Fundada no interior de São Paulo por Matheus Gileno e Wagner Ferreira, a Del Match Delivery se tornou, em poucos anos, uma referência entre os aplicativos regionais de entrega. Matheus e Wagner eram proprietários de uma pizzaria, mas enfrentavam desafios logísticos e resolveram abrir a própria plataforma de entrega. Com um modelo de expansão baseado em franquias e foco total na eficiência logística, a empresa já opera em mais de dez cidades e tem planos de crescimento para os próximos meses.
A trajetória e os bastidores dessa expansão foram tema de uma conversa no evento semanal do Clube Machine, que reúne CEOs de aplicativos regionais de transporte de passageiros para debater os desafios e inovações do setor. Este foi o primeiro evento dedicado a um app regional de delivery, refletindo o crescimento e a relevância desse tipo de operação no ecossistema de mobilidade e logística local.
Além dos fundadores Matheus Gileno e Wagner Ferreira, participou também da entrevista, o franqueado Matheus Dêgelo, que comanda a operação em Bauru. Juntos, eles falaram sobre os aprendizados na relação com motoboys, as limitações dos marketplaces, o papel da tecnologia no crescimento e o que esperam do futuro da Del Match no cenário nacional.
Matheus Gileno, queria que você começasse contando um pouco da trajetória de vocês, porque começaram de uma forma um pouco diferente. Você tinha uma pizzaria, não era?
Matheus Gileno: Exato. O Wagner e eu tínhamos uma pizzaria aqui na cidade de Araraquara. Mas, antes da pizzaria, já havíamos trabalhado juntos no setor de bebidas, o Wagner por 13 anos, eu por 15, na mesma empresa. Passamos por vários setores lá. Em determinado momento, nós dois quisemos empreender, ter um negócio próprio, e daí surgiu a ideia da pizzaria.
Na pizzaria, estávamos fazendo um trabalho bem legal. O volume de pedidos era alto, fazíamos ações diferentes e sabíamos que estávamos fazendo a coisa acontecer. Mas onde a gente enroscava e não conseguia entregar a qualidade que queríamos era justamente na entrega.
O marketing era bom, o produto nem se fala, modéstia à parte, era excelente, tínhamos um processo muito bem estruturado. Mas na hora da entrega, com o aumento do volume, começavam os atrasos. E por quê? Porque errávamos na quantidade de entregadores convidados para trabalhar. Muitos eram freelancers e havia erros na contratação.
Hoje, esse setor, salvo raríssimas exceções, não trabalha com funcionários fixos. O entregador é um autônomo, um freelancer. Você faz um acordo por alguns dias e ele trabalha contigo. Tinha dia que chamávamos cinco entregadores e só apareciam três, mesmo com alta demanda. Em outros dias, os cinco vinham, mas ficavam presos com muitas entregas acumuladas. Às vezes, uma entrega que deveria ser rápida demorava muito para ser concluída, e isso gerava um gargalo enorme.
Foi aí que começamos a buscar tecnologia, não com o objetivo de abrir uma empresa de entregas, mas para melhorar a nossa própria gestão. Queríamos saber onde o motoboy estava no momento da entrega. Quando o cliente ligasse perguntando se ia demorar, não queríamos dizer apenas: “O entregador já saiu”, que é o padrão. Queríamos dizer: “Ele está passando pela rua tal e já está chegando”. Queríamos essa evolução no atendimento ao cliente.
Começamos a pesquisar e encontrar algumas ferramentas no mercado, o que nos deu ideias para aplicar dentro do nosso próprio negócio. Passamos a compartilhar essas ideias com empresários amigos da região, e todos gostaram muito do que estávamos projetando. Aos poucos, entendemos que essa era uma dor generalizada na cidade, e que poderíamos ajudar muita gente com aquilo que estávamos desenvolvendo. Foi então que decidimos transformar a Del Match, de fato, em um negócio.
