O próximo convidado do quadro de final de ano do 55content é o motorista Fernando Dutra, o Floripa, um dos maiores nomes do meio no país.
Com mais de 120 milhões de visualizações somente no YouTube e 151 mil seguidores no Instagram, Floripa trouxe sua visão sobre o ano de 2023 abordando assuntos como lucratividade e dificuldades dos motoristas, destacou as mudanças positivas e negativas no setor e compartilhou suas expectativas para 2024.
2023 foi melhor ou pior para quem é motorista de aplicativo em relação a 2022? Por que?
Em minha perspectiva, 2023 foi um ano estagnado para os motoristas de aplicativos. Não observamos mudanças significativas no funcionamento dos aplicativos. Houve algumas alterações pequenas, mas nada que representasse uma melhoria substancial ou uma transformação no nosso dia a dia. A regulamentação, que muitos aguardavam com expectativa, e que poderia ter sido um divisor de águas, acabou não se concretizando.
Portanto, em termos comparativos, 2023 foi praticamente um reflexo de 2022. Houve uma leve melhoria na demanda, provavelmente porque a pandemia já está mais distante, com as pessoas retomando suas rotinas e deixando de usar máscaras. Isso talvez tenha gerado um aumento no movimento e nas oportunidades de trabalho. Porém, em termos de avanços reais para os motoristas, não houve grandes novidades ou progressos notáveis.
Qual foi o principal desafio para os motoristas de aplicativo em 2023?
O maior desafio para os motoristas de aplicativo em 2023 foi, sem dúvida, o manejo do aumento dos custos operacionais. Desde o início da pandemia, temos observado um crescimento constante nos custos relacionados à nossa atividade. O preço dos veículos disparou, e embora tenha havido uma leve diminuição nos preços do combustível, eles ainda se mantêm elevados, fechando o ano entre 5 e 6 reais na maioria das cidades. Isso representa um aumento significativo em comparação com os preços anteriores, embora não tenham atingido os picos de 7 a 8 reais observados durante o auge da crise do petróleo. Dessa forma, o principal desafio para nós, motoristas, foi enfrentar esses custos crescentes, especialmente porque as tarifas cobradas pelos aplicativos não sofreram melhorias significativas, permanecendo praticamente inalteradas.
Qual foi a principal mudança positiva para os motoristas de aplicativo em 2023? E a negativa?
Acredito que o grande ponto positivo de 2023 foi a superação da pandemia e o consequente retorno das pessoas ao uso frequente dos aplicativos de transporte. Percebe-se claramente um aumento no número de usuários, com mais pessoas viajando juntas, em duplas ou trios, ao contrário do que se via anteriormente, com muitos passageiros viajando sozinhos. Esse retorno ao normal foi, na minha opinião, um sinal positivo de que as pessoas estão retomando suas vidas pós-pandemia.
Contudo, o aspecto negativo fica por conta da ausência de melhorias em nossos ganhos. Com os aplicativos adotando sistemas de leilão e preços flutuantes para as corridas, o desafio para os motoristas tornou-se ainda maior. Agora, mais do que nunca, é essencial saber selecionar e escolher as corridas cuidadosamente. Aqueles que não se adaptam às nuances do aplicativo, ou que simplesmente aceitam todas as corridas na esperança de aumentar seus ganhos, acabam ficando para trás. Foi um ano em que esperávamos ver uma melhoria nos rendimentos, com um movimento crescente e uma valorização maior dos motoristas pelos aplicativos, mas, infelizmente, isso não aconteceu.
Por que valeu a pena ser motorista de aplicativo em 2023?
Analisando a profissão de motorista de aplicativo em relação ao mercado de trabalho, percebe-se que ela ainda oferece remunerações superiores à média nacional. Um olhar atento revela que o rendimento médio de um brasileiro fica aquém do que muitos motoristas conseguem arrecadar na maior parte das cidades, embora existam exceções onde o ganho é relativamente menor. Às vezes, questiono se vale a pena persistir nessa profissão nessas localidades. No entanto, de modo geral, com a estratégia e conhecimento adequados, um motorista pode efetivamente ganhar mais do que a média nacional.
