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“Fui bloqueado na plataforma e, até hoje, permaneço sem acesso”, motoristas criticam punições após reclamação de passageiros

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Motorista de aplicativo pode receber seguro desemprego
Motorista de aplicativo pode receber seguro desemprego

Nas ruas movimentadas das capitais do Brasil, motoristas de aplicativos enfrentam diariamente desafios que vão além do trânsito e da navegação. Três relatos recentes destacam as dificuldades enfrentadas por esses profissionais, ilustrando não apenas as complexidades da profissão, mas também os problemas sistêmicos e as lacunas na proteção e suporte oferecidos pelas plataformas de transporte.

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Em Brasília, um motorista de aplicativo, que optou por não se identificar, narra uma viagem que se transformou em um pesadelo. Uma corrida aparentemente normal se desdobra em uma série de eventos desafortunados: passageiros desrespeitosos que sujam seu veículo, uma agressão física inesperada, e uma batalha para retomar o controle de sua situação e de seu veículo em um bairro periférico conhecido por sua periculosidade:

Ele narra: “Há 7 anos sou motorista de aplicativo em Brasília. Em 29 de outubro de 2022, aceitei um passageiro em uma cidade satélite. A viagem incluía um amigo do solicitante, uma criança e uma mulher. Eles tentaram levar bebidas no carro, mas atendi à minha política de não permitir. Durante a viagem, a mulher deu comida à criança, o que me preocupou pela possibilidade de sujar o veículo.”

Ao final da corrida, ao verificar o banco traseiro, ele descobriu que estava sujo. Ao tentar documentar o estado do carro, o passageiro o agrediu. Ele fugiu, deixando o carro para trás e pedindo ajuda, mas foi perseguido. “Fui forçado a me refugiar em um mercado e tentei acionar o botão de pânico do aplicativo, sem sucesso. Liguei para a polícia, que demorou a responder. Com a ajuda de um segurança, contactei um policial civil amigo dele.”

Ele continua: “O policial civil me ajudou a abordar uma viatura policial. Expliquei minha situação, incluindo minha experiência como ex-sargento do exército. Fui liberado sem necessidade de ir à delegacia.”

A situação se complicou com acusações de preconceito, resultando na suspensão temporária de sua conta na Uber. “O passageiro agitado me acusou de preconceito, mas eu tinha provas em vídeo. Mais tarde, ao tentar voltar ao ponto de partida, fui novamente confrontado, desta vez pelo irmão do passageiro, que tentou me agredir.”

Ele encerra: “De volta em casa, relatei tudo à Uber, mas minha conta já estava bloqueada. Após dias de insistência e ameaças de exposição na mídia, minha conta foi reativada. Durante o incidente, eu não tinha câmera no carro, o que dificultou minha defesa. Tudo isso ocorreu em 29 de outubro de 2022.”

Enquanto isso, em Belo Horizonte, o motorista de aplicativo, Renato Duarte, descreve um incidente aparentemente menor, mas não menos significativo. Uma discordância sobre o valor final da corrida resulta em sua injusta denúncia e subsequente bloqueio na plataforma 99 Taxis, evidenciando a vulnerabilidade dos motoristas às avaliações e queixas dos passageiros, muitas vezes sem a oportunidade de defesa ou esclarecimento: 

“Há cerca de um ano, atendi um cliente através do aplicativo 99 Taxis. Levei-o a um bairro na região da Pampulha. A corrida foi estimada em 30 reais, mas ao final custou 34 reais, já que as estimativas podem variar. Quando informei o cliente sobre o valor final, ele discordou, insistindo em pagar apenas o valor estimado. Expliquei que o trânsito influenciou o preço, mas ele se recusou a aceitar. Optei por não discutir e concordei que ele pagasse o valor estimado. No entanto, posteriormente, fui denunciado por ele na 99 Taxis sem ter a chance de me explicar. Fui bloqueado na plataforma e, até hoje, permaneço sem acesso.”