Resumindo a história: em maio de 2021 realizamos a nossa primeira entrega. Em dezembro do mesmo ano, já precisávamos vender a pizzaria, porque o crescimento da Del Match estava tão grande que não dava mais para manter os dois negócios.
Wagner, quando o Matheus fala desses problemas na época da pizzaria, você consegue lembrar de uma situação específica que te marcou, que te fez pensar: “Cara, a gente precisa fazer alguma coisa ou o negócio não vai andar”?
Wagner Ferreira: Sim, aconteceram vários episódios marcantes. Passamos por muitos perrengues. Um exemplo clássico é o dia de chuva, de frio, que para o delivery são dias excelentes de demanda.
Quantas vezes não vivemos dias assim, tentando encontrar formas de atender bem o cliente final, o consumidor da pizzaria? Passamos por diversos problemas, que acabaram se transformando em aprendizado e virando ferramentas fundamentais para o crescimento e desenvolvimento da Del Match Delivery.
Matheus Dêgelo, queria que você se apresentasse um pouco e dissesse qual é o seu papel hoje dentro da Del Match.
Matheus Dêgelo: Hoje sou franqueado da Del Match, responsável pela unidade na cidade de Bauru. A Del Match começou resolvendo um problema meu. Sempre falo que uma boa empresa é aquela que vende algo que já usou. Assim como eles começaram a usar a solução no próprio negócio, eu era cliente da Del Match.
Fui cliente por mais de um ano em Araraquara. Quando cheguei lá, quis tirar minha logística do marketplace e procurei uma solução. Conheci o Matheus, que resolveu meu problema de logística.
Sempre falo para os nossos clientes: a gente não resolve o problema de entrega em si, porque esse sempre vai existir, mas o problema logístico a gente resolve. Eles resolveram o meu problema, e eu gostei tanto da solução que percebi que em Bauru não existia algo semelhante. Pensei: “Já que resolveram o meu problema, por que não levar essa ideia para a minha cidade?”.
Marquei um café com o Matheus, me coloquei à disposição para trazer a ideia para Bauru e, felizmente, eles acreditaram em mim. Trouxe a franquia para Bauru e, graças a Deus, em seis meses já tivemos um crescimento absurdo, ajudando a resolver os problemas de outros empreendedores também.
Vocês falaram sobre o problema com entregas, e isso me lembrou muito o setor de mobilidade, que sempre fala sobre engajamento de motoristas. Como é isso na parte de entregas? É um desafio manter o entregador engajado? Como vocês trabalham isso?
Matheus Gileno: Esse sempre vai ser um desafio. No entanto, na Del Match, durante o início da operação de uma cidade, e hoje somos uma franqueadora, levando a marca para outras regiões, como é o caso do Matheus em Bauru, um dos maiores desafios, ou até o maior, é o engajamento com os motoboys.
Por quê? Porque em praticamente todas as plataformas o motoboy é tratado como um prestador de serviço. Isso faz parte do mercado, é comum. Mas na Del Match é diferente: ele é nosso cliente.
Temos uma estratégia e uma abordagem em que o entregador é tratado como cliente. Nos primeiros cinco ou seis meses da operação, os entregadores ainda não entenderam isso completamente. Mas a partir do sexto mês, eles começam a perceber esse tratamento diferenciado, e é aí que o engajamento se torna muito mais forte. Costumo dizer que aquilo que era nosso maior desafio acaba virando nosso maior trunfo.
Hoje, nas cidades onde temos maior volume de entregas, como Bauru, Araraquara e São Carlos, que estão mais consolidadas, quem mais nos traz estabelecimentos parceiros e novos volumes são os próprios motoboys.
Quando um motoboy recebe convite para trabalhar como freelancer em algum lugar, ele responde: “Não, se cadastra aqui no aplicativo da Del Match. O pessoal do comercial vai entrar em contato com você, e eu te atendo pelo app”. Isso mostra a criação de uma cultura forte entre eles.