Outro aspecto significativo é a flexibilidade que a profissão oferece. A capacidade de ativar ou desativar o aplicativo conforme a conveniência, além da liberdade de trabalhar em diferentes cidades ou regiões, é uma vantagem considerável. Observamos frequentemente motoristas mudando de região ou estado, muitas vezes motivados por questões de segurança, buscando áreas menos violentas e mais tranquilas. Essa adaptabilidade e mobilidade são, para mim, grandes atrativos da profissão.
Quais as expectativas para 2024? E o que todo motorista precisa começar a fazer no próximo ano?
A expectativa predominante para o futuro próximo é a regulamentação do setor de motoristas de aplicativo. Há uma esperança de que possamos converter os desafios atuais em benefícios tangíveis para os motoristas. Atualmente, o cenário é dominado por um desequilíbrio considerável, onde grandes aplicativos detêm o controle total, ditando as regras para mais de um milhão de trabalhadores. Devido à magnitude desse número, torna-se complicado organizar uma resposta coletiva efetiva, seja para aceitar, protestar ou até mesmo boicotar determinadas práticas. As tentativas de paralisação são um exemplo disso; são inviáveis devido à vasta quantidade de motoristas envolvidos.
Portanto, minha grande esperança para 2024 é que, por meio da regulamentação, alcancemos um equilíbrio mais justo entre os motoristas e os aplicativos. Torço que que as mudanças em curso acabem por beneficiar o motorista. No entanto, sou cético quanto à possibilidade de os aplicativos voluntariamente aumentarem os pagamentos ou mostrarem maior consideração pelos motoristas.
O que você mais deseja para esta profissão para o próximo ano?
Meu maior desejo para o próximo ano é ver a profissão de motorista de aplicativo sendo verdadeiramente reconhecida e valorizada como tal. Aspiro que tanto aqueles que trabalham na área quanto os usuários dos serviços compreendam e respeitem a natureza profissional do trabalho do motorista de aplicativo. É essencial que os próprios motoristas se percebam como profissionais, valorizando seu trabalho e buscando se qualificar para oferecer um serviço de melhor qualidade.
Acredito firmemente que para justificar uma tarifa mais elevada, é necessário oferecer um serviço que corresponda a essa expectativa. Não se trata apenas de esperar um aumento de tarifas sem um compromisso com a qualidade do serviço prestado. É fundamental dar o melhor de si, pois o retorno virá, seja através do próprio aplicativo ou de viagens particulares. O sucesso depende da qualidade do trabalho; um serviço realizado de maneira medíocre apenas contribui para a massa de vozes insatisfeitas, aguardando mudanças que talvez nunca venham por parte dos aplicativos.
O que o motorista precisa fazer para ganhar mais em 2024?
A chave para aumentar os ganhos em 2024, na minha opinião, é fazer exatamente aquilo que causa desconforto nos aplicativos. Em 2023, observamos que ferramentas como o Stop Club, que auxiliam os motoristas a compreenderem melhor seus ganhos por corrida, foram cruciais. Ao ganhar essa clareza, os motoristas puderam selecionar de forma mais estratégica suas viagens, rejeitando aquelas menos lucrativas e focando nas que ofereciam maior retorno. Essa abordagem mais seletiva e informada acabou aumentando os rendimentos dos motoristas, o que, por sua vez, gerou descontentamento nos aplicativos.
Portanto, é evidente que quando uma prática incomoda as empresas, ela está, de alguma forma, beneficiando os motoristas. Com isso em mente, para maximizar os ganhos no ano que vem, é essencial aproveitar ao máximo essas ferramentas que proporcionam uma visão mais precisa das corridas. Selecionar cuidadosamente as viagens, focar nos horários e dias mais rentáveis e, em suma, dominar as nuances do sistema, são estratégias que, acredito, levarão a uma maior rentabilidade para os motoristas de aplicativos.