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Passageiros ruins ainda fazem a 99 lucrar; motoristas ruins não — e fazem usuários abandonarem o app

99 está bloqueando motoristas com nota baixa e veículos em condições ruins de maneira apressada sem dar a eles a chance de melhorar e continuar trabalhando.

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Opinião
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Homem com barba, vestindo jaqueta verde e suéter vermelho, fala diretamente para a câmera enquanto está dentro de um carro.
Foto: Daniel Piccinato para 55content

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A partir de junho, a 99 iniciou o que chamou de “primeira onda” de desativações definitivas de contas de motoristas. No fim de semana dos dias 14 e 15, os bloqueios começaram pelas cidades de Aracaju, São Paulo e Brasília. A própria empresa já indicou que até o fim do mês outras cidades também serão impactadas por bloqueios definitivos.

Esses bloqueios atingem motoristas com nota inferior a 4.5, sob a justificativa de preservar a qualidade do serviço. A 99 afirma que o mau atendimento e a má conservação de alguns veículos estão fazendo os passageiros migrarem para outras plataformas. Até aí, é compreensível. O problema está na forma como essa medida está sendo implementada: de maneira apressada, sem dar aos motoristas com nota baixa ou veículos em condições ruins a chance de melhorar e continuar trabalhando.

É triste ver colegas com financiamentos de carro em andamento sendo bloqueados sem sequer a oportunidade de recuperar a nota. Muitos trabalham exclusivamente com a 99 e, ao serem desligados, enfrentam dificuldades financeiras sérias, vendo seus planos e economias ruírem.

Essa medida afeta apenas motoristas com mais de 30 dias de cadastro na plataforma. A preocupação maior é com quem depende exclusivamente da 99. Vale lembrar que, para um motorista alcançar nota abaixo de 4.5, é porque algo muito errado está acontecendo — mesmo com falhas, é difícil atingir esse nível. Infelizmente, muitos motoristas ainda não sabem prestar um bom atendimento: são grosseiros com os passageiros ou ignoram pedidos simples.

A 99 afirma que mais de 50% dos seus motoristas têm nota superior a 4.96, e que apenas 1% será afetado pela medida. Embora pareça pouco, considerando que a plataforma tem mais de 1 milhão de motoristas cadastrados, esse 1% representa milhares de pessoas. Muitos só descobriram o bloqueio ao tentar abrir o aplicativo no sábado. Recebi várias mensagens de motoristas preocupados, inclusive de alguns que também já estavam bloqueados na Uber e agora dependem exclusivamente da inDrive.

E o que esses motoristas podem fazer? Eu mesmo já passei por dois bloqueios definitivos na 99 e, nas duas vezes, recorri à Justiça. Em uma delas, entrei com uma ação trabalhista, alegando vínculo empregatício pela constância no trabalho. O advogado estruturou a defesa para tentar forçar a empresa a me reativar ou, pelo menos, pagar uma indenização. Na outra vez, entrei com uma ação especificamente para contestar o bloqueio e justificar por que ele era injusto.

A verdade é que, sim, muitas vezes as empresas bloqueiam motoristas de forma injusta. Entre os motoristas com notas baixas, certamente há aqueles que serão desligados por erro dos algoritmos. E pior: também há muitos motoristas com excelente histórico, milhares de corridas e nota alta que são bloqueados por denúncias falsas de passageiros. Isso acontece porque a plataforma confere um poder muito grande ao passageiro, que pode fazer qualquer tipo de alegação. Por isso, se você acredita que foi injustiçado, procure um advogado. A Justiça pode reverter a situação.

Infelizmente, muitos motoristas ainda enxergam esse trabalho como um bico, sem o devido comprometimento com o atendimento. Assim como há passageiros problemáticos, há também motoristas que tratam mal quem está pagando pelo serviço. É nesse contexto que as plataformas tentam melhorar a experiência do usuário para não perder clientes.

Imagine um motorista com nota baixa que atende 20 passageiros por dia de forma inadequada. Isso representa 20 experiências ruins, que podem levar essas pessoas a buscar outras plataformas. Por isso a 99 está agindo — e não duvido que a Uber adote a mesma medida no futuro. Antigamente, a nota de corte já foi 4.6.

Muitos perguntam por que a 99 não adota o mesmo critério com os passageiros, já que alguns têm notas inferiores a 3.7. A resposta é simples: o passageiro ruim ainda gera lucro para a plataforma. Quem sofre é o motorista. E a 99, assim como outras empresas, está mais preocupada com o faturamento do que com a justiça da relação.

Então, cabe ao motorista avaliar mal os passageiros ruins e registrar os motivos. Embora seja difícil que um passageiro seja bloqueado, essa atitude pode ajudar. Por outro lado, é muito mais fácil a plataforma bloquear o motorista, especialmente se isso evitar que passageiros bons abandonem o app.

No fim das contas, se o motorista tem nota baixa e está prestando um atendimento ruim, ele vai acabar sendo desligado. A 99 deixou claro: a partir de junho, motoristas com nota inferior a 4.5 serão bloqueados. A orientação é prestar um bom atendimento e, caso já tenha sido bloqueado, procurar a Justiça.

Enquanto isso, vale buscar alternativas. Cadastrar-se em plataformas de entrega como Lalamove ou Mercado Livre pode ser uma saída temporária. Se tiver conta na Uber ou na inDrive, o impacto será menor. Mas se depender apenas da 99, o cenário é difícil. Por isso, busque outras opções e, principalmente, não aceite ser tratado como apenas um número.

Se você acredita que foi bloqueado injustamente, não deixe isso passar. Lute pelos seus direitos.

E para mais informações, continue acompanhando o Portal 55Content. Até a próxima!

Foto de Daniel Piccinato
Daniel Piccinato

Daniel começou a trabalhar como motorista de aplicativos em 2016, buscando maior estabilidade após sentir insegurança na empresa onde estava. Inspirado por conversas com o filho do dono, ele logo se uniu a outros motoristas em um grupo de WhatsApp, onde trocava dicas para melhorar seu desempenho. Em 2018, criou um canal no YouTube para compartilhar orientações sobre horários e estratégias de trabalho. Com o sucesso, expandiu para o Instagram em 2020, continuando a ajudar motoristas ao compartilhar sua experiência.

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