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Tomei três calotes na inDrive e eles não se importam com o motorista de app, já que a parte deles já foi paga antecipadamente

Motorista relata ter levado três calotes no inDrive e critica a falta de suporte da plataforma, que já havia lucrado mesmo sem o pagamento da corrida.

Retrato de um homem de meia-idade com cabelo curto grisalho, vestindo terno azul e gravata listrada, posando ao ar livre com árvores ao fundo.
Foto: Volney Maciel para 55content

Volney Maciel trabalha como motorista de aplicativo há mais de seis anos e atualmente roda pelas ruas de Curitiba, no Paraná. Com uma rotina intensa, ele adapta seus horários de acordo com a demanda, priorizando o turno da manhã durante a semana e madrugadas nos finais de semana e feriados. 

Em entrevista, ele compartilha sua experiência na profissão, os desafios do dia a dia e as lições aprendidas ao longo dos anos, além de explicar por que não trocaria a autonomia do trabalho nos apps por um emprego tradicional.

Há quanto tempo o senhor trabalha como motorista de Uber? Desde qual ano e em qual cidade?

Volney: Estou nessa profissão há pouco mais de seis anos. Atualmente, trabalho em Curitiba, no Paraná.

Como o senhor organiza sua rotina de trabalho? Trabalha em quais horários? Apenas de manhã, de tarde, à noite? E utiliza metas para se organizar?

Volney: Durante a semana, de segunda a sexta, costumo começar entre quatro e cinco horas da manhã e sigo até o horário do almoço. Em alguns dias, também trabalho no período da tarde, começando por volta das quatro horas e indo até umas oito ou nove horas da noite. No entanto, meu foco principal é no turno da manhã, já que há mais movimento.

Nos finais de semana e feriados, minha rotina muda. Começo a trabalhar bem cedo, por volta da meia-noite ou uma hora da manhã, e sigo até o horário do almoço do dia seguinte.

Então, o senhor trabalha praticamente todos os dias da semana?

Volney: Sim, praticamente todos os dias. Algumas semanas, tiro um dia de folga.

E somando todas essas horas, qual é a média diária de trabalho?

Volney: Durante a semana, trabalho em média oito horas por dia. Nos dias em que faço um turno extra à tarde, chego a 12 horas de trabalho. Já nos finais de semana, dependendo do movimento, posso trabalhar entre 14 e 15 horas.

O senhor estabelece metas diárias ou semanais para o faturamento? Como funciona essa organização?

Volney: Sim, eu tenho metas. Durante a semana, minha meta é um faturamento bruto de R$ 250 por dia. No sábado, a meta sobe para R$ 300, e no domingo, para R$ 400. Claro, isso não significa que sempre alcanço esses valores, mas é o que busco. Esses valores são brutos, sem considerar os custos com combustível e manutenção.

O senhor mencionou que trabalha há quase seis anos como motorista de aplicativo. O que o motivou a entrar nesse ramo? E como era na época? Acredita que era mais fácil ganhar dinheiro, com mais tarifas dinâmicas e promoções?

Volney: Antes de me tornar motorista de aplicativo, eu tinha dois empregos e estava extremamente estressado. Minha saúde estava se deteriorando, então decidi sair dos dois trabalhos para tentar algo novo. Escolhi os aplicativos porque queria mais liberdade para definir meus próprios horários. Para minha saúde, especialmente a mental, essa mudança foi muito positiva.

Sobre a diferença entre antes e agora, comecei dirigindo em Joinville, Santa Catarina, que é uma cidade menor. Naturalmente, havia menos demanda do que em Curitiba, onde estou há quatro anos. Na época, havia mais tarifas dinâmicas e elas pagavam um pouco melhor. Porém, como me mudei para uma cidade maior, onde há muito mais demanda, senti essa diferença de maneira menos drástica. Ainda assim, é fato que hoje existem menos dinâmicas, os valores pagos são menores e há menos promoções. Poderia ser melhor.

O senhor mencionou que sua saúde mental melhorou ao sair do antigo emprego. Como está sua saúde mental atualmente? Voltaria para um emprego CLT?

Volney: Não, não voltaria. Isso seria minha última opção. Não quero ter vínculo empregatício, patrão nem horários rígidos. Hoje, faço o que gosto. Amo dirigir, interagir com as pessoas e conversar.

Claro que respeito o espaço dos passageiros. Se percebo logo no cumprimento que a pessoa não quer conversa, não forço. Não sou aquele motorista insistente que faz perguntas mesmo quando o passageiro claramente não está interessado. Mas, se houver abertura, gosto muito de bater papo.