Para alcançar esse nível de engajamento, temos várias ações. Começando pelo básico: o seguro oferecido ao motoboy. Ele é obrigatório por lei, mas o que a Del Match oferece vai além do mínimo. O seguro patrocinado por nós não tem custo para o entregador e cobre afastamento e até medicamentos. Se o motoboy, por exemplo, sofrer uma queda e tiver dores, o seguro cobre os remédios receitados. Esse tipo de benefício é muito valorizado por eles.
Além disso, temos um recurso dentro do aplicativo chamado Del Benefícios. Tudo o que representa uma “dor” para o motoboy vira pontuação. Mas o que seriam essas dores? Coisas como deslocamentos muito longos para buscar uma entrega ou ter que voltar ao estabelecimento só para devolver uma maquininha, entre outras. Tudo isso gera pontos que podem ser trocados por prêmios, desde vouchers em dinheiro até bag personalizada, celular, entre outros itens.
Se você visitar nosso Instagram, verá que já entregamos celulares recentemente e, em dezembro do ano passado, entregamos uma moto zero km conquistada por meio do sistema de pontuação do app.
E ainda tem mais: quando um motoboy indica um novo estabelecimento comercial, ele recebe uma bonificação. Se indicar outro motoboy, recebe outra bonificação. No fim das contas, quando ele coloca tudo na ponta do lápis, ele conclui que vale muito mais a pena ficar com a gente. E é assim que conseguimos mantê-los na Del Match por longo prazo.
Como é a relação de vocês com os grandes marketplaces?
Lembro que quando começamos a trabalhar com essa parte de entregas, uma das primeiras pessoas com quem conversei foi a Bruna, da Juma. Na época, eu ainda vinha muito com a cabeça voltada para o setor de mobilidade, então o iFood me parecia um grande concorrente e de certa forma, ele realmente é.
Mas lembro que a Bruna tinha uma visão diferente, enxergando o iFood também como um parceiro, por conta da geração de demanda. Queria que vocês explicassem um pouco o que isso significa e como é a relação de vocês com os marketplaces.
Matheus Gileno: O marketplace, seja iFood, 99 ou outras plataformas que estão chegando agora, é visto por nós com bons olhos.
Isso porque o foco deles é o consumidor final. Todo o trabalho desenvolvido por essas empresas é para atingir diretamente o cliente. Já a Del Match, assim como a Juma, que você mencionou e que também faz um excelente trabalho, não tem foco no B2C (Business to Consumer), mas sim no B2B (Business to Business). Nosso objetivo é solucionar problemas das empresas para que elas vendam e entreguem melhor, focando no relacionamento com seus consumidores.
Nas cidades em que atuamos, posso afirmar com tranquilidade que ajudamos o iFood a vender mais. Por quê? Porque a tecnologia que oferecemos para logística é tão boa e, em muitos casos, até melhor do que a deles. Pensando do ponto de vista do lojista, do vendedor, a gente oferece muitos benefícios, além de um tempo de entrega muito competitivo.
Em Araraquara, por exemplo, nosso tempo médio de conclusão de rota é de 18 minutos. Isso significa que, desde o momento em que a moto é acionada até a entrega na casa do cliente, são cerca de 18 minutos. Se pensarmos que uma pizzaria leva 10 minutos para fazer uma pizza, em 28 minutos o pedido já está com o consumidor.
E o tempo é o principal critério para o sucesso de um delivery. Se conseguimos entregar rápido, o marketplace vende mais. E o comerciante que usa a nossa plataforma para fazer entregas, tanto dos pedidos vindos do iFood quanto dos próprios canais de venda, também se beneficia.
Temos ferramentas que ajudam o estabelecimento a vender fora do marketplace, tudo concentrado na nossa tecnologia.
