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Veneza Gourmet: “Delivery para confeitaria ainda é uma dor”

Mulher segurando um panetone com cobertura branca em um ambiente iluminado por luzes decorativas ao fundo.
Júlia Veneza segura um panetone artesanal da Veneza Gourmet, reforçando a identidade da marca com produtos exclusivos.

A fundadora, Júlia Veneza, compartilha os desafios e estratégias da confeitaria.

Fundada por Júlia Veneza, a Veneza Gourmet se estabeleceu como uma confeitaria que valoriza a produção artesanal e o relacionamento com seus clientes. 

Com anos de história, a marca cresceu a partir de iniciativas individuais da fundadora, que começou vendendo doces na escola e hoje projeta uma nova fase, com ampliação da estrutura e desenvolvimento de novas estratégias de atendimento.  

Começo e construção da marca

Júlia Veneza escolheu o nome de sua confeitaria, Veneza Gourmet, como uma forma de reforçar sua identidade com a marca: “O intuito de usar o nome Veneza foi por causa do meu sobrenome. Sempre quis que as pessoas associassem o meu nome à marca”, explicou. 

Desde cedo, Júlia alimentava o desejo de empreender. Com experiências anteriores, como a gestão de um brechó, e uma rotina de trabalho desde jovem, ela consolidou o sonho de ter algo próprio aos 15 anos. Hoje, a Veneza Gourmet acumula sete anos de trajetória no mercado; Júlia a fundou em 2017.

O início do negócio foi em um ambiente escolar. Júlia estudava em uma escola com grande número de alunos e refeitórios que ofereciam opções limitadas. Nesse contexto, ela identificou a oportunidade de vender algo diferente: “Tinha umas 12 pessoas vendendo doces por lá, mas eu nunca quis competir. Queria vender algo que as pessoas gostassem e não tivessem resistência para aceitar”, afirmou. A primeira tentativa foi com cookies, mas a ideia não teve o retorno esperado.  

Foi aos 15 anos que Júlia começou a testar novas receitas e percebeu o potencial de transformar os doces em um negócio. Inspirada nas tendências da época, como doces recheados com Ninho e Nutella, ela introduziu os docinhos gourmet. A recepção foi positiva, e logo seus produtos se tornaram populares entre os colegas: “Depois da escola, as pessoas diziam: ‘Vamos comprar o doce da Veneza’”, contou.  

Júlia também revelou como desenvolve as ideias para os sabores dos doces. Para ela, o processo vem de observar demandas não atendidas no mercado e buscar constantemente o aperfeiçoamento: “Até hoje, vem muito do desejo de comer algo que ninguém faz ou consegue fazer. Vou lá, faço e ainda estudo para melhorar”, explicou. 

Esse compromisso com a qualidade fez com que Júlia revisasse até mesmo receitas que já eram sucesso, eliminando possíveis problemas e mantendo a consistência dos produtos.  

No entanto, ela percebeu a necessidade de foco: “Tenho uma criatividade bem ativa. Qualquer coisa que surge, já transformo em várias ideias. Mas precisei limitar isso. Se deixar, minha Veneza teria 70 páginas de cardápio”, disse. A experiência levou Júlia a priorizar a gestão e equilibrar a inovação com a viabilidade do negócio.  

Estratégias para consolidação 

Júlia conta que sempre buscou formas inovadoras de divulgar sua marca e fortalecer a identidade da Veneza Gourmet. Uma de suas principais estratégias foi enviar seus doces para influenciadores, mas com um diferencial: ela nunca mandava apenas para uma pessoa.:“Sempre colocava os meus doces para participar de tudo. Quando enviava um doce para uma influenciadora, não mandava só para ela, mandava para todas as amigas dela também. Assim, uma ia consolidando e fortalecendo a marca para a outra”, explicou. 

