A história do Pop 10 Brasil começa em um momento de crise. Em 2019, às vésperas da pandemia, Matheus Silva e Ana Paula Pereira viviam outra realidade: trabalhavam com construção civil. Quando a Covid-19 chegou e o setor começou a dar sinais de queda, o casal entendeu que precisaria encontrar um novo caminho.
“Na época da pandemia, a gente viu que o setor onde a gente trabalhava ia ter uma escassez”, lembra Matheus. “A gente procurou algum outro nicho para trabalhar, algo que desse alguma rentabilidade.”
A resposta veio de um mercado que eles conheciam só pelos bastidores. Ana Paula já havia sido atendente em central de mototáxi, os dois tinham experiência com atendimento ao público e já tinham tido uma lan house, sempre muito ligada à tecnologia. “A única experiência que a gente tinha era de público e um pouquinho de mobilidade, mas aplicativo mesmo a gente só inaugurou em 2019, em Passos”, conta.
Foi ali que nasceu o Pop 10 Brasil, primeiro como solução para uma cidade, depois como um projeto de rede regional.
De Passos para 44 cidades em cinco estados
A primeira operação foi em Passos (MG), mas com o tempo a base administrativa migrou para São Sebastião do Paraíso, também em Minas, que hoje é considerada a cidade matriz. A expansão, que começou tímida, ganhou corpo nos últimos anos.
“Hoje a gente tem 44 cidades em operação, em cinco estados: Bahia, Santa Catarina, São Paulo, Goiás e Minas Gerais”, resume Matheus. Segundo ele, o aplicativo já se aproxima dos 100 mil downloads, com algo em torno de 6 mil motoristas cadastrados.
O crescimento não veio sem tropeços. Algumas cidades inauguradas no início não deram certo, por falta de experiência com o modelo. “A gente começou em uma cidade e depois foi mudando, adicionando novas cidades. Algumas unidades, infelizmente, não deram certo, mas com o passar do tempo fomos aprendendo e expandindo de forma mais estruturada”, explica.
Hoje, a estratégia é clara: focar em municípios menores, muitas vezes ignorados pelas grandes plataformas. “Nosso foco agora são cidades de menor número de habitantes, onde a Uber não atua”, diz ele. É nesses lugares que o Pop 10 quer ser “o” aplicativo da cidade – não apenas mais um.
Um app que começou com R$ 20 mil e hoje movimenta quase R$ 1 milhão por mês
No começo, em 2019, a tecnologia era bem menos complexa do que é hoje. “Na época o aplicativo era mais simples. A gente gastou em torno de R$ 20 mil para ter o app”, conta Matheus. O verdadeiro investimento veio depois: atualização constante, novas funcionalidades, mapas, suporte e, principalmente, marketing.
“Aplicativo é um serviço que não para. São seis anos de melhorias. Hoje um app didático, intuitivo, com tudo redondinho, fica muito caro”, ele ressalta. Só de manutenção tecnológica, incluindo mapas e suporte com desenvolvedores, o Pop 10 gasta hoje cerca de R$ 15 mil por mês.
Do lado das corridas, os números são robustos para um app regional: “No último mês tivemos 114.313 corridas solicitadas e 97.623 corridas finalizadas. Mas a nossa média é 150 mil corridas/mês”, afirma Matheus. Isso representa algo entre R$ 900 mil e R$ 1 milhão em valor movimentado mensalmente nas cidades em que atuam.
E eles não escondem a ambição: projetam fechar 2025 com um faturamento anual próximo de R$ 60 milhões em corridas intermediadas. “É um número alto, mas está dentro do que a gente já vem fazendo e planejando”, diz.
Taxa menor, diálogo direto e corrida mínima construída junto com o motorista
A forma como o Pop 10 cobra dos motoristas é um dos pilares da operação. Não existe um modelo único: a empresa estuda cada cidade antes de definir se vai trabalhar com percentual de taxa, valor fixo por corrida ou mensalidade/semanal.
“Primeiro a gente faz um levantamento de como é feita a cobrança em cada cidade. Se a praça pratica valor fixo por corrida e a gente chega cobrando percentual, fica difícil captar motorista”, explica Matheus. “Então a gente se adapta à realidade local.”
Quando o concorrente cobra, por exemplo, 15%, o Pop 10 entra com 10%. Em cidades onde outro app retém 20% ou 25%, eles repetem a mesma lógica: 10% para deixar mais dinheiro na mão do motorista. Em locais em que a prática é cobrar R$ 1,50 ou R$ 2,50 por corrida, o Pop 10 espelha esse tipo de cobrança – sempre tentando ficar um pouco mais vantajosa para o condutor.
Com a corrida mínima, a lógica é parecida, mas com estratégia de entrada. “Nossa tarifa mínima varia em torno de 15% mais barata que a do concorrente”, diz. “Se eu chego no mercado e o outro app está R$ 7,99, eu ponho R$ 5,99.”
