O 55 está conversando com alguns motoristas para saber como foi o ano de 2023 e quais são as expectativas para 2024.
O primeiro entrevistado é o motorista Rafael de Paula, o Monster Driver.
Antes dos aplicativos, Rafael era professor de informática e utiliza desses conhecimentos até hoje para potencializar os ganhos de motoristas de aplicativo.
2023 foi melhor ou pior para quem é motoristas de aplicativo em relação a 2022? Por que?
O ano de 2022 foi, sem dúvida, melhor que 2023. No final daquele ano, havia mais promoções, a dinâmica do mercado estava mais ativa, e passávamos mais tempo em alta demanda. Além disso, havia menos motoristas nas ruas. O aumento no número de motoristas apresenta um problema: a maioria dos novatos chega iludida, acreditando que irá lucrar facilmente. No entanto, eles geralmente não se dedicam ao estudo do mercado, não compreendem as nuances do trabalho, não fazem cálculos adequados e desconhecem os custos envolvidos. Se o aumento fosse apenas de motoristas que realmente entendem como trabalhar eficientemente, seria ideal. Contudo, o que prejudica o aplicativo são aqueles motoristas que não sabem selecionar corridas adequadamente. E, curiosamente, são esses motoristas que a Uber parece preferir. Portanto, devido a esses fatores, o crescimento no número de motoristas resultou na redução da necessidade de dinâmicas e bonificações, diminuindo significativamente o faturamento esperado, em comparação com anos anteriores.
Qual foi o principal desafio para os motoristas de aplicativo em 2023?
O maior desafio enfrentado em 2023 foi o aumento de corridas de baixa qualidade oferecidas pelos aplicativos. Atualmente, para maximizar os ganhos, os motoristas precisam dedicar muito tempo selecionando corridas, o que resulta em mais horas na rua. Alternativamente, eles podem optar por sacrificar a remuneração por quilômetro para atingir suas metas em menos tempo. Em comparação com o passado, as corridas eram de melhor qualidade, e havia menos necessidade de recusar ofertas. Neste ano, porém, houve um aumento significativo na quantidade de corridas recusadas. Isso ocorre, como mencionado anteriormente, devido ao crescimento no número de motoristas. Com mais profissionais dispostos a aceitar qualquer serviço, não há incentivo para a Uber oferecer melhores pagamentos. Se um motorista aceita fazer um serviço por um valor menor, não há razão para a empresa pagar mais por esse mesmo serviço a outro motorista.
Por que valeu a pena ser motorista de aplicativo em 2023?
A principal vantagem de ser motorista de aplicativo, na minha opinião, reside na flexibilidade de horários. Isso permite que o motorista trabalhe quando quiser e ganhe dinheiro conforme sua necessidade. Frequentemente, observamos pessoas desesperadas por dinheiro para pagar contas. Nessas situações, um motorista pode trabalhar intensamente por dois, três ou quatro dias e conseguir a quantia necessária. Essa capacidade de gerar renda rápida é um benefício singular desta profissão. Em outras atividades, como um trabalho regular ou vendas, geralmente é preciso esperar até o final do mês ou até que as vendas se concretizem para ver os resultados financeiros. No entanto, como motorista de aplicativo, se você precisa pagar uma conta amanhã ou depois, é possível trabalhar por 15 ou 16 horas seguidas e conseguir o dinheiro necessário. Esse acesso imediato à renda é o que considero ser a maior vantagem de trabalhar como motorista de aplicativo.
Quais as expectativas para 2024? E o que todo motorista precisa começar a fazer no próximo ano?
Para 2024, minha expectativa está focada no avanço dos veículos elétricos. Estou ansioso para explorar este novo mercado e suas oportunidades, especialmente com a chegada de novos modelos que prometem ter um custo mais acessível. Espero que, com a crescente popularidade dos carros elétricos, os preços dos veículos em geral comecem a diminuir.
Para nós, motoristas de aplicativos, a transição para veículos elétricos representa uma redução significativa nos custos. Atualmente, o gasto com combustível representa entre 15% e 35% do faturamento bruto de um motorista. Com um carro elétrico, esse custo pode cair para apenas 6% a 8%. Para quem percorre cerca de 4.000 a 5.000 quilômetros por mês, isso se traduz em uma economia substancial de R$ 2.000 a R$ 3.000. Assim, o movimento em direção aos veículos elétricos não é apenas uma questão ambiental, mas também uma decisão econômica inteligente para os motoristas de aplicativos.
O que você para deseja para esta profissão para o próximo ano?
Para 2024, meu desejo é ver a implementação de taxas justas e uma regulamentação que preserve a nossa liberdade de escolher quantos dias e horas queremos trabalhar. Espero que a regulamentação se concentre principalmente em estabelecer limites para taxas cobradas pelos aplicativos, evitando valores abusivos que chegam a 50% ou 60% por corrida. Idealmente, gostaria de taxas fixas, como os 10% da inDrive ou o limite de 20% da 99.
Além disso, anseio por mais transparência nos negócios. Se alcançarmos transparência e taxas justas, isso já seria um grande avanço. Contudo, o sonho de todo motorista seria ter um ganho mínimo de R$2,00 por quilômetro rodado e uma remuneração de pelo menos R$40,00 por hora. Reconheço que isso pode soar idealista, mas acredito que é algo pelo qual devemos lutar.
Para 2024, espero um ano repleto de realizações para os motoristas de aplicativos. É fundamental que nossa voz seja ouvida e que tenhamos mais respeito por parte dos aplicativos. Isso inclui o fim dos banimentos injustos e um maior reconhecimento da nossa contribuição. Em resumo, desejo que 2024 seja um ano de maior equidade e valorização para os motoristas de aplicativos.
Vinícius Guahy é jornalista formado pela Universidade Federal Fluminense e coordenador de conteúdo do 55content.
