Como Felipe França transformou a experiência no volante em conteúdos estratégicos e um curso completo para motoristas de aplicativos.
Felipe França iniciou sua jornada como motorista de app para complementar sua renda após o expediente em seu trabalho CLT. Com seu desejo de transportar pessoas e dirigir pelas ruas, investiu horas no volante e saiu do seu emprego.
Trabalhando apenas com as plataformas, Felipe começou a participar de grupos de conversa de motoristas, entendendo as principais demandas e dificuldades da classe. Ele conta que ajudava os demais com dúvidas e problemas relacionados às corridas.
Pensando nisso, criou sua conta no Instagram e começou a postar sobre ganhos, metas e objetivos: “Bem no começo do Instagram, inclusive, o próprio ‘Resenha na Pista’ me chamou para o podcast. Eles estavam começando também, estavam com menos de 700 inscritos”, relata.
“Eu estou aqui para falar a verdade, não quero ficar enrolando.” Ao longo do seu crescimento nas redes, ele explica que investiu em conteúdos que mostram, de forma calculista, o faturamento em cada corrida, sempre detalhando números como funcionamento dos ganhos, faturamento, custo por km, lucro por km, lucro por hora e custo por hora. Além disso, relatava seu cotidiano e o dia a dia como motorista.
Recentemente, ele começou a publicar sobre saúde, focando na alimentação e no bem-estar dos motoristas que rodam o dia todo: “É um trabalho que não permite um gasto excessivo na rua, não permite que você fique usando dinheiro durante o dia.”
Hoje, Felipe atua com sua própria mentoria e conta que, no início, essa mentoria era feita semanalmente: “Eu agendava um horário com cada motorista, em média 4 ou 5 por dia, e cada sessão durava cerca de uma hora e meia a duas horas.”
Ele explica que cobrava cerca de R$ 350,00 por uma mentoria de duas horas, que incluía um acompanhamento por um mês. Nesse período, ele afirma que ajudava o motorista a ajustar o plano conforme as dificuldades e resultados que surgiam.
Felipe explica que entendia o mundo do motorista, analisava as informações que lhe eram passadas e montava um plano personalizado para o cliente: “Já ajudei motoristas a melhorarem tanto no ganho financeiro quanto na vida pessoal e familiar.”
Depois de algum tempo, França começou a preparar o conteúdo para transformar sua mentoria em um formato mais genérico, em vídeo, disponível em uma plataforma. O novo método, embora não seja tão específico, permitirá que os motoristas adaptem as orientações à sua própria realidade.
Seu novo módulo consiste em reunir o máximo de informações possível, como horários de trabalho, dificuldades enfrentadas, consumo do veículo, categoria do carro, despesas familiares e outros dados relevantes. Com essas informações, ele está elaborando um plano detalhado para melhorar os ganhos, otimizar as horas de trabalho e reduzir custos.
Felipe também destaca a importância de evitar decisões precipitadas causadas pelo cansaço ou fome, que podem levar a escolhas equivocadas, como recusar boas corridas por não estar mentalmente preparado no momento. Esse tipo de atitude, segundo ele, impacta diretamente os ganhos dos motoristas.
“Estou avaliando fazer isso via web, como estamos fazendo agora, ou até presencial, em salas de reunião ou locais públicos reservados. No presencial, as pessoas podem absorver melhor o conteúdo e entender melhor as explicações.”
Em seu novo curso, França deseja abordar aspectos importantes para motoristas de aplicativos, desde a escolha do carro mais adequado, análise de custos e contratação de seguros até como calcular o valor diário necessário para atingir os objetivos financeiros. Ele também pretende ensinar a organizar horários, otimizar corridas e trabalhar em diferentes cidades, adaptando as técnicas à realidade de cada motorista.
“O objetivo é oferecer um guia completo e acessível, que os participantes possam acompanhar no próprio ritmo.” Ele ainda considera a criação de um e-book complementar, contendo resumos das lições e links para vídeos extras que aprofundem o conteúdo.
