Larissa Ariane, 24 anos, é motorista de aplicativo em Maringá, Paraná. Sua história com as plataformas começou há mais de 3 anos, quando ainda cursava faculdade de medicina veterinária e trabalhava como CLT, até que decidiu investir nas corridas em seu tempo livre.
“Eu fui vendo que não dava mais para ser CLT, aí eu decidi tornar só a plataforma como meus ganhos fixos”, explica.
Quando questionada sobre a sua transição de carreira, ela contou que, apesar de parecer tranquilo, adaptar-se à rotina de trabalho como motorista de aplicativo exige disciplina. “Você tem que ter uma rotina muito rígida”, enfatiza.
Além disso, relata ter se adaptado aos seus horários para calcular os melhores ganhos. Larissa trabalha das 6h30 às 22h todos os dias, sem folga, e revelou que tenta fazer uma média de R$ 350 durante a semana, R$ 400 aos sábados e, no domingo, que, segundo ela, é o melhor dia, sua meta é de R$ 500 no dia.
Durante a conversa, a motorista contou que teve a sua conta da Uber bloqueada em março de 2024 e explicou a situação com o processo na Justiça:
“Há quase um ano, estou brigando judicialmente com a Uber devido ao bloqueio da minha conta. Em 2019, tive um processo arquivado, mas, em março de 2024, a Uber alegou que eu não era réu primário, contrariando as diretrizes da plataforma. Fiz toda a verificação exigida pela empresa terceirizada, mas a Uber manteve o bloqueio. Entrei com ação judicial, obtive uma tutela de urgência e minha conta foi reativada.
Mas, quando decidi ir até Curitiba para trabalhar com o carro em novembro, minha conta foi bloqueada novamente pelo mesmo motivo. Tentei resolver no escritório da Uber, mas não houve sucesso. Meu advogado entrou com um novo pedido de tutela, mas foi negado. Agora, espero a decisão de outro juiz, mas, com o recesso, só haverá respostas em fevereiro ou março, enquanto tenho passado dificuldades financeiras por conta dos bloqueios.
Eu deixei de faturar de R$ 8 a R$ 9 mil mensais com esse bloqueio da Uber, porque a minha conta era muito boa. Minhas taxas eram muito altas de aceitação, taxa de cancelamento superbaixa e nota de estrela também. Então, eu recebia algumas corridas muito boas.”
Você acredita que os valores cobrados pelas plataformas são justos?
Para os motoristas, muitos valores não são justos. É bem difícil conseguir uma remuneração adequada oferecida pela plataforma. Como eu mencionei, a situação hoje é bem diferente de alguns anos atrás, quando comecei a trabalhar com aplicativos. Muitas vezes, a plataforma envia corridas com valores que são quase inacreditáveis, fazendo o motorista pensar: “Não é possível que alguém aceite isso.”
Infelizmente, novos motoristas se cadastram na plataforma todos os dias. Isso faz com que muitos, por falta de experiência ou necessidade, aceitem esses valores baixos. Com isso, a plataforma entende que, se um motorista não aceita uma corrida, outro irá aceitar. Essa dinâmica permite que a plataforma mantenha valores baixos e, em alguns casos, até aumente os custos para o motorista, tornando a maioria das corridas inviáveis economicamente.
Como é ser motorista de aplicativo em Maringá?
Aqui tem muitos motoristas cadastrados nas plataformas. Eu sinto que tem mais motoristas do que passageiros em alguns horários. Nos horários de pico, até dá para rodar bem, mas fora disso, fica bem complicado.
Às vezes, você fica muito tempo parado, esperando uma corrida, porque tem mais oferta de motoristas do que demanda de passageiros. Isso torna a dinâmica um pouco difícil, porque quem depende exclusivamente do aplicativo tem que rodar muitas horas para compensar.
Outra coisa que complica um pouco é o preço das corridas. Como tem muita gente aceitando qualquer corrida, as plataformas não aumentam os valores. Elas sabem que sempre vai ter alguém disposto a rodar por aquele preço. Então, a gente acaba competindo entre nós mesmos, e isso prejudica bastante.
O que mais atrapalha são os motoristas que aceitam corridas de R$ 1,30, R$ 1,20 o km. A plataforma entende que tem motorista que aceita o valor que ela manda, e ela acaba não aumentando.
O que, na sua opinião, as plataformas poderiam fazer para melhorar o trabalho dos motoristas?
Acho que a principal coisa seria aumentar os valores das corridas. Hoje, muitas corridas não compensam, e a gente acaba trabalhando mais do que deveria para conseguir pagar as contas. Eles poderiam ajustar as tarifas de acordo com a realidade de cada cidade, levando em conta o custo de vida, o preço do combustível, a manutenção do carro e outras despesas.
Outra coisa seria melhorar o suporte. Muitas vezes, a gente precisa resolver algo e o suporte não ajuda, ou então temos que viajar centenas de quilômetros para ir até um escritório, como no meu caso, para Curitiba. Isso é um grande problema. Se tivesse mais escritórios ou uma forma mais eficiente de resolver essas questões online, seria muito melhor.
Por último, acho que seria interessante ter algum tipo de benefício para os motoristas que são mais antigos ou que têm boas notas, como corridas prioritárias ou um valor melhor para as corridas. Isso incentivaria quem realmente está se dedicando ao trabalho e ajudaria a equilibrar a concorrência.
O que você acredita que poderia ser melhorado, tanto por parte do governo quanto pelas plataformas? Que políticas ou ações poderiam ser implementadas para tornar o trabalho dos motoristas mais justo e sustentável?
Aqui em Maringá, hoje, acredito que a regulamentação dos aplicativos ajudaria muito. O prefeito que foi eleito agora apoiou bastante os motoristas de aplicativo. Já o outro, que estava antes, batia muito de frente. A gente tem até uma associação aqui em Maringá e brigávamos bastante com o antigo prefeito.
Com o atual, tivemos muitas conversas. Eu, particularmente, conversei bastante com ele sobre a regulamentação do aplicativo dentro da cidade.
Uma questão importante é o trânsito, porque, às vezes, o centro de Maringá é muito caótico. Quando vamos embarcar ou desembarcar passageiros no centro, o pessoal do CEMOB, que cuida do trânsito aqui, vem atrás e já aplica multa. No aeroporto, a situação é ainda pior. A gente quase não pode parar para embarcar. Tem que sair andando com o carro, praticamente sem parar. Se pararmos para esperar o passageiro embarcar, o CEMOB multa também.
Temos muito espaço na cidade para embarque e desembarque, mas não há flexibilidade. Sabemos que o trânsito é ruim, mas nós, motoristas, estamos trabalhando. É preciso um pouco mais de entendimento para facilitar as operações em pontos como o aeroporto e a rodoviária.
Nossa briga com o antigo CEMOB era muito sobre isso. Pedimos para o governo melhorar a regulamentação, principalmente em relação às ações do CEMOB, porque as multas acabam pesando muito para nós. Uma multa dessas equivale a um dia inteiro de trabalho para pagar. Imagine tomar multa toda semana no aeroporto só por embarcar um passageiro? Isso complica muito a vida do motorista.