Nesta entrevista, conversamos com Patrícia Irala da Silva, uma motorista de aplicativo com três anos de experiência na profissão. Residente da cidade de Dourados, Patrícia compartilha sua trajetória, desde as primeiras corridas até os desafios e aprendizados acumulados ao longo do tempo.
Ela reflete sobre como a profissão evoluiu, as mudanças nas plataformas, e a importância de planejamento e organização para alcançar bons resultados. Além disso, Patrícia fala sobre as vantagens e desvantagens de trabalhar exclusivamente como motorista, os impactos das taxas dos aplicativos, e deixa conselhos para quem está começando nessa área.
Confira abaixo o relato de quem vive o dia a dia dessa profissão e entende, na prática, as nuances do mercado de transporte por aplicativos:
Patrícia, há quanto tempo você trabalha como motorista de aplicativo e de onde você é?
Patrícia: Trabalho como motorista de aplicativo há três anos, e sou da cidade de Dourado.
Você se lembra da sua primeira corrida? Qual foi o trajeto, a distância percorrida e o valor que recebeu?
Patrícia: Lembro sim. Na época, fazia corridas curtas pelo aplicativo Uber, geralmente em regiões centrais. Eram trajetos de, no máximo, três quilômetros, e o valor ficava entre nove e onze reais.
Comparando com hoje, uma corrida curta como essa paga mais ou menos?
Patrícia: Hoje conseguimos trabalhar com valores melhores. Isso acontece porque muitos motoristas recusam corridas pouco vantajosas, o que aumenta o valor das viagens para quem aceita.
No começo, você aceitava qualquer corrida ou já era seletiva?
No início, eu aceitava praticamente todas as corridas. Hoje sou mais seletiva, principalmente se estiver indo para casa ou em horários específicos. Por exemplo, no horário de almoço, evito viagens para regiões muito distantes, a não ser que sejam corridas para fora da cidade, que também faço às vezes.
E quanto você faturou no seu primeiro mês? Trabalhava em período integral?
Patrícia: No meu primeiro mês, faturei cerca de 200 reais porque tinha pouca experiência e ainda não tinha mentor. Além disso, trabalhava apenas à noite e nos finais de semana, pois já tinha um emprego fixo.
Atualmente, você trabalha apenas como motorista de aplicativo? Como isso impactou seus ganhos?
Patrícia: Sim, pedi licença do meu emprego fixo, que era concursado, e hoje trabalho exclusivamente como motorista. Isso aumentou meus ganhos, porque consigo dedicar mais tempo. Diferente do trabalho CLT, onde meu esforço não aumentava o salário, aqui, quanto mais eu me esforço, mais eu ganho.
Você começou apenas com a Uber. Hoje usa outros aplicativos?
Patrícia: Sim, hoje também trabalho com a 99 e a InDriver, que operam em várias cidades. Além disso, faço viagens particulares, geralmente combinadas pelo WhatsApp, para atender quem não consegue chamar pelo app.
O que você aprendeu de mais importante desde as primeiras corridas?
Patrícia: Aprendi a importância de calcular custos e planejar rotas. Não basta apenas dirigir; é essencial considerar o quilômetro rodado e se a corrida vale a pena. Por exemplo, aceitar uma viagem muito distante sem garantir um retorno pode não ser vantajoso.
Você utiliza ferramentas como o StopClub para ajudar nos cálculos ou gestão das corridas?
Patrícia: Tenho o StopClub instalado, mas ainda sou iniciante no uso. Ele é muito útil para registro das corridas e cálculo de ganhos, mas uso apenas em situações específicas.
Quantas horas você trabalha por dia e quanto consegue faturar, em média?
Patrícia: Geralmente trabalho de oito a doze horas por dia, de segunda a sábado, tirando um dia de folga na semana, dependendo da necessidade. Meu faturamento mensal fica entre sete e oito mil reais, e, descontando os custos operacionais, sobra cerca de cinco mil reais.
Você acha que vale mais a pena trabalhar apenas como motorista ou combinar com outro emprego?
Patrícia: Depende. Para trabalhar apenas com aplicativos, a pessoa precisa ser muito organizada financeiramente e na vida pessoal. Caso contrário, é melhor conciliar com um emprego fixo. No meu caso, consegui me organizar e, atualmente, esse trabalho está suprindo bem minhas necessidades, como manter minha casa e meu carro em boas condições.
Que conselho você daria para quem está começando?
Patrícia: Persistência é fundamental. No início, tudo parece difícil, mas é importante não desistir e buscar orientação com pessoas mais experientes. Isso evita muitos problemas e ajuda a começar ganhando melhor.
Desde que você começou, em 2021 ou 2022, percebeu mudanças nas taxas ou nos valores repassados pelos aplicativos?
Patrícia: Sim, notei que as taxas dos aplicativos aumentaram, mas o valor repassado ao motorista não acompanhou. Isso faz com que as corridas fiquem menos vantajosas, principalmente em trajetos curtos ou com trânsito intenso. Já tive casos em que o aplicativo ficou com quase 50% do valor da corrida, o que é desproporcional, considerando nossos custos com combustível, manutenção e aluguel de veículo, quando aplicável.
Gostaria de acrescentar algo?
Patrícia: Sim. O trabalho do motorista de aplicativo é muito importante para a mobilidade urbana, seja em cidades conhecidas ou desconhecidas. Espero que esse serviço seja mais valorizado no futuro, pois, além de facilitar a locomoção, também envolve muita dedicação e investimento. Motoristas são seres humanos, com famílias e cansaço, e merecem reconhecimento.