Nesta entrevista, Cláudio Martinez, motorista de aplicativo há nove anos, detalha os principais desafios para garantir um bom rendimento na profissão. Ele explica por que considera a 99 mais lucrativa que a Uber, critica as altas taxas e o modelo de aluguel de carros, e aponta a estagnação nos valores pagos pelas corridas, que obriga os motoristas a trabalharem mais para manter a mesma renda. Cláudio também revela como adapta sua rotina para bater a meta diária e maximizar os lucros, sem depender de jornadas excessivas.
Então, Cláudio, o objetivo da nossa conversa é saber um pouco mais sobre a experiência dos motoristas de aplicativo no Brasil. A gente sabe que o Brasil é muito grande, logo, cada cidade tem suas especificidades, até as capitais, né? Cada motorista trabalha de um jeito. Então, para começar, gostaria de saber desde quando você é motorista de aplicativo e por que você começou a trabalhar com os apps?
Cláudio: A minha conta, tanto no Uber — que é o mais antigo — tem nove anos. Eu peguei a época em que só existia o Uber, depois surgiram outros aplicativos como o Easy Taxi, Cabify e 99. Mas os únicos que vingaram foram o 99 e o Uber. No entanto, eu não trabalhei o tempo todo com o 99, foquei mais no Uber. Parei no começo da pandemia. Quando começou, não tinha mais passageiro. Cheguei a ficar cinco horas na rua para fazer 40 reais. Aí, decidi parar. Agora, tem oito meses que voltei, e atualmente estou trabalhando só com a 99, embora minha conta no Uber ainda esteja ativa.
Por que você decidiu trabalhar só com a 99 agora, nesses oito meses em que voltou?
Cláudio: Eu percebi que a 99 é bem mais lucrativa. A taxa que eles me cobram, dependendo se faço várias corridas na semana, não passa de 14%, 15%. Eles me pagam, basicamente, 85% do valor que o passageiro paga. Diferente da Uber, que paga por quilômetro rodado e tempo.
E, Cláudio, qual é a sua rotina? Você trabalha em tempo integral, folga em algum dia da semana, é guiado por alguma meta? Como é isso?
Cláudio: Antes, eu trabalhava só à noite, mas não estava conseguindo bater minha meta. Agora, com esse calor extremo, eu saio de casa às cinco e meia da manhã e, por volta das nove horas, já estou parado. Hoje foi uma exceção, porque fui lá para o fim do mundo (risos), mas consegui voltar e cheguei aqui em São Caetano, onde moro, por volta de uma hora da tarde. Vou te falar, hoje foi um dia bom. Em uma hora e quarenta e cinco minutos logado, fiz 115 reais.
Minha meta é fazer R$ 200 reais limpos, ou seja, lucrar R$ 200;
Entendi. E com a 99, em quantas horas você consegue fazer isso?
Cláudio: Tem dia que em cinco horas eu faço isso.
Caramba! E quanto você costuma gastar em combustível por dia?
Cláudio: Como meu carro é a gás, é GNV, eu gasto pouco. Como eu falei no post lá, para eu fazer R$200 limpo, eu preciso fazer R$230 ou R$240, para tirar o valor do GNV.
Entendi, legal. E você estava comentando que você é motorista de aplicativo há bastante tempo, começou na Uber, né?
Cláudio: Há nove anos.
Há nove anos. E quando você parou na pandemia e voltou agora, há oito meses, você sente que as coisas estão melhores ou piores? Os apps estão pagando mais? Como é que você enxerga isso?
Cláudio: Eu vou te falar a diferença de antes e depois. Antes, a gente ficava muito tempo esperando chamada. Hoje, você não para. Pelo menos na 99, que é a única que eu faço. Tenho cadastro na Uber também, minha conta está ativa, mas só faço 99, porque acho que é o melhor aplicativo. E é assim: não para. Se quiser parar para alguma coisa, tem que, no meio da corrida, entrar lá e desativar novas chamadas. Antigamente, eu parava, ficava esperando tocar. Hoje não.
Entendi. E, resumindo, em valores, você acha que os valores pagos são iguais ou mudou?
Cláudio: Em valores, os valores são iguais. Mas pela quantidade de chamadas, você acaba trabalhando mais e ganhando mais.
Então, fica elas por elas, você acha?
Cláudio: É. Eu digo que hoje se ganha mais porque você não fica parado esperando chamada. Os valores praticamente não subiram, mas antes você fazia uma corrida, parava, esperava outra chamada, e assim ia. Hoje você ganha mais porque não para.
Entendi. E sobre as taxas dos apps, você acha que continua a mesma coisa?
Cláudio: Vou te falar: a 99 tem uma taxa bem pequena. Se faço uma certa quantidade de corridas na semana, na próxima semana minha taxa cai. E eles têm nas cláusulas que, se for cobrado a mais no montante da semana — não em uma corrida específica — eles me reembolsam. Ou seja, se uma corrida cobra mais e outra cobra menos, no fim eles equilibram. Se passar daquela taxa, eles devolvem. Minha taxa essa semana está em 15 vírgula alguma coisa por cento.
Legal. Minha próxima pergunta: em relação à Uber, hoje em dia você nem liga mais o aplicativo?
