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“Até 30% a mais de ganhos e antecipação do repasse”, diretor do iFood explica pacote de benefícios para entregadores

Johnny Borges, diretor de impacto social da empresa, conversou com 55content sobre nova funcionalidade de rota destino e programa Super Entregadores.

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Homem sorridente usando camiseta vermelha em um ambiente moderno com palavras motivacionais na parede ao fundo.
Foto: iFood/Reprodução

O iFood anunciou uma série de novidades voltadas para os entregadores da plataforma, com foco na valorização da base mais engajada e na melhoria da experiência de trabalho. Entre os principais destaques estão a antecipação dos repasses, a nova funcionalidade de “Rota Destino” e o programa Super Entregadores, que promete bonificações de até 30%.

Em entrevista exclusiva para o 55content, Johnny Borges, diretor de impacto social e líder de relacionamento com entregadores da empresa, detalhou cada uma das iniciativas, explicou os critérios de elegibilidade e falou sobre os próximos passos da companhia frente aos desafios do setor.

Como era feita a antecipação dos repasses antes e como funciona agora com a mudança?

A mudança que fizemos na antecipação do repasse era uma demanda antiga dos entregadores, de como poderiam receber de forma antecipada para poder pagar o dia a dia. O grande desafio deles era o seguinte: o entregador recebia toda quarta-feira, de forma semanal. Isso era a forma como eles se organizavam, e tudo bem, fazia sentido em determinado momento.

O que começou a acontecer é que eles traziam a seguinte demanda: “Beleza, recebi na quarta, mas imagina que segunda tive um problema na moto e já gastei esse dinheiro no final de semana, esse dinheiro acabou.” E ele já teria valores a receber até aquele momento — quase meia semana completa. Agora, esse entregador vai poder sacar esse dinheiro que já seria dele naquele instante.

Isso atende uma demanda deles no sentido de: “Preciso pagar uma conta, fazer alguma coisa, e não me planejei bem.” Agora, ele consegue fazer essa antecipação do repasse que aconteceria na quarta-feira. Isso vai acontecer para entregadores que são frequentes na plataforma e que têm o score ativo.

O que é o score ativo? São entregadores que fazem ao menos 28 horas de trabalho por mês, que estão conectados com a gente nesse caminho. Isso abrange praticamente quase toda a base, mas tem gente que está entrando, que ainda não começou, que faz só uma ou duas corridas por mês. Temos mais de 400 mil entregadores fazendo entregas, e há entregadores que fazem duas, três corridas por mês. Esses não são frequentes na plataforma.

Então, será um benefício para entregadores que estão ativos, não necessariamente só frequentes, mas com score ativo. Todo entregador sabe o que é ter score ativo. A nota de corte para ser considerado frequente está nessa média de 28 horas nos últimos 28 dias.

Como surgiu a demanda pela funcionalidade “Rota Destino” e como ela vai funcionar?

Historicamente, temos um bom histórico. Há três anos, o Ralf MT, entregador do Rio de Janeiro, fez uma entrevista com o Diego e falou: “A gente precisa fazer o ‘de volta para casa’.” Ele dizia: “Saio da Baixada, entrego no Rio e vou para Botafogo. Moro em Duque de Caxias e vou entregar em Botafogo. Se tiver alguma coisa que me ajude a voltar para casa, eu ganho dinheiro na volta.”

Naquele momento, só ele trazia essa demanda. Com o tempo, a necessidade pela “Rota Destino” cresceu. Hoje, entendemos que é uma funcionalidade importante. Não apenas por ajudar a voltar para casa, mas porque há entregadores que preferem entregar em determinadas regiões. Usando o exemplo do Rio, há quem goste de entregar em Botafogo, mas as entregas acabam levando o entregador até Ipanema. Agora, ele pode voltar automaticamente para Botafogo e continuar entregando ali, onde se sente mais confortável.

Além disso, vai ajudar entregadores que têm emprego CLT. Se ele trabalha de manhã e quer entregar perto do trabalho à tarde, pode programar o destino para lá. Começaremos os testes em Goiânia e Brasília no início de agosto e depois expandiremos para o Brasil todo. A importância dos testes não é só interna, mas para o próprio entregador entender a funcionalidade, quantas vezes pode usar, como traçar as rotas, e o quanto isso pode impactar seu ganho, caso ele use mal.

Por exemplo, se ele quiser sair de Botafogo e voltar para Duque de Caxias, pode demorar a pegar um pedido, pois não há tanta demanda nesse trajeto. É um processo de aprendizado também.

Na Uber, motoristas definem o destino para voltar para casa. Mas no transporte de passageiros, a demanda é mais pulverizada na cidade. No food delivery, a demanda é muito concentrada em regiões e horários. Por isso, não introduzimos essa funcionalidade antes: precisávamos estudar como isso impactaria o ecossistema sem prejudicar o próprio entregador. Hoje, com 120 milhões de pedidos, isso se torna mais viável.

O que é o programa Super Entregadores, quais são os critérios e os benefícios?

O programa terá duas categorias: Ouro e Diamante. O entregador pode ganhar até 30% a mais que a média da base. Esse valor adicional vem de promoções e missões exclusivas para esse grupo.

Essa é uma demanda antiga dos entregadores. Desde que entrei aqui, há quatro anos e meio, ouço que a gente valoriza a base toda. Quando tínhamos 200 mil entregadores — hoje são 400 mil — fazíamos ações para todos. Mas muitos diziam: “Tem entregador que faz só 2 horas por dia. Eu faço 8 horas e me dedico.” O Super olha para o score, que é a qualidade da entrega, e não depende de tempo conectado à plataforma.