A ideia não é perpetuar o preço baixo, e sim conquistar o passageiro. “Em cinco, seis meses, a gente já iguala a corrida mínima ao valor do mercado, às vezes até um pouco acima. Porque depois de um tempo o cliente já chama o Pop 10 pela qualidade do serviço, não pelo preço.”
Esse ajuste depende de uma rotina que Matheus e Ana fazem questão de manter: reuniões constantes com os motoristas em todas as cidades. “A gente sempre faz reunião para ouvir o que está bom, o que está ruim, o que pode melhorar. A gente deixa muito claro que nós e os motoristas somos um time só”, afirma.
Ele não gosta da ideia de tratar o motorista como “lado oposto”. “Se a pessoa trabalha mal remunerada, ela não tem prazer em trabalhar. Aí começa a cancelar corrida, atender de qualquer jeito. Quem fideliza o passageiro é o motorista. Eu entrego tecnologia e cliente, mas quem finaliza o atendimento é ele.”
Motorista faturando de R$ 8 mil a R$ 15 mil
Com essa combinação de taxa mais baixa e controle da oferta de motoristas, o Pop 10 diz conseguir garantir um bom faturamento para quem vive exclusivamente do app. “Na implantação, um dos nossos argumentos de marketing é que o motorista vai faturar de R$ 8 a R$ 10 mil por mês, já desde o primeiro mês de operação”, afirma Matheus.
Segundo ele, essa faixa é realidade em várias cidades. “Praticamente todos os motoristas que vivem da mobilidade com o Pop 10 faturam no mínimo R$ 8 mil. E a gente já teve casos na casa dos R$ 14 mil, R$ 15 mil no mês.”
O segredo, diz ele, é controlar a entrada de novos condutores e não inflar o mapa. “A gente só coloca mais motoristas de acordo com a demanda. Nosso objetivo é entregar passageiro. Se eu coloco motorista demais, ninguém ganha bem e todo mundo fica insatisfeito.”
Combate ao “por fora” com recurso que motorista pede e a Uber não tem
Como em praticamente todo app regional, um dos desafios é evitar que o motorista use o aplicativo apenas para captar o passageiro e, depois, comece a fazer corridas por fora. Em vez de brigar com isso, o Pop 10 tenta trazer o comportamento para dentro da plataforma.
“Hoje o principal vilão é o número particular. O motorista quer fidelizar o cliente, e é natural. Só que o software já entrega isso para ele”, explica Matheus.
Dentro do app, o passageiro pode marcar um motorista como favorito. “Se a Ana Paula andou com o motorista Matheus, gostou do atendimento, dá cinco estrelas e marca como favorito. Sempre que ela precisar, pode ir no menu e solicitar o motorista Matheus. Se ele estiver livre, ela chama ele direto pelo aplicativo”, detalha.
Na prática, o que muitos fariam via WhatsApp passa a acontecer de forma registrada e segura dentro da plataforma, preservando tanto o motorista quanto a empresa.
Marketing “cidade a cidade”: rádio, outdoor, carreata e influenciador local
Outra frente importante é a forma de comunicar o app para o público. A estratégia muda conforme o perfil de cada município. “Quando a gente percebe que é um mercado mais analógico, com muito uso de mototáxi e táxi, apostamos em rádio, outdoor, panfleto”, diz Matheus.
Em cidades mais conectadas, a receita ganha novos ingredientes: influenciadores locais, ações de rua, vídeos e presença digital. “A gente busca os influenciadores mais fortes da cidade, faz entrevistas no centro, faz carreira de carros adesivados, lota a rua com a marca Pop 10”, conta.
Uma constante é a preocupação em aparecer muito no período de lançamento, para que o passageiro associe rapidamente o app a “aquele novo serviço que todo mundo está usando na cidade”.
Expansão via licença: de motorista a dono de aplicativo
Um dos movimentos mais recentes é o modelo de expansão por licença. Em vez de operar tudo sozinho, Matheus e Ana Paula passaram a vender o direito de uso da marca Pop 10 para quem quer gerir o app em uma cidade.
“Muitos motoristas sonham em ser dono do próprio aplicativo, pagar pouca taxa e ainda ter uma empresa”, explica. “Hoje a gente vende a licença do Pop 10. A pessoa compra o direito de usar a marca na cidade X, recebe o aplicativo pronto e passa a ser dona do Pop 10 naquele município.”
Nesses casos, a equipe matriz presta assessoria e ajuda a implantar a operação, do cadastro de motoristas às primeiras campanhas de marketing. Em paralelo, a empresa continua abrindo unidades próprias em cidades estratégicas.
O plano é ousado: “A gente quer, até meados de 2026, chegar entre 80 e 140 cidades”, diz Matheus. “Em seis anos, chegamos a 44. Agora queremos crescer em um ano o que levamos anos para construir. Só que, dessa vez, com tudo lapidado, projeto estruturado e testado.”
Matheus finaliza afirmando que o Pop 10 tenta equilibrar crescimento rápido com a promessa que fez lá atrás, em plena pandemia: ser um aplicativo que faça sentido para quem chama e, principalmente, para quem dirige.