Desde o início, Júlia enfrentou o desafio de convencer as pessoas a investirem em seus produtos. Para ela, o grande obstáculo era agregar valor aos doces e justificar o preço: “O maior problema era esse: as pessoas pagarem por um produto que não era barato. Eu sabia que o produto tinha qualidade, mas convencer as pessoas disso era o desafio. Você tem que agregar valor àquilo para o cliente comprar”, contou. 

A construção desse valor passava por parcerias com influenciadores, mas não qualquer tipo de influenciador. Júlia foi criteriosa ao escolher as pessoas que divulgariam seus doces, priorizando aqueles que realmente apreciassem o produto: “A minha abordagem nunca foi mandar para influenciadoras por serem famosas, mesmo com um milhão de seguidores. Se não for nichado, não adianta. Se a pessoa não divulgar com carinho, não adianta. Essa pessoa tem que comer o produto e falar: ‘Cara, que delícia! Comprem.’” Essa preocupação em alinhar a autenticidade da divulgação com a experiência do consumidor foi essencial para a consolidação da marca.

Além de selecionar cuidadosamente os influenciadores, Júlia dedicou tempo para estudar os clientes e entender o que mais gerava retorno em termos de marketing. Ela percebeu que as campanhas mais bem-sucedidas eram aquelas em que os influenciadores interagiam com o produto de maneira espontânea: “Eu fui estudando os clientes, fui estudando a forma como eles reagiam aos meus doces e o que dava mais retorno. Por exemplo, você mandar um doce para uma pessoa e ela só postar uma foto ou só um vídeo do doce não vai dar tanto engajamento. O que dá retorno é a pessoa pegar o doce, experimentar, mostrar.”

Júlia acredita que o valor dos seus produtos está diretamente ligado à vivência que proporcionam: “Acaba que o valor que hoje eu cobro na Veneza está atrelado à experiência do cliente. Então, o cliente vai comprar um produto que só eu vendo, um produto diferenciado. Ele vai ter aquela experiência de chegar e falar: ‘Isso é bom, e eu preciso indicar isso para outras pessoas.’” 

Essa percepção motivou Júlia a transformar seus doces em algo mais do que um alimento, mas em parte de momentos especiais na vida de seus clientes: “O meu principal objetivo é fazer com que as pessoas realizem uma compra de um produto da Veneza e fiquem satisfeitas, gostem, e incluam isso na vida delas. Então, por exemplo, que vire uma tradição”.

Apesar de todos os desafios, Júlia reconhece a importância de seu trabalho e o impacto da confeitaria. Ela destacou como a profissão, muitas vezes subestimada, exige dedicação e cuidado: “As pessoas veem a confeitaria, principalmente a confeitaria, como algo meio desvalorizado. Você fala: ‘Sou confeiteira’, e as pessoas dizem: ‘Ah, que legal, trabalha só com isso?’ ou ‘Que legal, vou comprar um docinho para te ajudar.’ Confeitaria é uma profissão como todas as outras. Só que é uma profissão que exige muita dedicação, é algo muito manual.”

Júlia também ressaltou a importância de contar com parcerias e redes de apoio para superar as dificuldades e crescer no mercado: “Uma das coisas que mais me ajudaram na Veneza — e pelas quais sou eternamente grata, até hoje — são os meus contatos. Tenho muitos amigos que são fotógrafos, que gravam vídeos; meu primo trabalha com tráfego… Tudo isso vai se conectando.” 

Essa rede de apoio e o uso estratégico de parcerias permitiram que a Veneza Gourmet mantivesse um fluxo constante de conteúdo e divulgação sem comprometer a essência da marca, de acordo com a fundadora.

Logística e operações de entrega

A Veneza Gourmet está em fase de implementação de uma nova estrutura que permitirá otimizar o sistema de delivery a partir do próximo ano. Segundo Júlia, essa mudança é necessária para superar limitações logísticas e garantir que os clientes tenham uma experiência mais completa: “Estamos fazendo uma estrutura, para começar de fato no ano que vem com o sistema de delivery”, explicou.