Mas há um critério adicional: o número de pedidos. Cada cidade terá uma exigência específica de pedidos para que o entregador entre no programa, considerando a demanda local. Assim, conseguimos uma relação justa no Brasil todo.

O programa nasce para valorizar quem está mais engajado. Antes, tratávamos todos igualmente, mas agora passamos a beneficiar esse grupo. Além dos 30% adicionais em média, haverá benefícios como descontos em telefonia celular, acesso à loja do entregador com preços promocionais em jaquetas e produtos, além de participar de ações de engajamento exclusivas.

Qual foi o objetivo da sua visita recente a Goiânia?

Goiânia foi a cidade teste da antecipação de repasses e será a primeira a testar a Rota Destino. A ida até lá teve dois objetivos: entender como foram os testes da antecipação e comunicar aos entregadores que a funcionalidade vai voltar de forma ampla. Fizemos o teste, tiramos, houve uma grande reclamação, e agora vamos retomar.

Também aproveitamos para contar sobre a Rota Destino, que começará por lá. Isso faz parte da nossa forma de trabalhar: escutar os entregadores, estar junto deles, como já fiz em Salvador e em Londrina. Em Goiânia, também analisamos melhorias operacionais, como pontos de apoio e como a cidade será traçada na Rota Destino.

Como vocês estão enxergando a entrada de novos players no mercado, como o 99 Food?

Acreditamos que o mercado de delivery no Brasil ainda tem muito a crescer. Nosso principal concorrente sempre foi o pedido feito por telefone, que ainda é muito comum, além dos pedidos por aplicativos de conversa. Parece que todo mundo está digitalizado, mas não é bem assim.

Nosso foco é continuar com ações planejadas para clientes, restaurantes e entregadores. As iniciativas como o Super Entregadores, a Rota Destino e a antecipação nasceram de demandas dos próprios entregadores, não foram respostas à concorrência. Crescendo o número de pedidos, o ecossistema funciona melhor: o cliente compra mais, o restaurante vende mais e o entregador ganha mais.

Como foi definido o novo valor da corrida mínima e há planos para reajustes periódicos?

Desde 2021, realizamos aumentos periódicos nos ganhos dos entregadores. Em 2025, reajustamos o valor mínimo para R$ 7,50 (moto) e R$ 7 (bike). Também aumentamos componentes específicos, como o valor por pedido agrupado, que teve um acréscimo de no mínimo R$ 3.

O critério é sempre baseado no poder de compra dos entregadores. Esse compromisso foi assumido no fórum de 2021 e seguimos com ele anualmente. Em 2024, ouvimos as demandas dos entregadores sobre o aumento do valor mínimo e analisamos o impacto disso na oferta e demanda, tanto do consumidor quanto dos restaurantes.

O aumento para moto foi maior — mais de 15% — porque os custos com manutenção são mais altos. Já para bike, o aumento foi menor, considerando os custos reduzidos.

Como estão lidando com a questão dos deslocamentos longos para entregadores de bike?

Essa demanda veio das manifestações. Os bikers apontaram que deveriam se deslocar menos do que os entregadores de moto, e concordamos com isso, inclusive por eficiência do negócio. Quanto mais a bike se desloca, mais tempo leva para pegar outro pedido.

Hoje temos uma limitação de cerca de 4 km para a rota total — desde o ponto onde o entregador está até o restaurante e depois até o cliente. Essa limitação não cobre 100% dos casos, pois às vezes a distância passa um pouco (4,2 km, 4,3 km). Nesses casos, o entregador pode aceitar ou recusar o pedido. Mas a maioria das rotas está dentro desse limite.

Nosso objetivo é cada vez mais delimitar as rotas para garantir uma boa relação de esforço e ganho para o entregador.

A parceria com a Uber envolve compartilhamento de entregadores?

Não. A parceria tem como foco o cliente. Um cliente da Uber poderá fazer pedido no app da Uber e ser atendido por um restaurante do iFood, e vice-versa. O objetivo é melhorar a experiência dos clientes nos dois aplicativos.

Não há discussão sobre compartilhamento de entregadores. O foco da parceria é exclusivamente a oferta para o cliente.

Quais são os próximos desafios e planos futuros para o relacionamento com os entregadores?

Hoje, tudo o que fazemos envolve escutar os entregadores. Seja uma melhoria operacional para o cliente ou restaurante, envolvemos o entregador nesse processo. Um exemplo recente: hoje mesmo, às 8h da manhã, uma entregadora falou sobre a dificuldade de pegar pedidos na 25 de Março, em São Paulo. Disse que precisa de mais tempo de deslocamento para entrar na região.

São demandas que às vezes a gente não vê daqui, e por isso escutar diretamente é essencial. As melhorias que entregamos em 2025 vieram dos pedidos dos entregadores. E é assim que vamos seguir em 2026 e nos próximos anos.

Para 2026, nosso principal objetivo é gerar mais pedidos. Se o número de pedidos cresce, o restaurante vende mais e o entregador ganha mais. E todas as outras melhorias virão da escuta ativa com os entregadores.

Vinícius Guahy

Vinícius Guahy é jornalista formado pela Universidade Federal Fluminense e coordenador de conteúdo do 55content.

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