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“As empresas precisam conversar com a gente”: moradores de favelas enfrentam desafios com delivery

Homem de perfil, com cabelos volumosos, óculos transparentes e camisa listrada, sorrindo e olhando para o lado.
Lucas Luciano, jornalista, em imagem descontraída.

“Eles são trabalhadores como nós”: Lucas Luciano, morador do Morro do Castro, defende entregadores e critica a gestão empresarial.

Lucas Luciano, jornalista, autor e morador do Morro do Castro, em São Gonçalo (RJ), compartilhou como moradores de comunidades enfrentam dificuldades para utilizar serviços de delivery. 

Ele afirma que utiliza os aplicativos de forma esporádica, cerca de uma vez por semana ou a cada duas semanas, optando por estabelecimentos locais devido aos desafios com entregas de restaurantes de outras regiões: “Quando a gente pede de um local que é fora, demora umas 2 horas. E aí eles ligam e falam assim: ‘A gente acabou de ver aqui onde é e não vai dar, sabe?’ E aí sempre tem esse problema. A gente não recebe quase nada”.  

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Para driblar as dificuldades, os moradores costumam recorrer ao delivery de comerciantes locais ou pedem que os pedidos sejam entregues na entrada da comunidade: “A principal forma que encontramos é pedir de estabelecimentos locais, porque eles fazem delivery. Outra maneira é combinar com o entregador para entregar na entrada do Morro. A gente liga e avisa: ‘Pode pegar na entrada, fica melhor’, e depois busca lá.”  

Lucas explicou que, no Morro do Castro, a questão da segurança dos entregadores não é tão problemática, embora reconheça que muitos enfrentam riscos em outras localidades: “Por mais que tenha tráfico de drogas, não há esse problema de entrar motoboys. Mas eu sei que tem muitos casos de entregadores que acabam sendo baleados. É uma questão mais ampla, uma política de segurança que não dá segurança para eles entrarem nesses lugares”.  

Ele ainda destacou que os entregadores não devem ser responsabilizados pela situação: “Eles são trabalhadores, e muitos também moram em comunidades. Acho que a culpa não é deles, mas de uma visão política e empresarial que não faz questão de atender as favelas”.  

Lucas apontou que a expansão dos serviços de delivery para favelas exige diálogo entre empresas e moradores. Ele acredita que o problema está mais na gestão empresarial do que na atitude dos entregadores: “Na minha comunidade, eu sei que há o interesse de fazer com que o serviço chegue até os moradores. Mas não vejo o mesmo interesse por parte das empresas. Elas não enxergam as favelas como prioridade”.  

Ele também abordou a percepção de que as comunidades são locais intrinsecamente perigosos, algo que, segundo ele, não condiz com a realidade: “O entregador pode ser assaltado em qualquer lugar, seja na rua, na estrada, em um bairro nobre ou dentro de uma comunidade. O fato de ser na favela ou não ser na favela não implica, necessariamente, uma falta de segurança imediata”.  

Para Lucas, tornar os serviços de delivery mais inclusivos requer iniciativas que envolvam as comunidades de forma ativa. Ele afirma que é importante que as empresas conversem diretamente com os moradores, já que essa aproximação poderia ajudar a entender as necessidades e criar soluções viáveis: “Não se trata apenas de segurança, mas também de respeito e interesse em atender essas populações”.  

Ele ressaltou que os moradores têm encontrado formas de se adaptar, mas essas estratégias nem sempre são ideais: “A gente faz o mesmo com os Correios e outros serviços de entrega. Buscamos na entrada ou pedimos para enviar para um local acessível”. Lucas afirma que, na opinião dele, seria muito melhor se houvesse um esforço para que os serviços fossem acessíveis dentro da comunidade.

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Anna Julia Paixão

Anna Julia Paixão é estagiária em jornalismo do 55content e graduanda na Escola Superior de Propaganda e Marketing.

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