Recebo muitos elogios dos passageiros por esse perfil mais comunicativo. Inclusive, alguns brincam dizendo que eu não pareço ser de Curitiba, porque aqui as pessoas costumam ser mais reservadas. Isso me faz perceber que muitos passageiros valorizam essa interação. Já aconteceu até de brincarmos que a corrida foi curta demais, porque a conversa estava tão boa que poderia ter durado mais tempo.

Além disso, transporto muitos turistas, e eles se sentem acolhidos quando chegam a uma cidade e são bem tratados. Em Curitiba, que tem a fama de ter um povo mais fechado, isso faz diferença. Gosto muito desse contato com as pessoas.

Então, para o senhor, ainda não vale a pena trocar a profissão de motorista por um emprego CLT?

Volney: De jeito nenhum! Essa seria minha última opção, apenas em um caso extremo.

No final do mês, considerando que o senhor trabalha bastante, quanto sobra de lucro líquido? Ou sobra?

Volney: Se sobrar, né? (risos) Meu custo gira em torno de um terço do meu faturamento. Esse valor inclui combustível e manutenção do carro. Procuro não gastar com alimentação fora de casa para reduzir despesas. Então, considerando esses custos fixos, essa é a proporção que costumo ter entre ganhos e gastos.

O senhor trabalha com UberX, Uber Comfort? Tem algum aplicativo favorito?

Volney: Trabalho tanto com UberX quanto com Uber Comfort, mas minha preferência é, sem dúvida, a Uber. Aproximadamente 90% das minhas corridas são pela Uber e apenas 10% pela 99, que uso mais por necessidade. Às vezes, estou em uma região onde a Uber não tem muitas chamadas, então abro a 99 para conseguir sair dali.

Aqui em Curitiba, temos três aplicativos atuantes: Uber, 99 e inDrive. O inDrive, porém, eu não uso de jeito nenhum! Já testei e considero um péssimo aplicativo. Tem os piores passageiros e muitos relatos negativos sobre motoristas desqualificados, carros em péssimas condições e até situações de assédio.

Eu mesmo tive problemas com o inDrive. Já tomei três calotes – o passageiro simplesmente dizia que não tinha dinheiro ao final da corrida. E a resposta do suporte sempre foi a mesma: “Você tem que se acertar com o passageiro”. Ou seja, eles não se importam com o motorista, porque a comissão deles já foi recebida antecipadamente. Isso porque, para aceitar corridas no inDrive, precisamos carregar créditos na plataforma, como se fosse um celular pré-pago. Então, mesmo nas corridas em que não recebi nada, o aplicativo já tinha lucrado. Depois disso, bani o inDrive e não recomendo para ninguém, especialmente para mulheres, pois a segurança é muito precária.

Portanto, minha preferência é a Uber. Mesmo não sendo perfeita, ainda é menos pior do que a 99.

Quais são os maiores desafios de ser motorista de aplicativo?

Volney: O maior desafio, sem dúvida, é o preço do combustível, seguido pelo custo de manutenção do carro. Segurança, por exemplo, nunca foi um grande problema para mim. Em mais de seis anos dirigindo, nunca passei por nenhuma situação de risco. Claro, tomo meus cuidados, mas os desafios principais são, sem dúvida, os custos operacionais. No fim, a gente tem que fazer milagres para manter o negócio funcionando.

Quais foram as maiores lições que o senhor aprendeu como motorista de aplicativo?

Volney: Aprendi muito sobre tolerância, tanto no trânsito quanto com as pessoas. No trânsito, se você não tiver paciência, não dura nem dois meses nesse trabalho sem ter um ataque do coração.

Além disso, lidamos com todo tipo de passageiro: pessoas educadas, mal-educadas, gente com diferentes formas de pensar e estilos de vida. Isso me ensinou a ser mais adaptável e compreensivo.

O senhor gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

Volney: Sim, queria deixar uma dica importante sobre segurança. Algo que me trouxe muito mais tranquilidade foi desativar a opção de pagamento em dinheiro. Isso eliminou mais de 90% dos problemas que poderiam acontecer.

Quando só aceitamos pagamentos via cartão, atendemos apenas passageiros que já possuem um cadastro vinculado, reduzindo bastante os riscos de golpes ou assaltos. Para quem trabalha de madrugada e se preocupa com segurança, essa simples mudança já resolve grande parte dos problemas.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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