O motorista de aplicativo e influenciador digital Cláudio Sena contestou os dados apresentados pelo Cebrap sobre a renda e as horas de trabalho da categoria, durante a audiência pública realizada na última quarta-feira (8) pela Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados.
Motorista desde o primeiro dia de operação da Uber na Bahia, Sena afirmou que os números que apontam ganho médio de R$ 47 por hora e 21 horas de trabalho semanais “não correspondem à realidade” enfrentada pelos profissionais que vivem da atividade.
“Esses números consideram apenas o que é interesse da Uber — a hora de viagem. Mas o motorista liga o aplicativo às quatro da manhã e pode passar 11 horas rodando. A Uber só contabiliza o tempo de corrida, enquanto usa os dados do motorista em benefício próprio, sem pagar nada por isso”, disse.
Cláudio Sena expõe a discrepância entre as estatísticas e o dia a dia nas ruas
Sena relatou que acompanha de perto a rotina dos colegas desde o início do setor, inclusive nas lutas pela regulamentação em 2017, quando ainda não existiam associações ou sindicatos estruturados. Ele afirmou que o levantamento do Cebrap ignora o tempo total de espera e deslocamento, além de mascarar a carga real de trabalho.
“O motorista liga o app de madrugada e só desliga à noite. No fim, o sistema mostra 7 ou 8 horas de trabalho, mas ele ficou o dia todo à disposição da plataforma. A Uber coleta esses dados o tempo todo e comercializa com parceiros — e o motorista não recebe nada por isso”, criticou.
O influenciador, que se tornou uma das vozes mais conhecidas da categoria nas redes sociais, também disse que pretende divulgar e comentar publicamente os números do estudo, apontando o que considera distorções entre a pesquisa e a realidade.
Cláudio Sena critica a aliança entre sindicatos e plataformas
Durante a audiência, Sena acusou sindicatos e entidades autointituladas representativas de estarem alinhados às plataformas, e não aos motoristas. Segundo ele, o projeto anterior de regulamentação (PLP 12/2024) foi elaborado em conjunto com a Uber e teria prejudicado a categoria.
“Ao contrário do que se pensa, muitos desses sindicatos estão aliados à Uber. Aquele projeto foi escrito por eles e pelo governo, e teria empoderado ainda mais as plataformas. Foi a mobilização dos motoristas e influenciadores que impediu sua aprovação”, afirmou.
Cláudio Sena defende autonomia, mas pede segurança jurídica e respeito
O motorista afirmou que 95% dos profissionais consultados em uma enquete da Câmara disseram não querer vínculo CLT, mas isso não significa que desejam continuar desprotegidos. Segundo ele, os motoristas querem autonomia com segurança jurídica, e não a total dependência das regras impostas pela Uber.
“O motorista quer autonomia, quer ligar o aplicativo quando quiser. O que ele não quer é CLT e sindicato que fale por ele, mas também não quer ser refém da Uber”, disse.
Sena elogiou os debates conduzidos pela frente parlamentar e destacou propostas que retiram o poder absoluto das plataformas sem precisar transformar motoristas em empregados formais.
“Basta que a tarifa não seja definida unilateralmente pela Uber. O custo é nosso — do motorista. O carro é nosso, o combustível é nosso, a manutenção é nossa. E ainda assim é ela quem decide quanto a gente ganha”, afirmou.
Cláudio Sena denuncia queda de ganhos e bloqueios arbitrários
O motorista relatou que os ganhos da categoria despencaram desde 2016, enquanto o preço cobrado ao passageiro aumentou. Ele explicou que a Uber eliminou o fator multiplicador de tarifa dinâmica, que antes elevava a remuneração em horários de alta demanda.
“Hoje a Uber cobra R$ 100 do passageiro e o motorista fica com 30 ou 40. Ela tirou o fator multiplicador e não dá transparência. A gente não tem acesso a essas informações nem poder de decisão”, denunciou.
Sena contou ainda o caso de um colega que foi bloqueado da plataforma sem explicação, mesmo tendo comprado um carro novo e assumido 48 parcelas.
“O motorista foi excluído porque a Uber acreditou em uma denúncia sem investigar. Agora ele está desempregado e endividado. Isso é desumano”, relatou.
Cláudio Sena pede respeito e transparência
Ao concluir sua fala, Sena defendeu que os motoristas sejam reconhecidos como parceiros autônomos, mas com proteção e dignidade. Ele declarou que não se opõe a contribuir com a Previdência, mas pediu que as plataformas assumam responsabilidade social e parem de impor um regime de exploração disfarçado de liberdade.
“A Previdência é patrimônio do Brasil, não do governo. Nós queremos contribuir, mas com respeito. O que não dá é para continuar num regime semi-escravocrata, em que a Uber decide tudo sozinha”, afirmou.
O influenciador disse confiar no trabalho da Comissão de Trabalho e pediu que o Parlamento garanta segurança jurídica e um mínimo de dignidade para a categoria.
“Confio que essa comissão vai nos dar o que precisamos: respeito, transparência e o direito de trabalhar com autonomia de verdade”, concluiu.