Além disso, temos nosso próprio cardápio digital, com atendimento por inteligência artificial via WhatsApp. Lançamos campanhas de marketing automatizadas direto no WhatsApp do consumidor. Isso fortalece o papel do dono do estabelecimento fora dos marketplaces, fazendo com que ele recupere protagonismo no relacionamento com o cliente.
No fim das contas, o que oferecemos hoje aos estabelecimentos é exatamente o que o Wagner e eu gostaríamos de ter tido quatro anos atrás: poder focar na estratégia de venda, na produção, e contar com ferramentas que facilitam todo o processo até a entrega.
E como é esse contato com os estabelecimentos? Porque, para alguém leigo, pode parecer estranho. A pessoa pode pensar: “Pô, mas já existe o iFood…”. Queria que explicassem por que ainda assim vale a pena continuar vendendo pelo iFood, mas entregar com uma empresa como a de vocês. Como é feito esse discurso de venda?
Matheus Gileno: Normalmente, o marketplace oferece pacotes de serviços. Não só o iFood, mas também Shopee, Mercado Livre, entre outros. O serviço mais básico é: o comerciante entra na plataforma, cadastra sua loja, seus produtos, e o marketplace ajuda a vender. Isso é o mínimo. A partir daí, ele pode optar por contratar ou não a logística do marketplace.
Se não contratar, ele precisa cuidar da entrega por conta própria, seja com motoboys próprios ou com uma empresa terceirizada.
O que a Del Match faz, especialmente no caso do iFood, é oferecer uma alternativa para essa logística. Vamos usar como exemplo o setor de açaí, que tem alto volume de pedidos e tem migrado bastante da logística do iFood para empresas como a nossa.
Muitas vezes, o dono da açaiteria está sozinho, ou com um único ajudante. Ele não tem tempo para contratar motoboys, responder clientes no WhatsApp ou gerenciar logística. Por isso, ele contrata o serviço completo do iFood, que é automatizado: o pedido chega, imprime a comanda, ele prepara, e logo vem o motoboy pegar.
Quando ele migra para a Del Match, ele tem a mesma automação: o pedido chega, imprime, o motoboy aparece. A grande diferença está no custo.
Com o marketplace, ele deixa, em média, 30% da venda como comissão. Então, em uma venda de R$ 100, R$ 30 ficam com o iFood. Quando ele contrata a logística de uma empresa como a Del Match, esse valor cai para cerca de 12%.
Essa economia, no caso de pequenos empreendedores, que muitas vezes trabalham com um familiar, é o que faz a diferença. Com essa margem a mais, ele consegue, por exemplo, contratar mais uma pessoa e melhorar sua operação interna. Estamos falando de algo que, de fato, transforma o negócio dele.
Matheus, como está o funcionamento da Del Match em Bauru? Há quanto tempo vocês estão operando? E como é a sua relação com os marketplaces na cidade?
Matheus Dêgelo: Bom, assim como o Matheus comentou antes, eu tirei minha logística do iFood quando ainda era cliente, buscando maior liquidez. Esse é o principal argumento, de fato. Mas o que sempre digo aos meus clientes é que a Del Match é uma ferramenta de logística, e não só para o iFood.
O comerciante vende pelo iFood, mas também recebe pedidos via WhatsApp, ligação, cardápio digital, seja o nosso ou outro qualquer. A gente consegue centralizar todas essas fontes de pedidos e fazer a entrega para ele, independente da origem.
Assim, ele deixa de ser dependente do marketplace e passa a ter uma ferramenta própria, com liberdade para vender por onde quiser. Muitos, depois que percebem isso, começam a investir em tráfego para o cardápio digital ou WhatsApp, porque agora sabem que têm uma solução logística eficiente.
Aqui em Bauru, chegamos em novembro. Faz pouco mais de seis meses. Minha meta era conquistar 50 empresas até maio. Hoje estamos com quase 130 empresas, quase o triplo da meta. Isso foi resultado de muito trabalho de conscientização e, principalmente, de desconstruir a ideia de que marketplace é sinônimo de logística. O foco do iFood é vender. O nosso foco é logística.
