Daisy Gomes, CEO da Drive Tour, contou em um bate papo exclusivo com o influenciador Cláudio Sena como construiu seu próprio aplicativo de mobilidade no interior de Pernambuco.
Para comemorar o mês do nordestino, a Machine realizou na última terça-feira um bate papo especial com a empresária Daisy Gomes, CEO da Drive Tour.
O evento “Drive Tour: o Nordeste como centro de Criatividade e Empreendedorismo na mobilidade urbana” teve o objetivo de mostrar como empreendedores da região estão criando novos negócios no setor e respondendo aos desafios que o mercado de transporte tem oferecido nos últimos tempos.
O papo foi comandado por Cláudio Sena, motorista e influenciador, dono do canal Uber do Cláudio Sena, que já conta com mais de 4 milhões de visualizações e 42 mil inscritos no Youtube.
Natural de Salvador, Cláudio criou seu próprio serviço de transporte executivo, fazendo o deslocamento de pessoas para casamentos, hotéis e demais eventos na Região Metropolitana da capital baiana.
Não trocamos nosso “oxente” pelo ok de ninguém
Daisy conta que decidiu investir no mercado da mobilidade urbana por enxergar nele uma área muito promissora, que, segundo ela, é a bola da vez se for tratada de forma mais cuidadosa e humanizada.
“O segredo da Drive Tour é esse, nós não temos um aporte bilionário, trabalhamos com real, não com dólar, por isso, nosso dinheiro precisa ser muito bem investido e o que o brasileiro, em especial o Nordestino, sabe fazer é de um pingo o molho”, explicou Daisy.
Cláudio ainda complementou que no Nordeste, as pessoas gostam de olhar no olho, cumprimentar e saber que a pessoa não está ali somente para ganhar dinheiro. “Como motorista, eu não vejo parceria com as outras plataformas e isso é muito importante para mim, já na Drive Tour, eu escuto muitos motoristas falando que sempre que precisam de algo, a Daisy está lá”.
Consultoria pediu que eu me afastasse dos motoristas da Drive Tour
Em 2019, quando a Drive Tour estava preparando seu processo de expansão, Daisy contratou uma consultoria para auxiliá-la.
O primeiro ponto que a empresa orientou foi que ela, como CEO, ela ficasse afastada do contato direto com o motorista. “Eu ouvi isso e descontratei a consultoria. Como eu posso me afastar se esse é justamente o meu diferencial? (…) algumas pessoas criticam, falam que eu misturo as coisas, sou muito mãezona, mas como eu posso trabalhar com eles se não sinto a dor deles?”.
Cláudio lembrou que uma das grandes plataformas, no início de sua operação em Salvador, contava com uma espécie de gerente regional, que tinha a missão de receber os motoristas no escritório e ouvir as demandas. “Esse cara foi demitido e nós descobrimos anos mais tarde que foi porque a empresa não queria mais proximidade com o motorista”.
Para essa grande plataforma, é muito fácil somente bloquear o motorista e não entender o que está passando com o trabalhador.
“Todos têm dias difíceis. Eu já recebi reclamação de um motorista e quando fui conversar com ele, ele tinha acabado de descobrir que a esposa estava com câncer. Então imagina como estava a cabeça dele? Também já tive caso de descobrirmos que o motorista estava com transtorno bipolar e, quando isso acontece, encaminhamos para os médicos com quem temos parcerias na cidade. O trânsito adoece qualquer um”.
Fui até um posto de combustível conversar com os motoristas
Para criar a empresa, Daisy conta que foi até o posto de combustível em que os motoristas da madrugada, conhecidos como “Os corujas”, costumam ficar e apresentou a eles o projeto.
Eles logo abraçaram e fizeram com que a Drive Tour se transformasse no que é hoje.
Filha e esposa de caminhoneiro, apesar de não ser motorista, Daisy se apaixonou pelo mundo dos aplicativos de transporte.
“Os meninos até brincam comigo que um dia vou ter que ficar a madrugada inteira com eles fazendo o transporte dos passageiros. Um dia eu chego lá”.
A empresária conta que fica 24 horas à disposição dos motoristas parceiros em caso de emergência e inclusive já foi às 3h da madrugada até uma delegacia para socorrer um motorista acusado injustamente de transportar drogas no veículo.
Lançamento foi marcado por forte emoção
O lançamento da Drive Tour foi em 2018, durante o São João de Caruaru.
Na época, Daisy havia investido R$ 500 mil para construir uma tecnologia própria.
A Ordem dos Advogados do Brasil tinha acertado uma parceria com a empresa e o aplicativo estava bombando na divulgação.
No entanto, a tecnologia utilizada não deu conta e a plataforma caiu.
“Tive que agir rápido, então criei o ponto de embarque e desembarque. Assim, o pessoal ia saindo da festa, via o meu pessoal com lanterna piscando e aquela fila de gente esperando um carro, pensavam que era tudo planejado. Aí eu conheci a Machine, em dois dias a minha plataforma estava pronta e rodando”.
Nunca tive medo da Uber
Quando Cláudio questionou sobre a concorrência com as multinacionais, Daisy foi enfática ao afirmar que nunca teve medo da Uber.
Segundo ela, a empresa norte-americana é global, enquanto a Drive Tour está ao lado dos motoristas, sabendo o que está acontecendo na pista, conhecendo cada trabalhador pelo nome.
“Quando tem os grandes eventos aqui, nós somos convidados para participar de forma direta, não a Uber. Então o que a gente fez? Sempre que tinha alguma grande festa ou show, nós entramos como patrocinadores e eu fazia uma fila de embarque e desembarque para levar o pessoal para casa”.
Para segurar os motoristas, a empresa também oferece taxas muito menores do que as multinacionais costumam ter.
Atualmente, a Drive Tour trabalha com uma taxa fixa de 15% por corrida, mas também oferece descontos para motoristas que adesivam o veículo, trabalham de forma exclusiva para o app ou os veteranos, que são um grupo de 700 motoristas que estão desde o começo da empresa.
A tarifa mínima hoje do app é de R$ 6 e o ticket médio de R$ 9.
Pandemia pegou Drive Tour no auge, mas empresa respondeu com responsabilidade

Daisy conta que a Drive Tour estava em seu melhor momento quando a pandemia chegou, batendo todos os recordes.
No primeiro mês, a empresa caiu para menos de 10% do número de corridas que eles já tinham.
“Quando eu ouvi que já existia vacina, meu primeiro pensamento foi que quanto mais rápido o pessoal tiver vacinado, mais rápido voltamos às ruas. Então eu procurei a prefeitura da cidade, por meio da secretaria de saúde, e juntos fizemos uma parceria para levar as vacinas até a casa das pessoas que não tinham como chegar até os postos”.
O motorista doa um dia do seu trabalho, enquanto a equipe da Drive Tour liga para os cuidadores e agenda a vacinação. Com as rotas traçadas, os carros saem com os motoristas, enfermeiros e as vacinas até a casa dos moradores.
Em troca, eles ganham um voucher para abastecer o veículo e podem rodar 5 dias na Drive Tour sem taxas.
A campanha rendeu à Drive Tour o prêmio Vozes da Mobilidade, entregue pelo Jornal Estado de São Paulo durante o Summit Mobilidade Urbana 2021.