Motorista enfrenta desafios em Vitória da Conquista: queda de faturamento, aumento da concorrência e mudanças nas tarifas dificultam a rotina de trabalho.
Rafael Oliveira é motorista de aplicativo há mais de 6 anos na cidade de Vitória da Conquista, município da Bahia. A ideia surgiu após se ver desempregado e com a possibilidade de trocar de carro para investir nas corridas: “Naquela época, havia pouca concorrência e mais demanda”, diz.
Oliveira conta que trabalha cerca de 6 horas por dia, de segunda a sexta, e o dia todo durante os sábados, rodando 200 km, mas com uma estratégia: “Aceito apenas corridas que paguem, no mínimo, R$ 2,00 por quilômetro. Fiz cálculos, e abaixo disso é prejuízo”.
E continua: “Com isso, consigo cobrir custos como combustível, seguro, manutenção e tirar um valor justo pelo meu trabalho. Tento fazer uma média de R$ 200,00 por dia durante a semana e R$ 400,00 no sábado”.
Rafael lamenta o trabalho de motorista em sua região e, principalmente, o suporte oferecido pelas plataformas. Segundo ele, a Uber chegou, em algum momento, a ter suporte presencial, mas, por conta da pandemia, encerrou esse atendimento. “A gente não tem nenhum apoio político que possa nos ajudar.”
Outra coisa que aconteceu, explicou o motorista, foi a mudança na fórmula de cálculo das corridas. “Antes, as corridas aqui eram calculadas por tempo — tempo de corrida e quilômetros rodados. Hoje, não. Hoje é um valor fixo.”
Ele detalhou que a tarifa base fixa sofreu alterações ao longo dos anos. “Por exemplo, logo quando foi implantado aqui, a Uber começou cobrando a corrida mínima, de 3 km, a R$ 7,00, e a 99, a R$ 7,80. Isso foi entre 2017 e 2018.”
Atualmente, segundo ele, a situação é diferente: “Hoje, a Uber oferece R$ 5,50 na corrida mínima e aumentou o quilômetro. Geralmente, a corrida mínima hoje é R$ 5,50, e você vai rodar entre 4 km e 4,5 km.”
Sobre a 99, ele afirmou que houve outra redução: “A 99 reduziu a corrida para R$ 5,10 da tarifa base fixa e colocou uma espécie de taxa de deslocamento, que, na minha percepção, é mais uma dissimulação.”
Ele explica que a 99 implementou uma tarifa base, a chamada “corrida mínima”, no valor de R$ 5,30 ou R$ 5,10, segundo ele. “Em princípio, era R$ 5,30, e colocaram uma taxa de deslocamento de R$ 1,10.”
Ele destacou, no entanto, que essa taxa de deslocamento não varia. “Ela é sempre R$ 1,10, independente se a corrida continua ou não.”
O motorista criticou o modelo, afirmando que isso resulta em “uma simulação, uma manipulação”. Ele exemplificou: “Você está com o mapa totalmente dinâmico, mas a corrida vai tocar nesse preço base. Mesmo dentro de uma área de dinâmica.”
Quando questionado sobre os valores do dinâmico em Vitória da Conquista, Rafael respondeu: “Quando você aceita uma corrida com o dinâmico, a corrida toca com R$ 10,00. Você aceita com R$ 10,00, e, quando vai finalizar a corrida, você não recebe os R$ 10,00. Você recebe R$ 9,70.
Os R$ 0,30 não aparecem. Aí parece que a corrida que você aceitou seria de R$ 11,70, e não de R$ 10,00. Sendo que o que apareceu no cartão de ofertas foi R$ 10,00. Isso aqui eu acho que é… Eu acho, não. Tenho certeza que é manipulado.”
Durante a entrevista, Oliveira mencionou uma diferença entre a distância informada no cartão de ofertas e a distância real percorrida para buscar o passageiro.
“Meu carro tem computador de bordo, então eu trabalho sempre marcando o que estou rodando. O que percebi? A corrida no cartão de ofertas aparece, por exemplo, 1 km de distância para buscar o passageiro. Quando você aceita a corrida e vai até o passageiro, essa distância muda. Em vez de ser 1 km, como mostrava no cartão de ofertas, ela aparece 1,3 km, 1,4 km. Ela aumentou. Por quê? Porque a plataforma manipulou a informação no momento de te mostrar a oferta.
Isso acontece tanto na 99 quanto na Uber também. E tem mais. Quando você pega o passageiro e leva ele até o destino, o aplicativo marca uma distância, por exemplo, 3 km. Mas, quando você começa a deslocar e inicia a corrida com o passageiro, essa distância muda. Em vez de 3 km, ela passa para 3,7 km, 3,4 km, 3,5 km.
Então, há uma manipulação que força diretamente o motorista a levar o passageiro. E eu vou te falar, isso não acontece só em duas corridas, não. Falo isso porque, no final do dia, eu comparo o quilômetro que está contando no aplicativo com o KM do meu carro. E eu digo para você: não bate. Dá uma discrepância muito grande.
Eu rodo diariamente mais ou menos 200 quilômetros por dia. Geralmente, faço um cálculo e percebo que a plataforma sempre considera menos quilometragem nas corridas do que a real. No final do dia, dá uma diferença de uns 30 km, 28 km, o que eu acho muito. Dá uma média de 20%, por exemplo.
Então, qual é o problema? Quando você percebe que é muita discrepância, como em uma corrida de R$ 15,00 — e as pessoas falam que corridas de R$ 15,00 são corridas caras — você aceita essa corrida e recebe apenas R$ 12,00. Os R$ 3,00 somem.
Aí você entra em contato pela central de ajuda, e eles só dizem que vão passar para o time competente. Quando o time competente responde, dizem que o valor que você aceitou é o que está lá, mesmo que não seja o valor final que aparece para você.
E ainda tem o discurso de marketing das plataformas, principalmente da 99, que é a mais mentirosa nesse aspecto. Eles dizem que o valor aceito na tela é o que você vai receber no final da corrida. Mas não é.”
Você observou uma queda no faturamento desde o início do trabalho com as plataformas?
“Em 2018, eu faturava cerca de R$ 8 mil por mês, trabalhando menos de 12 horas por dia. Hoje, trabalho mais horas e ganho bem menos. Meu faturamento caiu cerca de 30% nos últimos meses.
O Moto Uber e o 99Moto cresceram muito. Hoje, temos mais de 7 mil motos cadastradas, enquanto carros são cerca de 4.700. Essa concorrência desleal impacta muito.”