Costumo usar o seguinte argumento com os clientes: pergunto se eles têm um sistema de caixa. Normalmente, respondem que sim. Então eu digo: “Imagina se você anotasse o valor no papel e guardasse o dinheiro numa caixa registradora física. Não faz mais sentido, certo?”. E é a mesma lógica com logística.
Muitos ainda lidam com motoboys fixos, que não têm seguro, não há rastreio, fazem pagamento por Pix individual, anotam entrega no papel. Isso consome tempo e deixa o empresário cego quanto ao andamento das entregas. A Del Match oferece tecnologia aliada à operação física, resolvendo esse problema de ponta a ponta.
Costumo dizer: dou ao cliente o sistema necessário para aumentar as vendas com segurança, seja com duas ou duzentas entregas por dia.
Os outros franqueados ou empresários da rede também vêm desse setor, por terem vivido as mesmas dores? Ou foi coincidência?
Matheus Gileno: É até engraçado isso. Respondendo de duas formas: o nosso público-alvo ideal de franqueado hoje não é necessariamente dono de restaurante.
O franqueado ideal da Del Match é aquele profissional CLT que quer migrar para o empreendedorismo. Alguém com baixo capital disponível, mas com muita vontade de mudar de vida, disposto a agarrar a oportunidade com unhas e dentes. Esse é o perfil que buscamos.
Mas, na prática, temos de tudo. Por exemplo, o Matheus Dêgelo era nosso cliente, tinha uma franquia em outro segmento. Um dia, sentamos para tomar um café com ele e a mãe dele na loja. Batemos um papo, ele conheceu melhor os bastidores da Del Match e levou a franquia para Bauru.
Temos também um franqueado em São Carlos que já era empreendedor, dono de uma empresa de motoboys. Ele entendeu que o que a Del Match oferecia era mais completo que sua operação anterior. Transformou sua empresa na nossa franquia e hoje fatura mais de 10 vezes do que antes.
Temos também uma franquia em Divinópolis, Minas Gerais. Não estávamos nem prospectando franqueados na região. Mas os sócios Wesley e Darlon, donos de pizzaria, estavam indo para um parque aquático na região, passaram por uma cidade onde tínhamos anúncios, nos conheceram, vieram até aqui, almoçaram com a gente e se tornaram franqueados.
Também temos três franqueados que migraram diretamente do CLT. Compraram a franquia, pediram demissão e hoje operam o negócio em tempo integral, com ótimos resultados.
Hoje, com apenas quatro anos de existência e apenas um ano desde o início da expansão, já estamos em 11 cidades. Entre a semana passada e esta, iniciamos operações em mais quatro cidades.
Ver nosso negócio crescer junto de pessoas que compartilham dos mesmos valores e propósito é extremamente gratificante.
Você mencionou algo que me lembrou muito os exemplos do setor de mobilidade. Sempre que falamos de motoristas que começam a usar aplicativos, vemos que é porque estão vivendo a dor do dia a dia. Acho que, no caso dos gestores, dos donos de restaurantes que decidem criar um app de entregas, acontece algo semelhante. São pessoas que vivem o problema e enxergam ali a solução.
Matheus Gileno: Exatamente. É o cara que está vivenciando aquilo. Assim como no caso do motorista de aplicativo, ele vive o problema e pensa: “Vou resolver o meu e, de quebra, o de outras pessoas também”. E, de fato, acaba conseguindo.
Também houve a parceria do iFood com a Uber. Como você enxerga essas movimentações, Wagner? O que acredita que isso trará para o futuro?
Wagner Ferreira: O movimento é grande e global. Na semana passada, por exemplo, tivemos reuniões com representantes do Mercado Livre, que está com uma dor logística enorme, têm prédios gigantescos e dificuldade em fazer as entregas chegarem ao cliente.