Atualmente, o foco principal da empresa está nos bombons, docinhos e palha italiana, que são os produtos mais vendidos fora das épocas sazonais. No entanto, Júlia destaca que diferentes itens exigem cuidados específicos durante o transporte: “O bombom e a palha, por exemplo, são doces mais resistentes. Eles têm uma camada de chocolate que, tirando o calor, podem ser enviados de moto tranquilamente, sem perder a qualidade. Já o docinho é mais delicado, mais molinho. Dependendo do balanço da moto, pode perder o formato, o que impossibilita a gente de enviar encomendas desse tipo por moto”, disse.

Para mitigar essas dificuldades, a Veneza opera com dois métodos principais de entrega: motoboys, que cobram uma taxa, ou carros, como os da Uber, onde a taxa também é calculada. Júlia explicou que o preço das entregas é semelhante em ambos os casos, mas o método escolhido depende das características do pedido: “Se for de moto, tem ainda a questão do recheio e da parte de cima do doce, que pode se danificar. Então, para não limitar a experiência, é melhor oferecer algo completo para o cliente.”

A alta demanda também influencia a logística da empresa, especialmente em horários de pico. Para gerenciar os pedidos, a Veneza trabalha com horários flexíveis e estabelece um diálogo direto com os clientes: “Sempre colocamos uma margem, tipo: ‘Você pode receber essa encomenda entre tal horário e tal horário.’ Ou perguntamos ao cliente: ‘Até que horas você pode receber sua encomenda?’ Isso depende também do trânsito ou, se ele preferir, da solicitação do Uber”, explicou Júlia. 

A fundadora também destacou a importância de planejar com antecedência, especialmente para encomendas transportadas por carros: “Quando é carro, principalmente para encomendas de doces, sempre pedimos um período de antecedência maior para o cliente encomendar”.

Júlia reconhece que um dos maiores desafios da empresa é a ausência de um sistema de delivery totalmente integrado e personalizado para confeitaria: “Na Veneza, temos uma dor muito grande: a questão de um sistema de delivery personalizado e integrado, voltado especificamente para confeitaria. Existem sistemas de delivery, esses softwares conseguem organizar tudo para vários tipos de negócios, como cafeterias, por exemplo. Mas, para confeitaria, ainda há muitos pontos soltos”

A falta de uma solução tecnológica que atenda plenamente às demandas do negócio exige que a equipe da Veneza realize várias tarefas de forma manual, o que aumenta a complexidade das operações: “Muita coisa, às vezes, temos que fazer manualmente. Ou conseguimos uma plataforma, mas ela não é 10 de 10, sempre tem algo que precisa ser ajustado. Então, esse é o maior problema que enfrentamos: encontrar uma plataforma que atenda a tudo o que precisamos”, explicou Júlia.  

Para amenizar essas dificuldades, a Veneza começou a utilizar uma ferramenta de inteligência artificial para auxiliar no atendimento aos clientes. No entanto, Júlia ressalta que essa solução ainda está em fase inicial e não cobre todas as necessidades da empresa: “Este ano, estamos trabalhando com uma ferramenta IA. No momento, por conta do tempo, ela ainda não consegue construir tudo o que queremos. Mas, nos próximos meses, vamos iniciar um projeto para suprir todos esses problemas e acabar com essa dor.”  

Planos para expansão e nova infraestrutura

Com a chegada de 2025, a Veneza Gourmet se prepara para uma nova fase, com planos de expansão que incluem a introdução de seus produtos em pontos de revenda: “As pessoas vão conseguir comprar nossa palha, nosso pé de moça, nosso pão de mel em vários lugares”, contou Júlia.

Apesar do entusiasmo, a fundadora ressalta a importância de planejar cada etapa com cautela: “Gostamos de alinhar muito bem as coisas e evitar ‘botar os pés pelas mãos’. Queremos atender todo mundo, oferecer o melhor serviço possível.”

