Na crescente onda de trabalho informal, os motoristas de aplicativos têm encontrado várias despesas enquanto tentam manter um fluxo de renda estável. Em uma pesquisa recente realizada pelo grupo Continente da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) em parceria com o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos socioeconômicos), a jornada e os ganhos dos motoristas de Uber na região metropolitana de Belo Horizonte foram dissecados, revelando nuances que são, muitas vezes, obscurecidas pelos números brutos.
Os dados mostram que os motoristas, em média, ganham um valor bruto de R$ 6.488 mensalmente, porém, o faturamento líquido se limita a R$ 2.515, uma vez deduzidos os vários custos associados ao trabalho, que incluem gastos com gasolina, alimentação, internet, manutenção e seguro do veículo. A consciência desses gastos, entretanto, varia entre os motoristas.
De acordo com a pesquisa que entrevistou 400 motoristas de Uber, os trabalhadores demonstram uma consciência quase unânime sobre o custo do combustível, com 99,5% reconhecendo-o como uma despesa direta. A visão, entretanto, fragmenta-se quando se trata de outros gastos associados, como a manutenção do veículo (76,3%), seguro (70%), e alimentação (68,6%).
A pesquisa destaca ainda que a maioria dos motoristas são homens (96,3%), sendo 64,4% negros. O estudo também indica uma tendência de consolidação no mercado, com uma alta porcentagem de motoristas atuando na plataforma por mais de três anos.
Além disso, segundo o levantamento, 69,1% dos motoristas usam a Uber como única fonte de trabalho remunerado e 30,9% usam o app para complementar a renda de um ou mais trabalhos.
No entanto, a pesquisa não ficou sem seus críticos. A Uber questionou os métodos e conclusões do estudo, apontando para supostas falhas metodológicas e discrepâncias nos dados recolhidos. Fábio Tozi, um dos responsáveis pelo estudo, defendeu a metodologia da pesquisa para o jornal mineiro O TEMPO , explicando que as variações nos dados refletem as diferenças individuais na forma como os motoristas calculam e registram seus ganhos e despesas.
Além disso, a Uber apresentou dados de outros estudos, argumentando que a renda líquida dos motoristas, de fato, supera o salário mínimo e a renda média de outros trabalhadores na região.
“O documento do Observatório das Plataformas Digitais tem lacunas na metodologia e resultados que não representam a realidade dos motoristas parceiros da Uber, o que é evidenciado por pesquisas realizadas com amostragem mais ampla e representativa da categoria.
Além de considerar um grupo reduzido (apenas 400 pessoas) e sem desenho claro de amostragem para retratar o universo, as estatísticas apresentadas foram calculadas a partir de questionário declaratório, sem cálculo probabilístico ou checagem de respostas.
Em relação aos custos da atividade, por exemplo, não há indicação de quais itens foram considerados para se chegar aos valores apresentados. O próprio relatório evidencia que os dados apresentam “imprecisões de controle e oscilações” e que foram encontradas “discrepâncias entre as apurações”, ou seja, inconsistências nas respostas dos entrevistados quando comparados os valores declarados por dia, semana e mês.
Mesmo com essas falhas, o próprio trabalho reconhece que a renda líquida dos motoristas supera tanto o salário mínimo como a renda dos demais trabalhadores da região.
Uma pesquisa realizada pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) a partir dos registros administrativos dos aplicativos (viagens efetivamente realizadas) calculou que os motoristas trabalham em média entre 22 e 31 horas semanais, e têm renda líquida entre R$2.925 e R$4.756 por mês. O trabalho do Cebrap se baseou também em 1.518 entrevistas, em amostra aleatória e representativa do 1,3 milhão de motoristas que trabalham com aplicativos no Brasil.
Outra pesquisa, realizada pelo Datafolha com uma amostragem representativa (1.800 motoristas), identificou que metade (48%) tem a atividade com aplicativos como complemento de renda. Entre os motivos mais importantes para dirigir, 85% consideram a flexibilidade e autonomia da atividade.”, diz a Uber, em nota enviada para o jornal O TEMPO.