Com a chegada de novos marketplaces, a Del Match já enxerga um grande potencial de parceria. Nosso foco é a logística, e vemos espaço para atuar além do setor de food. Estamos em conversas com empresários de diversos segmentos — pet shops, e-commerces, entre outros. Nosso crescimento para 11 cidades abre ainda mais portas, e acredito que em breve vocês vão ouvir falar da Del Match Delivery em muitos outros lugares.
O Ramon comentou que a parte mais difícil é conseguir falar com os proprietários para apresentar a plataforma. Vocês também passam por isso? E o que fazem para contornar essa dificuldade?
Matheus Dêgelo: Com certeza. Quando comecei a franquia, o Matheus me disse que isso aconteceria e que melhoraria por volta do sexto mês. E foi exatamente o que aconteceu.
Cada cidade é diferente. Aqui em Bauru, fizemos um estudo detalhado sobre como entrar no mercado: taxa mínima, taxa de retorno, etc. Mas a maior barreira mesmo é a confiança inicial. É como oferecer uma nova marca de energético que ninguém conhece, mesmo que seja melhor e mais barato, o consumidor vai preferir o Red Bull.
A Del Match é assim. Quando você chega para se apresentar, muitas vezes o dono nem está na loja. E mesmo quando está, ele mal entende o que o próprio iFood oferece.
Nos primeiros meses, é visita em cima de visita. Você vê um estabelecimento que faz entrega, para, conversa, mostra o que faz. Pode parecer que não teve retorno, mas quando o comerciante tiver um problema com a entrega, ele vai lembrar de você.
Hoje, com seis meses, já chegamos a quase 130 clientes e 900 motoboys cadastrados. Agora já temos solicitações espontâneas na plataforma. A marca começa a ser reconhecida, as pessoas já identificam as bags laranjas, falam que já ouviram falar.
Matheus Gileno: O segredo é continuar. Quando estamos vendendo qualquer coisa, não só logística, só temos uma certeza: o “não”. Nosso trabalho é perseguir o “sim”.
O pessoal do app Vai Vem perguntou como vocês fazem para atrair motoboys, especialmente os que trabalham fixos em estabelecimentos. Há uma estratégia para convencê-los a migrar para a plataforma?
Matheus Gileno: Isso envolve vários fatores. Primeiro, é essencial mudar a forma como o motoboy é encarado. Se você o trata apenas como alguém que presta serviço para uma pizzaria, tentando convencê-lo a deixar essa relação para prestar serviço para você, não vai funcionar. Pode até gerar uma conversão inicial, mas não haverá retenção.
Agora, se você o trata como um cliente seu, tudo muda. A pergunta é: o que posso fazer para conquistar e reter esse cliente? São fases distintas, e a retenção é a mais importante.
Não há receita de bolo. O que funciona em Bauru pode não funcionar em Hortolândia ou Jaboticabal. É por isso que, antes de começar a operação ou mesmo a prospecção de um franqueado em uma região, fazemos uma pesquisa de mercado intensa.
E quando falamos de mercado, não é só do lado do comerciante, mas também do motoboy. Avaliamos se o nosso modelo, nossa abordagem, nossa tecnologia e benefícios fazem sentido naquela região.
Se a resposta for sim, seguimos. E, ao tratar o motoboy como cliente, buscamos conquistá-lo, retê-lo e mantê-lo conosco. Isso é o que realmente sustenta o crescimento da Del Match.
Como é feita a precificação dos ganhos dos motoboys na Del Match?
Matheus Gileno: A gente parte de uma base que não pode ser ignorada: o quanto ele ganha no iFood. Por ser o líder de mercado, é a referência nacional. Mas, além disso, também fazemos uma pesquisa de mercado para entender quanto ele ganha trabalhando fora do iFood. A partir disso, buscamos um meio-termo.
