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“Minha cidade pagava R$ 1/km, aqui paga R$ 2/km”: motoristas de app mudam de cidade em busca de melhores ganhos

Imagem dividida em duas partes. À esquerda, um jovem homem com cabelos cacheados e óculos de armação preta está sentado em um veículo, usando uma camiseta azul com padrão de tie-dye, e possui uma expressão séria enquanto olha diretamente para a câmera. À direita, um homem mais velho com barba branca cheia e cabelos curtos sorri para a câmera, vestindo uma camiseta branca e um cinto de segurança, também sentado em um veículo. O fundo de ambas as imagens sugere que eles estão estacionados ou em tráfego lento durante o dia.

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Motoristas optam por trocar de cidade em busca de ganhos melhores. Especialistas apontam riscos.

Com o crescimento do uso de aplicativos de transporte, alguns motoristas de aplicativo acabam migrando para cidades onde as condições de trabalho são percebidas como melhores. Essa tendência inclui fatores como demanda mais alta, melhores tarifas e segurança.

É o caso do motorista Volney Maciel, que se mudou de Joinville para Curitiba. Ele diz que optou por essa mudança principalmente para ampliar seus rendimentos e também porque sua esposa recebeu uma proposta de emprego na cidade. Após três anos e meio vivendo lá, Maciel afirma que foi uma escolha acertada.

“A experiência de trabalhar como motorista de Uber em Curitiba superou minhas expectativas. A demanda por viagens é maior aqui, permitindo-me alcançar uma renda bruta mensal entre R$ 6.000 e R$ 8.000. Naturalmente, isso requer que eu dedique mais horas ao volante, com jornadas de trabalho que variam de 10 a 12 horas diárias, e em dias particularmente lucrativos, até 14 horas. No entanto, o aumento nos ganhos justifica o tempo adicional investido”, comenta o motorista.

Maciel diz que antes da mudança, em Joinville, sua renda girava em torno de R$ 4.000 brutos por mês, uma diferença significativa em comparação com o que consegue agora.

“As corridas em Joinville frequentemente eram curtas e pouco rentáveis, o que nem sempre compensava o esforço e o combustível gasto. Em contrapartida, Curitiba me oferece uma variedade de corridas, incluindo trajetos longos e médios que pagam bem por quilômetro percorrido. Embora haja também corridas menos vantajosas, a flexibilidade de poder escolher as viagens torna a rotina mais rentável e menos desgastante”, acrescenta.

Já Fernando da Silva se mudou temporariamente de Natal para Fortaleza com o objetivo de testar como seria trabalhar em uma cidade maior, entender as dinâmicas do trânsito local, os ganhos e o comportamento dos usuários dos aplicativos de transporte por lá. Porém, devido a problemas com seu carro, ele precisou voltar a Natal depois de apenas dois meses.

“Durante minha estadia em Fortaleza, pude notar uma diferença nos ganhos. As corridas eram mais longas e, consequentemente, mais lucrativas do que as que eu estava acostumado em Natal. Minha meta diária sempre foi de R$ 300,00, com despesas de combustível não ultrapassando R$ 100,00 por dia, para cerca de 10 horas trabalhadas. Em Fortaleza, em dias bons, conseguia atingir essa meta em apenas 6 horas, o que me permitia parar mais cedo, aproveitar para almoçar, tomar um banho e descansar. Isso é algo impensável em Natal, onde os últimos meses me mostraram uma realidade de não conseguir bater as metas estipuladas.”

Fernando explica que existe um contraste entre as duas cidades. Segundo ele, em Fortaleza, apesar do índice de violência ser maior do que em Natal e ele optar por trabalhar durante o dia para evitar riscos, mesmo em meses de menor movimento, a demanda por viagens era alta, o que o permitia alcançar seus objetivos financeiros com mais facilidade.

Ele explica que ao retornar a Natal, enfrentou um cenário desafiador. Os aplicativos como Uber e 99 começaram a propor viagens com custos muito altos para o passageiro, mas com ganhos mínimos para os motoristas. De acordo com Fernando, algumas viagens pagavam menos de R$ 1,00 por quilômetro rodado.

“O baixo valor das corridas e o fato de os aplicativos enviarem solicitações para buscar passageiros a mais de 10 km de distância apenas agravaram a situação, tornando insustentável a continuação do trabalho sob essas condições. Essa breve estadia em Fortaleza me mostrou que é possível ter uma vida financeira mais confortável como motorista de Uber em uma cidade com maior demanda e corridas mais lucrativas. Apesar dos desafios e da necessidade de adaptação, a experiência reforçou minha vontade de buscar oportunidades onde possa maximizar meus ganhos, mesmo que isso implique em mudanças significativas como a mudança de cidade”, finaliza da Silva.

Assim como Fernando da Silva, Deivys Vieira dos Santos também se mudou temporariamente de cidade.

Deivys conta que se mudou temporariamente para São Paulo no início do ano passado devido às condições desfavoráveis em Ribeirão Preto durante esse período.

