder horas do meu dia para garantir um pagamento que deveria ser automático.
Na Uber, se um passageiro se recusar a pagar, eu simplesmente passo a cobrança para o próximo motorista que ele solicitar. Além disso, faço a contestação diretamente na plataforma, relatando o ocorrido. Com isso, a Uber assume o valor da corrida, e o problema não recai sobre mim. Esse tipo de suporte faz com que a Uber seja mais confiável para trabalhar.
Então, em questão de segurança e garantia de pagamento, a Uber ainda é a melhor opção para você?
Ofir Castro: Sim, sem dúvida. Com a Uber, eu sei que, caso tenha algum problema com um passageiro que se recusa a pagar, posso contestar a corrida e não perco meu dinheiro. Diferente de outros aplicativos, onde essa garantia não existe ou é mais difícil de ser resolvida.
Além disso, a Uber tem um sistema de atendimento mais estruturado para motoristas. Se houver qualquer problema, consigo resolver diretamente pelo aplicativo, sem precisar entrar em discussões desnecessárias com passageiros ou perder tempo com burocracias.
Ofir, para quem está começando agora no ramo de motorista de aplicativo, quais conselhos você daria?
Ofir Castro: O mais importante é escolher um carro econômico e com um custo acessível. As plataformas permitem veículos de até 15 anos de uso, então o ideal é pegar um carro que esteja dentro dessa margem, mas que seja um modelo 1.0, econômico e eficiente. Isso faz uma grande diferença na rentabilidade, pois um carro com manutenção mais cara, consumo elevado de combustível e IPVA alto reduz bastante o lucro no final do mês.
Outro erro comum de quem está começando é financiar um carro com uma parcela muito alta, achando que os ganhos serão suficientes para cobrir esse custo facilmente. Mas não é assim que funciona. Trabalhar como motorista de aplicativo não é um caminho para enriquecer. O motorista vai ganhar o equivalente ao que ele ganharia em um emprego tradicional, cumprindo uma jornada de 8 a 10 horas diárias, com um ou dois dias de folga por semana.
Também é essencial ter disciplina com os horários. Muitos motoristas desistem ou enfrentam dificuldades porque não levam isso a sério. Se o dia está fraco, não significa que você deve desistir e voltar para casa. Às vezes, vale a pena segurar um pouco mais e esperar uma oportunidade melhor. Além disso, é fundamental escolher bem as corridas.
Se você aceita qualquer corrida, a plataforma entende que os motoristas aceitam qualquer preço, o que faz os valores das corridas caírem ainda mais. O ideal é fazer cálculos e utilizar aplicativos que ajudam a avaliar o valor da corrida na tela, mostrando quanto você está ganhando por quilômetro e por minuto. Hoje em dia, há várias ferramentas que fazem esse cálculo automaticamente e ajudam o motorista a decidir se vale a pena aceitar uma corrida ou não.
Outro ponto importante é conhecer bem os custos do próprio carro. Faça uma média de quanto ele gasta por quilômetro rodado e multiplique esse valor por três. Esse deve ser o mínimo que você deve receber por quilômetro em cada corrida para garantir que está tendo lucro.
Se alguém está começando agora, minha recomendação é investir em um carro mais acessível, evitar parcelas altas e sempre fazer cálculos para garantir que está trabalhando com um bom custo-benefício.
Na sua opinião, quais são os maiores desafios para os motoristas de aplicativo hoje em dia? E quais são suas expectativas para este ano?
Ofir Castro: A situação está bastante incerta. O governo tem falado muito sobre profissionalizar a categoria, mas, na prática, o que eles querem mesmo é encontrar uma forma de arrecadar impostos sobre o nosso trabalho. Esse impasse tem feito com que a Uber adote uma postura mais cautelosa, sem oferecer aumentos nos ganhos dos motoristas ou reajustes na tarifa mínima das corridas.
Faz muito tempo que a Uber não aumenta o valor da corrida mínima. Com a inflação e o aumento do preço dos combustíveis, isso afeta diretamente o motorista. Hoje, estamos no meio de um debate sobre a regulamentação da categoria, e enquanto essa questão não for resolvida, a Uber não toma decisões que possam melhorar nossas condições de trabalho.
O grande problema é que a Uber insiste que não temos vínculo com a empresa, mas ao mesmo tempo, ela define tudo sobre o nosso trabalho. Eles escolhem quanto pagam por corrida, determinam se continuamos ou não na plataforma e até decidem se um passageiro pode nos avaliar de forma injusta sem dar ao motorista a chance de defesa. O passageiro é tratado como cliente, mas o motorista, não.
Enquanto essa situação não for esclarecida, acho difícil que as condições melhorem para os motoristas. Minha expectativa para este ano é apenas conseguir manter o faturamento atual, que gira em torno de R$ 2.000 a R$ 2.500 líquidos por mês. Para mim, isso é apenas um complemento de renda, mas para quem depende exclusivamente desse trabalho, a situação está complicada.
Você mencionou que há alguns anos era mais fácil faturar mais dinheiro. Em 2022, por exemplo, quanto você conseguia ganhar?
Ofir Castro: Em 2022, eu conseguia faturar entre R$ 11.000 e R$ 12.000 por mês. E os custos eram menores naquela época, porque o preço dos combustíveis estava mais baixo e as peças de reposição para manutenção do carro eram mais baratas, já que o dólar estava mais controlado.
Se compararmos o cenário daquela época com o de hoje, a diferença é grande. Eu conseguia tirar um lucro líquido de aproximadamente R$ 4.000, enquanto hoje esse valor caiu para cerca de R$ 2.500.
Então, enquanto outras profissões tiveram aumentos salariais ao longo dos anos, os motoristas de aplicativo tiveram uma redução nos ganhos?
Ofir Castro: Exatamente. Enquanto muitas categorias conseguem reajustes salariais que acompanham a inflação, os motoristas de aplicativo viram seus ganhos diminuírem. A Uber não reajustou os valores das corridas para acompanhar o aumento do custo de vida, o que significa que hoje trabalhamos mais para ganhar menos.