Se estou dizendo que o estabelecimento é meu cliente e o motoboy também, sou o intermediador entre os dois. Preciso encontrar um ponto de equilíbrio que seja competitivo para o estabelecimento e rentável para o motoboy. Quando alcançamos essa equação, o negócio funciona.
Vocês se lembram de algum motoboy que teve um desempenho muito fora da curva? E qual é a média de ganhos normalmente?
Matheus Gileno: Tem uns verdadeiros “magos” por aqui! A gente brinca que devem usar um portal, porque aparecem com entregas feitas de forma inacreditável. Em dezembro do ano passado, por exemplo, tivemos entregadores que tiraram R$ 11 a R$ 12 mil no mês. Mas eram caras que trabalhavam das 7h da manhã até as 22h ou mais, todos os dias.
Na média, os motoboys que vivem de entrega (8 a 10 horas por dia) faturam entre R$ 1.200 e R$ 1.500 por semana, ou seja, de R$ 4.000 a R$ 6.000 por mês. Já quem atua em tempo parcial, nos picos de almoço e jantar, faz em torno de R$ 100 a R$ 120 por dia.
Como os estabelecimentos tratam entregas pendentes? Vocês dão algum respaldo?
Matheus Gileno: A gente se posiciona como intermediador e trabalha para se antecipar aos problemas. Um exemplo clássico é o tempo de chuva. Muita gente acha que o problema é falta de motoboys, mas não é. É queda de produtividade.
Em clima seco, um motoboy faz em média 4 entregas por hora. Com chuva, esse número cai para 1.8, menos da metade. E, nesse cenário, a demanda aumenta, porque as pessoas não querem sair de casa.
A solução é antecipar o problema. A gente monitora as entregas programadas e o número de entregadores online. Quando percebemos que o sistema pode não suportar a demanda, avisamos os estabelecimentos: “Sobe o tempo de entrega”. Isso evita frustrações.
O maior problema da pendência é prometer e não cumprir. É melhor avisar antes do que ficar com vergonha depois.
Os donos de estabelecimentos muitas vezes estão condicionados pelo ranqueamento do iFood. Lá, se você abaixa o tempo de entrega, aparece melhor no ranking. Só que isso gera uma venda “podre”, porque o cliente recebe atrasado, avalia mal, e o ranking despenca.
É nossa responsabilidade mostrar isso para o lojista. Se a média na chuva é 45-50 minutos, temos que ser transparentes. Entregar nesse prazo em dia de pagamento e com chuva ainda é um excelente desempenho. É melhor prometer o possível e cumprir.
Matheus Dêgelo: O iFood, por ter sido pioneiro, moldou o comportamento de clientes, estabelecimentos e motoboys. Criou uma cultura de reembolso muito simplória. Há clientes que vivem de pedir cancelamento quando o prazo estourou em um minuto.
O iFood também criou uma psicologia de pontuação, cancelamento, score e “obrigatoriedade” de resposta rápida — o que gerou a falsa ideia de que o entregador está sempre disponível.
Mas precisamos lembrar: os motoboys são autônomos. Eles não têm obrigação de ligar o app. Depender de logística por nuvem envolve bônus e ônus: você não tem vínculo trabalhista, mas depende da disposição do motoboy.
A Del Match é, até onde conheço, a única plataforma que oferece dedicação exclusiva com segurança. Temos motoboys preferenciais, escalas programadas e possibilidade de entregadores fixos para os estabelecimentos que demandam alto desempenho.
Matheus Dêgelo: Essa mudança de cultura é essencial, principalmente em dias de chuva. Muitos estabelecimentos ficam desesperados, achando que o entregador tem a obrigação de atender na hora. Isso foi uma expectativa criada por anos de hegemonia do iFood.
Quando você usa autônomos, precisa ter consciência disso. Na Del Match, oferecemos soluções como dedicados e preferenciais para minimizar essas lacunas. Mas é fundamental entender: o bônus da liberdade vem com o ônus da imprevisibilidade.