Além disso, após o curso alcançar uma quantidade significativa de participantes, ele planeja organizar um aulão presencial para responder a dúvidas mais específicas. A previsão de lançamento está definida para o final deste ano ou início do próximo.
Como você calcula as despesas de um motorista? Quais dados são levados em consideração?
“Já fiz vídeos, mas quando você divide tudo de forma diária – cada custo pequeno que acontece no carro, como IPVA, manutenção e outras coisas que se acumulam ao longo do ano – fica difícil visualizar. Então resolvi resumir ao longo da semana, enquanto trabalhava.
Nesse resumo semanal, o que fiz foi pegar o ganho total, o custo de combustível, a quantidade de horas trabalhadas, os quilômetros rodados, a quantidade de corridas realizadas, o gasto com alimentação e fiz uma simulação de custos como seguro, IPVA e outras despesas.
Para facilitar, dividi tudo pelas semanas do ano, mostrando o custo semanal. Ficou tudo mastigado: o combustível gasto, o custo de alimentação da semana inteira, tudo detalhado.
Muitas pessoas questionam se alimentação deveria ser incluída, dizendo que ‘se não trabalhasse, teria que comer do mesmo jeito’. Mas, quando você trabalha para uma empresa CLT, geralmente tem vale-alimentação ou almoça na própria empresa, o que a empresa custeia. Sendo motorista, você é responsável pelos seus próprios custos.
Então, além de incluir tudo, mostrei na prática como calcular e entender cada custo, como lavagem do carro, limpeza, etc. No vídeo, mostrei o que estava gastando com combustível, detalhei os alimentos que eu levava e até o custo de água – que era bem baixo, mas incluí para não deixar nada de fora.
No final, somei todos os custos, subtraí dos ganhos e mostrei o lucro real. Mostrei que, mesmo com um primeiro dia ruim, o esforço ao longo da semana trouxe um resultado maior do que a média do ano.
Fiz também testes de categorias específicas. Por exemplo, um dia trabalhei somente na categoria Comfort para comparar o faturamento com outros dias. Descobri que, se eu misturasse Comfort e X, meu faturamento por hora aumentava, mas o custo por quilômetro podia ser menor. Fiz cálculos detalhados e até validei os resultados com uma inteligência artificial. No final, tudo bateu.
Inclusive, mostrei que um motorista que ganha R$ 2,00 por km, mas só R$ 0,60 por minuto, pode lucrar menos do que um motorista que ganha R$ 1,50 por km e R$ 1,00 por minuto. Há muitos fatores envolvidos.
O importante é entender os custos e lucros de forma calculada, porque, no dia a dia, uma corrida depende da outra. Às vezes, uma corrida que parece não valer a pena pode levar a outras corridas melhores, aumentando o lucro final.”
Quais são, na sua opinião, os principais desafios enfrentados pelos motoristas no dia a dia?
“Acredito que muitos desafios vêm da falta de organização e conhecimento. Isso cria dificuldades financeiras e emocionais. Muitas vezes, os motoristas buscam resultados rápidos sem analisar custos e lucros detalhadamente.
Oriento motoristas a saírem dos aplicativos se encontrarem algo melhor. Se um emprego CLT oferece o mesmo rendimento, mas sem os custos e riscos de ser motorista, vale a pena considerar. Muitos não percebem que, às vezes, é melhor ter um trabalho mais estruturado, mesmo ganhando o mesmo ou até um pouco menos.
Falo muito sobre não se endividar com aluguel de carros caros. Já recebi perguntas sobre alugar carros por R$ 7 mil mensais, o que é inviável. Com esse valor, dá para financiar três carros, alugar dois deles e ainda ficar com lucro. Falo sobre essas alternativas e sobre buscar outras fontes de renda, como vender água, doces ou até produtos em sinais de trânsito ou trens.
Inclusive, penso em testar essas alternativas e transformar isso em conteúdo, mostrando que existem oportunidades além dos aplicativos de transporte.”