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“Se você não prestar atenção, vira escravo”, critica entregador

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Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Motociclista parado próximo a uma moto estacionada, com mochila de entregas e capacete no banco.
Motociclista com mochila para transporte de encomendas em frente a uma moto estacionada.

Fernando Pache relata desafios e aprendizados no trabalho com aplicativos.

A jornada de Fernando Pache, entregador de aplicativos em Campo Grande, começou durante a pandemia de 2020, quando ele decidiu abrir um restaurante delivery: “Eu nem tinha moto, a ideia era ter entregadores próprios, mas logo na primeira semana eu percebi que uma empresa nova, sem investimento financeiro forte, não poderia fazer isso. Tive que providenciar uma moto e fazer as minhas próprias entregas”, contou.  

O restaurante funcionou por dois anos até encerrar as atividades. Após o fechamento da empresa, Fernando se viu sem trabalho e com o desejo de abrir uma agência de marketing digital. No entanto, como os resultados desse tipo de negócio demoram a aparecer, ele decidiu voltar às entregas: “Antes de abrir a empresa, fiz duas entregas pelo iFood, isso pra ver como era a dinâmica de uma entrega de comida. Então eu tinha a conta cadastrada, olhei na garagem de casa e tinha uma moto, e na sala uma bag. Fui fazer o teste.” Atualmente, Fernando também cria conteúdo sobre suas entregas.

Hoje, Pache trabalha cerca de 10 horas por dia e destaca a importância da flexibilidade de horário: “É essencial pra mim, já que eu tenho vários micro compromissos durante o meu dia. Porém, dentro dessa flexibilidade, são pelo menos 10 horas de trabalho diário.”  

Entre os principais desafios do dia a dia, Fernando cita o trânsito e as condições climáticas: “O meu maior medo é acidente, nós precisamos estar extremamente atentos a tudo o tempo todo. Outros fatores externos também contribuem diretamente no nosso dia a dia, como o clima, por exemplo. Aqui em Campo Grande é muito quente e geralmente a umidade do ar é baixíssima, isso judia demais da gente. O oposto também é válido, quando faz frio também é forte. Esse ano trabalhei durante uma madrugada que a sensação térmica estava a -2ºC. Chuva geralmente também é um problema, o trânsito fica mais perigoso.”  

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Experiência com os aplicativos  

Fernando conta que tem cadastro em vários aplicativos, mas trabalha majoritariamente com o iFood. Ele critica, no entanto, o suporte da plataforma: “É horrível. Dependendo do dia que você precisar do suporte, vai durar uma eternidade. Se for em um dia de alta demanda você está lascado. Já perdi um turno inteiro porque o suporte demorou pra me responder. Muitas vezes, os entregadores resolvem problemas através do ‘Reclame Aqui’.”  

Entre as melhorias que gostaria de ver nos aplicativos, Fernando menciona ajustes nas taxas e maior diálogo com os entregadores: “Tudo está ficando mais caro. A gente não tem sequer a oportunidade de dar a nossa versão de algo que possa ter acontecido, é um absurdo e falta de respeito nós sermos prejudicados pelo erro de terceiros.”  

A união entre os motoboys e os planos para o futuro  

Apesar das dificuldades, Fernando valoriza a solidariedade entre os motoboys: “Antes mesmo de eu me envolver com entregas, sempre ouvi dizer que os motoboys são muito unidos, e eu vejo isso de perto. É muito bonito ver como um se coloca no lugar do outro quando acontece algo inesperado.”  

Sobre o futuro, ele é cético quanto a mudanças significativas no setor: “Infelizmente, eu não vejo um futuro diferente do que é hoje. Os detalhes que mudam são para ajudar o app.” 

Apesar disso, ele acredita que a flexibilidade do trabalho pode ser usada como estratégia para outras conquistas: “Estou aos poucos diminuindo as entregas para poder dar sequência em outros planos. Talvez eu sempre vou manter o app e essa sensação viva, mas estou colocando outros planos em prática para substituir as entregas como fonte de renda principal.”  

Fernando destaca que as entregas podem ser uma solução emergencial, mas exige cuidado e estratégia: “Esse trabalho consome o seu dia inteiro, e se você não prestar atenção, você vira escravo dele. Use a flexibilidade dos apps para poder estudar e se qualificar no seu trabalho. Trabalhe com segurança. Não permita que uma situação de um segundo no trânsito faça você perder a cabeça e iniciar uma briga. Viva em paz.”  

Por fim, ele reforça a gratidão pelo trabalho de entregador: “Na emergência foi o que eu achei e é o que me mantém de pé.”

Foto de Anna Julia Paixão
Anna Julia Paixão

Anna Julia Paixão é estagiária em jornalismo do 55content e graduanda na Escola Superior de Propaganda e Marketing.

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