Por fim, outro relato do motorista Paulo Roberto Correia Bezerra, enquanto estava trabalhando com a plataforma Uber compartilha a sua experiência ao ser solicitado para transportar uma quantidade excessiva de mercadorias, algo inapropriado para seu veículo. Ele descreve sua surpresa ao chegar para uma corrida convencional e encontrar mais de 30 objetos, claramente inadequados para o espaço disponível em seu carro:

“Tudo começou quando recebi uma chamada pelo aplicativo. Ao chegar no local indicado para o embarque, me deparei com uma quantidade surpreendente de mercadorias, muito além do esperado para uma corrida convencional. Percebendo que se tratava de uma situação inadequada para o serviço que ofereço, me aproximei do cliente para explicar que meu carro não era apropriado para transportar tantos itens; era um trabalho mais indicado para um veículo de frete, pois havia mais de 30 objetos.”

O relato se intensifica quando, ao recusar o transporte, o motorista enfrenta insistência e ameaças físicas dos clientes envolvidos. Ele detalha um momento tenso, onde um dos clientes, frustrado com a recusa, parece prestes a agredi-lo fisicamente, forçando o motorista a entrar rapidamente em seu carro para evitar o confronto:

“O passageiro insistiu para que eu transportasse carga, apesar de eu ter aceitado a viagem acreditando que seria para transportar pessoas. Expliquei que o espaço no porta-malas do meu carro era insuficiente para mercadorias. Durante nossa discussão, outro homem surgiu querendo adicionar mais sacolas, questionando o motivo pelo qual eu havia fechado o porta-malas. Apesar de eu reiterar minha posição, ele também insistiu no transporte das mercadorias. A situação se agravou quando ele, frustrado com minha recusa, ameaçou me agredir com duas garrafas. Para evitar qualquer confronto físico, rapidamente entrei no carro. Felizmente, pessoas de um bar próximo intervieram, acalmando a situação antes que escalasse ainda mais.”

Finalmente, ele explica que, apesar de evitar uma escalada maior do conflito e buscar ajuda, o incidente culminou em sua exclusão do aplicativo da Uber. Ele descobriu que o bloqueio se deveu a outras reclamações desconhecidas sobre seu serviço, e menciona seus esforços infrutíferos para resolver a situação através de meios legais: 

“Apesar de ter evitado um conflito maior, essa experiência resultou em minha exclusão do aplicativo da Uber. Mais tarde, descobri que fui bloqueado devido a outras reclamações sobre meu serviço, das quais eu nunca tive conhecimento anteriormente. Busquei resolver a questão pela via legal, mas infelizmente não obtive sucesso.”

A equipe da 55 fez uma tentativa de contato com a Uber para buscar esclarecimentos sobre o bloqueio de motoristas devido a queixas de passageiros. Contudo, até o momento, não recebemos uma resposta. Além disso, a 55 também entrou em contato com a 99, que optou por não comentar o assunto. 

O CEO do StopClub, Luiz Gustavo Neves, defende a instalação de câmeras de segurança nos carros de motoristas de aplicativo. Ele afirma que o StopClub disponibiliza sem custos a função Câmera Secreta, tendo em vista que ela é uma das principais ara os motoristas. “Sabemos que quando existem discussões entre os motoristas em passageiros as plataformas sempre tendem a dar razão ao passageiro. Por isso, é fundamental que o motorista tenha contraprova do que acontece no seu ambiente de trabalho”, revela o CEO. 

Ele revela que o StopClub já recebeu milhares de relatos em que usuários conseguiram ser reativados nas plataformas depois de apresentar vídeos como defesa de situações em que haviam sido acusados de maneira injusta.

“Importante destacar que, além de fornecer contraprova para o motorista poder se defender e evitar um bloqueio injusto das plataformas, a gravação também protege os motoristas em situações mais graves, como no caso do atropelamento do ator Kayky Brito; no qual o motorista foi acusado num primeiro momento e  e depois ficou comprovado pelas filmagens externas e internas que ele havia feito tudo possível para evitar o acidente e prestou socorro imediatamente. Sem essa filmagem, o desfecho do caso poderia ter sido diferente. Por isso recomendamos: grave sempre suas corridas”, finaliza o CEO. 

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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