Cláudio: Nem ligo, nem ligo mais o aplicativo da Uber. A última vez que liguei foi na virada de ano, porque costumo trabalhar na madrugada da virada de Natal e do Ano Novo. Liguei a Uber para ver se valia mais a pena, mas achei que não vale. E tem um porém: meu carro é 2011. Na cidade de São Paulo, pela legislação, ele seria proibido de rodar. Pela Uber, eu não recebo chamadas na cidade de São Paulo. Já pela 99 eu recebo, mesmo meu carro tendo mais de 10 anos.
Entendi. Minha próxima pergunta: qual você acha que é a maior dificuldade do motorista de app hoje?
Cláudio: Na verdade, eu vou te falar uma coisa. Acho que a maior dificuldade é a vontade de trabalhar ou quem trabalha com carro alugado. Quem trabalha com carro alugado, para mim, é uma roubada. Vai pagar R$2.700 por mês e trabalha anos sem nunca ter o carro. Quando comecei na Uber, e não havia outros aplicativos, eu comprei meu carro. É um J3 Turin, aquele sedãzinho. Comprei, parcelei em 36 vezes. Todo mundo falava: “Aluga, aluga, aluga”, porque documentação é da locadora, manutenção da locadora. Só que, se eu tivesse alugado, hoje eu não teria meu carro. Eu comprei, paguei as prestações, assumi documentação e manutenção e hoje o carro é meu. Acho que a maior dificuldade hoje é isso: alugar carro ou falta de vontade de trabalhar.
Minha próxima pergunta é: Cláudio, você falou que no mínimo tira R$200 limpo por dia. Acredito que no final do mês isso dá em torno de R$5.000, R$4.000 para você, é isso mesmo?
Cláudio: É, depende dos dias que eu trabalho. Como eu sou divorciado, moro sozinho, não tenho tantas obrigações. Mas, se eu trabalhar com o mínimo de R$200 por dia e fizer 26 dias no mês — que seria de segunda a sábado — daria R$5.200.
Minha próxima pergunta é: você ainda acha que essa atividade é rentável? Vale a pena para quem está precisando ou quer sair do emprego? E quais dicas você daria para quem está começando?
Cláudio: Olha, rentável é. Só que muita gente — como eu já sou meio veterano, vamos dizer assim — acha que vai entrar e ficar rico. Não fica, rico não fica. Tem que trabalhar. Digamos assim: se você trabalha em uma empresa, vai sair de casa no mínimo uma hora antes para chegar, trabalha oito horas, tem a hora de almoço, então já são nove horas na empresa, mais uma hora para voltar para casa… Já deu onze horas, concorda?
Eu, exceto na virada de ano ou virada de Natal, não trabalho mais de oito horas por dia. Não trabalho. E acho tranquilo.
A pessoa tem que sair para trabalhar, não achar que vai ficar rica, mas também não pode ficar escolhendo corrida.
Meu conselho para quem quiser entrar é: entre, e se possível, financie um carro. Melhor financiar do que alugar. Melhor ainda se puder colocar GNV. Meu carro, com 30 reais de GNV, roda 90 quilômetros dentro da cidade.
Entendi. Então, você é um motorista que não seleciona muitas corridas?
Cláudio: É. Como meu carro é GNV, eu calculo. A 99 me mostra tudo: tempo para pegar o passageiro, quilômetros e minutos para buscá-lo, quilômetros e minutos para deixá-lo no destino. Eu calculo sempre pelo tempo, nunca pela quilometragem.
Prefiro, por exemplo, como hoje de manhã: em duas corridas, saí de São Caetano, onde moro, fui para o Brooklin, depois peguei uma viagem para São Bernardo, de lá para Interlagos. Em 1 hora e 40 minutos, rodei muitos quilômetros e fiz R$115.
Entendi. Cláudio, acho que era isso. Você gostaria de acrescentar alguma coisa que acha que não falamos aqui?
Cláudio: Uma coisa que eu falo desde o princípio: motorista de aplicativo não deve parar em faixa dupla, ligar o pisca alerta e achar que está tudo bem. Isso é totalmente errado, você para o trânsito. Sempre que vou pegar um passageiro, se ele está num lugar onde tem carros, eu faço sinal para ele, explico que vou estacionar, parar sem atrapalhar o trânsito.
Sou motorista de aplicativo há quase nove anos e vejo muito problema com isso. Muitos param em faixa dupla, ligam o pisca alerta e acham que resolveram todo o problema.
Respostas de 4
Os aplicativos deveriam inovar e colocar a quantidade de passageiros que vai embarcar pois aqui em Floripa a passagem do ônibus é 7,00 e não compensa pegar quatro passageiros por r$ 10 sendo que um amortecedor é r$ 1000 deveriam colocar o número de passageiros que vão embarcar no carro
Olá amigo, se for 1 ou 4 passageiros o valor será o mesmo.
Amortecedor não estraga com o peso, pois os veículos são projetados para 5 ocupantes e capacete de peso de 500kg
Qua tô mais peso mais gasta combustível . A matemática é simples ,quanto menos passageiros por corridas melhor .
Aqui na minha cidade vc roda 50 km e fatura 20 reais. Com o valor da corrida sai a 10 reais para o motorista o passageiro paga 18 reais. Então o app cobra 45% nas corridas