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“Trabalho 12 horas por dia e ganho menos do que há 5 anos atrás, quando trabalhava 8 horas”, diz motorista de app

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Motorista
Motorista de app Silas
Motorista de app Silas

Motorista diz que a remuneração deveria ser proporcional à quilometragem e ao tempo gasto: “70% de uma corrida ainda é abaixo do que ele deveria ganhar.”

Na última sexta-feira (21), durante uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) para discutir a regulamentação do trabalho dos motoristas de aplicativos, a voz de Silas, motorista há cinco anos, destacou-se ao relatar os desafios enfrentados pela categoria. Em seu discurso, Silas abordou temas como a taxa de intermediação, segurança e autoestima dos motoristas, além de questionar a viabilidade de uma remuneração justa.

“Amigos, vocês estão falando bastante sobre a taxa de intermediação entre as empresas, toda a questão da segurança e autoestima do motorista. Só que eu vou contar uma história bem breve. Sou motorista de app há 5 anos. Há 5 anos, eu trabalhava 8 horas por dia para ganhar um pouco mais do que ganho hoje, e hoje trabalho 12 horas por dia para ganhar um pouco menos do que ganhava há 5 anos”, iniciou Silas, elucidando a deterioração das condições de trabalho ao longo dos anos.

A variação nos ganhos dos motoristas, segundo Silas, é um dos maiores problemas enfrentados atualmente. “Hoje, as plataformas estão cobrando o máximo que podem do passageiro ou o mínimo. Esse valor está muito variável, e não temos uma segurança sobre o que é justo receber. Por exemplo, uma hora trabalhada em uma região tem um custo diferente para o motorista do que uma hora trabalhada em outra região”, explicou. 

Silas também destacou a importância de uma remuneração que considere tanto a quilometragem quanto o tempo gasto nas corridas. “O que eu penso sobre isso? Eu escolho corridas que me pagam o justo pela quilometragem e pelo tempo que vou gastar para fazer aquela corrida.”

Ele ilustrou a necessidade de uma remuneração mais justa com um exemplo prático. “Vou explicar isso: se a plataforma definir uma corrida justa de 50 km por 100 reais para o motorista e decidir cobrar 100 reais do passageiro, ela vai tirar os 30% dela, que seria o teto que o senhor permitiu, mas vai pagar 70% ao motorista, que ainda é abaixo do que ele deveria ganhar. Então, só o percentual, para mim, ainda é um tanto perigoso.”

Por fim, Silas questionou a viabilidade de uma regulamentação mais equitativa para o deputado Augusto Coutinho. “Gostaria de saber do senhor qual é a viabilidade de conseguirmos ser remunerados pela quilometragem e pelo tempo rodado”, concluiu, deixando no ar uma pergunta crucial para o futuro da categoria.

Respondendo às questões levantadas por Silas, o deputado Augusto Coutinho reconheceu as dificuldades envolvidas na criação de uma regulamentação única que funcione em todo o país. “É muito complicado, pelas diferenças do Brasil. A plataforma, na minha avaliação, sempre vai cobrar o máximo que o passageiro pode pagar. O algoritmo sempre vai cobrar. Uma vez, na Câmara dos Deputados, haviam três pessoas, e pedimos uma corrida pela plataforma para o aeroporto, e houve uma diferença de 10 reais. Veja, como é que pode? Teve um caso no Rio de Janeiro, onde duas pessoas na Rocinha pediram uma corrida para a Lagoa e houve uma diferença de 30 reais.” 

“A plataforma sempre vai cobrar mais, então você vai estar junto com ela. Por que ela cobraria menos? Por que faria uma corrida mais barata? Aí entra a transparência. Com a transparência, você terá mais tempo para decidir se aceita ou não a corrida, e a lei diz que ele não pode lhe penalizar se você não aceitar. Está tudo previsto. Se eu mudar para a quilometragem, eu mudo a lógica do projeto inteiro. É muito complicado apurar isso em diversos lugares do Brasil. O quilômetro rodado em São Paulo é diferente do quilômetro rodado em Recife, no Amapá, em Roraima, entendeu? Então, se a gente faz isso junto, é a lógica mais inteligente ao meu ver e resolve o problema”, completa o deputado Coutinho. 

Complementando a discussão, o deputado Vitor Lippi esclareceu sobre a necessidade de transparência nas plataformas. “Na verdade, acho que o que o deputado está explicando é que, com essa transparência que será exigida, o que significa? Porque hoje, a reclamação que eu tenho ouvido é a seguinte: Deputado, eu não sei quanto o passageiro está pagando e eu não sei quanto eu vou receber, certo? Então, essa transparência vai ter um limite na plataforma e você vai saber. Ou seja, se ele cobrar mais, você vai ganhar mais também. Porque hoje pode ser que ele cobre a mais, e aí, exatamente, a intermediação dele, em vez de ser 30%, vai para 60%. Aí você não ganha mais. Ela ganha mais e não você. Se você amarrar essas duas coisas… de certa forma, quando a plataforma ganha mais, você ganha mais também. Eu acho que dá pra resolver assim.”

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Redação 55content

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