“Em São Paulo, as tarifas por quilômetro são mais altas, cerca de R$2,00 a R$2,50, o que representa uma boa renda adicional para mim, considerando também o valor ganho por minuto. Em contraste, em Ribeirão Preto, as tarifas são mais baixas, geralmente de R$1,00 a R$1,50 por quilômetro, e muitas vezes não cobrem nem os custos de combustível, o que me faz recusar a maioria das corridas. Apesar de São Paulo oferecer melhores tarifas, principalmente na região central, os valores caem muito fora dessa área. Fiquei em São Paulo por quatro meses, mas voltei para Ribeirão Preto por causa da minha família e porque também gosto da cidade. Não planejava mudar definitivamente para São Paulo naquele ano”, explica Deivys;

Ele completa dizendo que a diferença de ganhos é grande. “Nas semanas de 1 a 15 de abril, fiz R$571 na Uber porque só aceito corridas com uma tarifa média de R$1,70 para cima. Comparando com o mesmo período do ano passado, de 17 a 24 de abril, quando estava em São Paulo, fiz R$2.000 só na Uber. Naquela mesma semana, provavelmente fiz cerca de R$300 com o 99. Entre 10 e 17 de abril do ano passado, ainda em São Paulo, ganhei R$1.833, só na Uber, sem contar os ganhos na 99, cujo valor exato não me lembro agora. Em média, em São Paulo, eu ganhava entre R$1.500 e R$1.700 por semana, bruto. Claro, isso envolve altos custos de combustível, pois precisava manter o ar condicionado ligado devido ao calor e à segurança. Dos R$2.000 ganhos de 17 a 24 de abril, cerca de 60% ficava líquido para mim, enquanto 40% era gasto com combustível. Em São Paulo, as tarifas por quilômetro são muito mais altas, chegando a R$2,50 e até R$6,00 em tarifa dinâmica. Portanto, mesmo nos horários de pico, apesar do trânsito, as condições são melhores, mas é crucial escolher bem as corridas para otimizar o tempo e os ganhos”.

Ele afirma que uma diferença que percebeu entre São Paulo e Ribeirão Preto é o custo do combustível. Segundo ele, apesar de Ribeirão Preto estar cercada por diversas usinas de cana-de-açúcar, o etanol é caro, custando em média entre R$3,59 e R$3.60 por litro, chegando a R$3.79 em alguns postos, mesmo com cashback que reduz para R$3.61. Em contraste, em São Paulo, o preço do etanol fica em torno de R$2.85 por litro. Além disso, Deivys completa contando que o pagamento por quilômetro é mais baixo em Ribeirão Preto, assim como o ganho geral para motoristas de aplicativos.

“Em termos de manutenção do carro, os custos são praticamente os mesmos em ambas as cidades, com São Paulo tendo uma diferença de no máximo 10%. Apesar dos maiores gastos em São Paulo com comida e aluguel, eu conseguia ganhar mais lá do que em Ribeirão, onde meu único custo fixo significativo é o aluguel de R$800 por mês”, finaliza o motorista.

A equipe do 55content conversou com o especialista em mobilidade urbana, Diego Benegas, para entender como a migração de motoristas de aplicativo afeta a mobilidade urbana nas cidades de origem e destino.

Segundo Benegas, a migração de motoristas de aplicativo para outras cidades pode afetar a mobilidade urbana de várias maneiras: “Embora o acesso ao serviço de transporte por aplicativo proporcione uma alternativa ao transporte público e ao uso de veículos particulares, também aumenta o número de veículos nas ruas, o que pode contribuir para o aumento do tráfego em algumas áreas urbanas, assim como congestionamentos.”

Ele explica também que a chegada da Uber teve um impacto nos negócios dos táxis tradicionais, levando a protestos e conflitos em várias cidades do Brasil e no mundo: “Isso resultou em uma diminuição na disponibilidade de táxis, especialmente em áreas onde os aplicativos de transporte se consolidaram.”

Benegas ressalta que existem preocupações que vão além dos impactos na mobilidade urbana, incluindo questões de regulação, impactos ambientais e condições de trabalho dos motoristas.

“Os ganhos dos motoristas de aplicativo podem variar consideravelmente devido às flutuações na demanda ao longo do dia, da semana ou do ano. Com a presença de mais motoristas concorrendo por clientes, a oferta de serviços pode superar a demanda em determinados momentos e áreas, resultando em uma redução dos ganhos individuais dos motoristas. Para compensar a competição e manter seus ganhos, os motoristas podem sentir a necessidade de trabalhar mais horas, o que demonstra uma das várias facetas da precarização do trabalho dos motoristas de aplicativo”, finaliza o especialista.

O 55content também contatou as plataformas Uber, 99 e inDrive para verificar se essas empresas possuem políticas que incentivem os motoristas a trabalharem em diferentes cidades ou dados sobre o assunto. Enquanto a Uber não retornou nossa solicitação, a 99 optou por não participar da reportagem. Já a inDrive informou que não possui dados sobre motoristas que migram para outras cidades.

Em seu site, a Uber explica o procedimento que os motoristas devem seguir caso queiram dirigir em outra cidade.

A empresa afirma que para dirigir com o aplicativo em uma nova cidade, é necessário atender aos requisitos específicos daquela localidade. Primeiramente, é necessário acessar o site uber.com/drive/requirements.

Ao chegar ao final da página, o motorista deve localizar e selecionar a sua cidade atual e, em seguida, informar a nova cidade na qual deseja dirigir. Após isso, retornar à mesma página de requisitos e descer até encontrar a seção que detalha as condições necessárias para a nova cidade escolhida. Caso o motorista cumprir todos os requisitos para dirigir na nova cidade e desejar prosseguir com a mudança, é importante que ele siga as instruções fornecidas no site para informar sobre sua decisão.

A empresa destaca que as mudanças de cidade não são temporárias e o processamento da solicitação pode levar até 14 dias.

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