Queria saber o que você está pensando para o futuro, tanto do mercado quanto da Del Match na sua cidade. Para onde quer caminhar? Quais números pretende alcançar?
Matheus Dêgelo: Já superei as expectativas que eu tinha. Num mercado tão difícil como o de hoje, é raro encontrar uma empresa em que você supera suas metas — e isso aconteceu comigo. Conforme fui dominando cada vez mais o conhecimento sobre delivery, logística e varejo de alimentos, percebi que a Del Match tem muito mais a oferecer.
Aqui em Bauru, a gente não atende só alimentação. Atendemos empresas de refrigeração, farmácias, autopeças. Tudo que pode ser levado de moto, a gente entrega. E com a chegada de novos marketplaces, acredito que o empresário vai querer vender em todas as plataformas. Mas a logística, ele vai querer centralizar em um único lugar.
É aí que vejo nossa grande oportunidade. Porque cada marketplace tem um sistema diferente de precificação e entrega, e isso confunde o empresário. Ele vai buscar uma logística confiável, centralizada, e é isso que a gente faz muito bem. Acredito de verdade que ninguém faz logística melhor que a nossa. A excelência, o controle e o preço nos tornam imbatíveis. Então, ele pode vender por 200 canais, mas vai querer entregar com a Del Match.
E você, Wagner? O que está esperando para o futuro da Del Match?
Wagner Ferreira: O crescimento planejado para 2025 é ambicioso: queremos chegar a 100 operações. Mas não estamos olhando apenas para os grandes players. Queremos atender também a “dona Maria” e o “seu João” que vendem de casa. Essas pessoas estão carentes de serviços como o nosso.
A Del Match também atua como consultoria. Acompanhamos o cliente, mostramos os caminhos, ajudamos a sair da informalidade, vender mais e com mais qualidade. Isso gera fidelização natural.
Temos ferramentas incríveis e outras chegando. Algumas o Matheus já adiantou, outras ainda são segredo. Estamos expandindo para novas cidades, e enxergamos um crescimento muito sólido no setor de logística, tecnologia e, especialmente, na atenção aos pequenos empreendedores. Em breve, o Brasil vai estar laranja.
Vocês têm uma meta de número de entregas?
Matheus Gileno: Nosso foco não está em alcançar um número específico de entregas. Nosso objetivo para este ano é entregar a oportunidade da Del Match para pelo menos 50 novas pessoas, ou seja, 50 novos franqueados.
Já tivemos ofertas de investidores querendo comprar várias unidades de uma vez, mas recusamos. Nosso foco está em encontrar pessoas com propósito, que vão colocar a mão na massa e fazer acontecer. A tecnologia hoje é acessível, mas fazer disso um negócio de soluções exige história, visão e comprometimento.
E hoje, mais ou menos, qual é o volume médio de entregas que vocês realizam?
Matheus Gileno: Fechamos o mês 5 com 114 mil entregas realizadas. Mantendo a tendência dos últimos meses, devemos chegar ao fim do ano com cerca de 300 mil entregas por mês.
Mas acredito que vamos superar isso. Bauru ainda tem muito potencial a ser explorado. Acabamos de iniciar operações em Ribeirão Preto, uma cidade muito forte, e também em Hortolândia, na região de Campinas.
Estamos contratando gente que nem imaginávamos precisar tão cedo. Pessoas do Paraná, de Alagoas, entram em contato dizendo que descobriram a Del Match por conta própria e querem empreender conosco. O crescimento está vindo até de forma orgânica.
Matheus Dêgelo: Para ter sucesso, é preciso fazer diferente dos outros. Já coloquei energia em muitos projetos que não deram certo, mas, pela primeira vez, vejo essa energia voltar em forma de resultado. A Del Match funciona. Para quem quer e acredita, dá muito certo.