A Veneza Gourmet está prestes a entrar em uma nova fase, com uma novidade que ainda não foi divulgada ao público: a criação de um espaço no formato take away. Segundo Júlia, essa mudança marca um passo importante na evolução da empresa, é um passo estratégico para transformar a operação. 

Com a conclusão da obra, poderá aumentar sua capacidade de produção e atender mais clientes: “Finalizando a obra, vamos iniciar um novo projeto e uma nova fase na Veneza. Assim, as pessoas não vão ficar reféns de encomendas, como: ‘Ah, eu quero encomendar para amanhã.’ Não. Vai poder ir e comprar para hoje mesmo”, explicou Júlia. 

Ela destacou que, atualmente, conta com a ajuda de sua mãe e colaboradores temporários em épocas de alta demanda, mas planeja formalizar uma equipe fixa em 2025: “Quero alguém para me ajudar na Veneza, de forma mais estruturada.”

Outro ponto destacado por Júlia é a importância de criar um ambiente propício para o trabalho e a inovação: “Estamos pensando em algo maior, como um sistema refrigerado, porque, até quando você está em um ambiente que te faz sentir bem, você produz melhor.” Para ela, a Veneza é mais do que um negócio; é um projeto de vida: “Eu falo muito da Veneza porque, para mim, ela é quase como uma filha. Eu cresci com esse sonho, e hoje tento não só mantê-lo vivo, mas ampliá-lo.”

No marketing, a Veneza já deu passos importantes, incluindo a contratação de uma pessoa para gerenciar o WhatsApp e o Instagram, e a colaboração com o primo de Júlia, que cuida do tráfego digital. No entanto, Júlia reconhece que a marca precisa de uma reformulação completa: “Percebo que o que mais falta para a Veneza é uma nova identidade. Comecei um projeto, mas não entregaram o que eu queria. Então, falei: ‘Não, não é o momento. Vou dar uma pausa.’” 

A nova cozinha será o ponto de partida para essas mudanças, incluindo a definição de cores e a implementação de novidades já no início de 2025: “Será uma nova Veneza, atraindo um público diferente”, afirmou.

A ampliação também permitirá atender a diferentes perfis de clientes: “Temos noção de que nossos clientes são variados: alguns são intolerantes à lactose, outros são fitness. Há tantas possibilidades que podemos explorar para agregar valor.” Júlia acredita que a nova infraestrutura será crucial para atingir essas metas: “O espaço antigo impossibilitava esses avanços. Agora, com essa nova cozinha, tudo vai dar certo.”

Em termos de logística, a Veneza tem focado em atender as regiões de Niterói, São Gonçalo e Rio de Janeiro, priorizando entregas próximas para reduzir custos de frete. Júlia explicou que o público de Icaraí é o principal consumidor da marca devido ao maior poder aquisitivo. Mesmo assim, ela mantém o foco em expandir o alcance da marca, com ações estratégicas voltadas para regiões próximas.

Para o menu, a inovação segue como uma prioridade, mas sem abrir mão da tradição: “Sempre buscamos inovar e oferecer itens que mantenham a tradição da Veneza, que é proporcionar ideias inovadoras e que entreguem uma experiência única de sabor”, explicou Júlia. 

Alguns produtos, como brigadeiro e doces de ninho com Nutella, são mantidos no cardápio devido à alta demanda: “Esses acabam sendo os mais preferidos e permanecem no cardápio.”

No futuro, Júlia planeja abrir uma loja física, mas, por enquanto, o foco está no delivery e no formato take away: “Hoje, acredito que o delivery seja a melhor forma de atender meus clientes. Conforme formos crescendo e expandindo, penso em abrir uma loja no futuro”, concluiu.

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Anna Julia Paixão

Anna Julia Paixão é estagiária em jornalismo do 55content e graduanda na Escola Superior de Propaganda e Marketing.

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