“Quando comecei a trabalhar como Uber cumpria minha meta já pela manhã, hoje levo o dia inteiro”, diz motorista

Homem com barba ruiva, vestido com terno preto e camisa branca, em ambiente interno iluminado.
Foto: Rafael Borges para 55content

Rafael Borges, motorista de app em Brasília desde 2017, encontrou nos aplicativos de transporte uma solução para sustentar sua família após deixar o Exército. Com um bebê recém-nascido e diante do desemprego, ele viu na flexibilidade das corridas uma forma de equilibrar suas responsabilidades. Apesar das incertezas iniciais, como o desconhecimento do funcionamento das plataformas, ele mergulhou na nova rotina, começando pelo Uber e, mais tarde, pela 99.

Durante a entrevista, Rafael compartilha as mudanças no setor ao longo dos anos, destacando os desafios com tarifas defasadas e segurança. Ele também reflete sobre a liberdade do trabalho, que hoje lhe permite cuidar dos filhos e ajustar sua rotina. Para quem está começando, aconselha testar as possibilidades e priorizar a segurança, apontando a importância de buscar dicas e investir em recursos de proteção.


Eu queria que você contasse um pouquinho do seu começo. Como você se tornou um motorista? Você estava com medo, ansioso? Como foi?

Rafael: Então, tudo começou em 2017. Eu era militar do Exército, temporário, e meu contrato de oito anos terminou. Foi tudo muito rápido. Eu estava saindo do Exército, minha esposa tinha acabado de ganhar neném, eu estava desempregado… Era uma mistura de sentimentos e situações.

Um amigo que também estava saindo do Exército comentou sobre os aplicativos. Ele disse: “Olha, tem um aplicativo agora que você dirige, leva as pessoas e pode ganhar dinheiro”. Juntando essa situação de ter um recém-nascido e estar sem emprego, eu pensei que poderia conciliar o tempo livre e fazer corridas. Comecei em julho de 2017, utilizando o Uber. Na época, era só o Uber; depois veio a 99.

Você lembra como foi sua primeira corrida? Quanto você ganhou? De onde para onde foi?

Rafael: Eu lembro da minha primeira corrida, mas o valor não. Eu tinha ido ao QG do Exército em Brasília resolver umas questões. Perto dali, tem uma “cidade satélite” – é como chamamos os bairros aqui. Recebi a chamada no Sudoeste para levar uma passageira ao Guará, onde moro. Cheguei ao local e fiquei perdido, sem saber o que fazer. Era tudo novo! A corrida era do hospital, mas a mulher não estava no local. Fiquei esperando, mandei mensagens no chat, até que ela apareceu. Levei ela ao destino. Naquela época, não aparecia o destino antes da corrida começar, então era tudo surpresa.

Desde então, você fez disso seu trabalho principal?

Rafael: Sim, mas teve dois períodos em que parei. Na pandemia, por exemplo, não rodei. No início, ainda tentei, mas depois não deu. Outra pausa foi quando consegui um cargo comissionado no governo, mas durou só quatro meses. Mesmo assim, eu mesclava, pois o cargo também envolvia dirigir.

Você lembra quanto faturou no seu primeiro mês?

Rafael: Não lembro. Estava tudo muito tumultuado – saíndo do emprego, cuidando do recém-nascido… Era muita coisa ao mesmo tempo.

Na sua opinião, era mais fácil ganhar dinheiro naquela época?

Rafael: Sim, era menos difícil. Hoje, as tarifas continuam as mesmas, mas tudo subiu: gasolina, manutenção, preço dos carros. Antes, em uma manhã, dava para ganhar o que hoje fazemos em um dia inteiro.

E em relação à segurança? Você sentia medo?

Rafael: Sempre tem. Cada passageiro é um mistério. Já tive situações com pessoas de aparência suspeita que eram super gente boa. E também pessoas de terno e gravata que me deixaram receoso. No início, não sabíamos o destino antes do passageiro entrar no carro, o que aumentava a insegurança.

Como é sua rotina hoje?

Rafael: Trabalho mais às sextas, sábados e domingos, principalmente à noite. Minha esposa trabalha fora, e eu cuido do dia a dia com os filhos, incluindo levar um deles, que é autista, à terapia. Na sexta, deixo os filhos com minha sogra e rodo até a madrugada.

Você tem uma meta de ganhos?

Rafael: Tento fazer R$ 1.000 bruto nos três dias. Se passar disso, é lucro.

Você usa aplicativos para te auxiliar, como Stop Club ou DSW?

Rafael: Já usei, mas parei. Aqui em Brasília, as tarifas são muito baixas.

Qual conselho você daria para quem está começando?

Rafael: Se tiver carro próprio, comece rodando. Se não, alugue um carro para testar. Busque dicas de motoristas experientes, saiba onde ficar e invista em segurança, como uma câmera no carro. Hoje, os aplicativos não oferecem suporte adequado para os motoristas.

Quer acrescentar algo?

Rafael: Acho que é isso. As tarifas precisam melhorar. O lado bom do trabalho é a liberdade, mas o governo parece querer limitar até isso.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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