Trabalhadores destacaram flexibilidade e autonomia de definir horários e locais de trabalho como principais motivos para trabalhar por aplicativos. Pesquisa foi encomendada por Uber e iFood.
Uma pesquisa intitulada “Futuro do Trabalho por Aplicativo”, conduzida pelo Datafolha a pedido do iFood e da Uber, revelou os principais motivos que levam os brasileiros a realizarem trabalhador por meio de aplicativos.
De acordo com o levantamento, realizado entre janeiro e março de 2023 e divulgado na segunda-feira (22), com a participação de 1.000 entregadores e 1.800 motoristas ativos nas duas plataformas, ganhar dinheiro para concretizar projetos pessoais ou familiares, aliado à flexibilidade e autonomia de definir horários e locais de trabalho, despontaram como os principais motivos.
A pesquisa constatou que 87% dos entrevistados (somando motoristas e entregadores) consideram a flexibilidade e a autonomia como motivos importantes ou muito importantes para ingressar nesse tipo de atividade. Além disso, 87% destacaram a possibilidade de auferir renda para concretizar projetos significativos, como cursar uma faculdade, adquirir uma casa própria ou custear a educação dos filhos.
“A flexibilidade atrai tanto quem busca uma renda extra como quem trabalha com o delivery como sua ocupação principal, mas quer encaixar isso no seu ritmo de vida e tem outras atividades, como estudar”, afirma Debora Gershon, head de políticas públicas do iFood.
Segundo a pesquisa, outros 85% dos entregadores e 79% dos motoristas destacaram a necessidade de obter uma renda adicional devido à insuficiência do que recebem mensalmente em suas outras atividades.
O trabalho por meio de aplicativos representa uma oportunidade de garantir uma renda extra – como apontado por 74% dos entregadores e 63% dos motoristas –, e, para 65% dos entregadores e 57% dos motoristas, uma oportunidade de ganhar dinheiro sem ter um chefe. Além disso, 70% destacaram a capacidade de definir seus próprios horários e locais de trabalho como um benefício significativo. Mais da metade dos participantes (57%) afirmaram que essa modalidade de trabalho proporciona fácil acesso ao emprego.
Quando questionados sobre sua situação de trabalho, 75% dos motoristas e 77% dos entregadores manifestaram preferência pelo atual modelo, no qual desfrutam de autonomia para escolher seus horários, embora não tenham acesso aos benefícios trabalhistas previstos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para os empregados.
Outro dado relevante da pesquisa revela que 90% dos motoristas e 87% dos entregadores acreditam ser necessário garantir certos direitos e benefícios, desde que isso não comprometa a flexibilidade de poder trabalhar quando, como e com qual plataforma desejarem. “As pessoas querem liberdade absoluta para administrar o seu tempo. Este deve ser um ponto de partida para discutir melhorias na relação”, diz Debora.
O estudo realizado pelo Datafolha também abordou a questão do trabalho intermitente, que se refere a uma modalidade de contrato de trabalho com carteira assinada (CLT) que permite a prestação de serviços de forma não contínua.
Nessa modalidade, os trabalhadores mantêm um vínculo de emprego com a empresa, mesmo que não sejam convocados para o trabalho em determinados dias ou horários. No entanto, de acordo com a pesquisa, 71% dos motoristas e 66% dos entregadores responderam que esse modelo não se adequa às suas necessidades.
“O trabalho intermitente é flexível, mas não dá aos trabalhadores a liberdade de aceitar ou recusar o trabalho a qualquer momento”, completa Debora. “O empregador precisa ser avisado da recusa com antecedência.”
Por fim, a pesquisa revelou que 83% dos entregadores e 74% dos motoristas querem continuar trabalhando com aplicativos. “Esse dado apoia os demais da pesquisa, que indicam que esse modelo de trabalho vem contemplando as necessidades desses trabalhadores. Sua luta é por mais proteção social, e não por mudança na relação com as plataformas digitais”, finaliza Debora.
Quando questionada sobre a pesquisa do Datafolha sobre trabalhos de aplicativo, a FEMBRAPP – Federação de Motoristas de Aplicativo do Brasil, concorda com a preferência de 75% dos motoristas pelo modelo atual de trabalho, em que possuem os condutores possuem autonomia, mas sem vínculo CLT.
“O que nós, motoristas defendemos são garantias previdenciárias, garantia mínima por hora trabalhada e autonomia para escolher o horário como é o modelo atual. Importante também o respeito sobre os banimentos sem decisões unilaterais e sem direito ao contraditório. Decisões arbitrárias realizadas pelas empresas de aplicativos, devem ser justificadas e acompanhadas por um processo administrativo que garanta o direito à ampla defesa dos motoristas”, defende a FEMBRAPP, em nota.
A FEMBRAPP ainda afirma que as empresas de aplicativos devem assumir a responsabilidade pela segurança dos trabalhadores, fornecendo seguro de vida e cobertura de acidentes durante o trabalho. Essas medidas são essenciais para garantir o bem-estar e a segurança dos profissionais que utilizam aplicativos, sem comprometer sua autonomia e liberdade de trabalho.
“A FEMBRAPP reitera que está aberta ao diálogo com as empresas de aplicativos e também com as autoridades governamentais para buscar soluções que atendam às necessidades e expectativas de todos os envolvidos nesta cadeia produtiva tão importante e crescente em nosso país”, conclui a entidade.