Falta de união e financiamento limita representatividade de motoristas de aplicativo na política, afirma líder sindical.
Carina Trindade, presidente do Sindicato dos Motoristas Particulares por Aplicativos do Rio Grande do Sul (Simtrapli-RS), conversou com o 55Content e trouxe suas opiniões sobre a campanha de candidatura da classe dos motoristas de aplicativo.
Com o final do período eleitoral e a não eleição dos motoristas, Caca considera que esse fenômeno se deu pela falta de investimento e verba para os candidatos:
“Faltou muita verba para esses pré-candidatos e candidatos a vereadores para fazer uma campanha que pudesse tentar chegar a algum lugar. A gente sabe que depende de grana para fazer material, para publicação e para mídias sociais. Então, acho que, de alguns, faltou grana para a galera poder ser eleita”, diz.
Além disso, ela destaca a falta de divulgação, citando a necessidade de investir em materiais publicitários para que a população saiba quem são esses motoristas e o porquê de estarem se candidatando, mas pondera:
“A gente sabe que uma campanha pode ser muito cara e, às vezes, pode até nem compensar o que você vai gastar com o que vai receber durante quatro anos”.
A presidente também cita a participação política dos motoristas, que, em sua visão, só se preocupam com a representação em um momento de necessidade:
“Não deveria ser assim. Desde que entrei na categoria, me envolvo com as questões gerais. Participei de carreatas, fui a velórios de colegas vítimas de violência, ajudei a organizar vaquinhas para famílias em dificuldades”.
Nessa eleição, vimos que nenhum candidato a vereador que se apresentou como motorista foi eleito. Como você interpreta essa situação?
É lamentável a gente não ter eleito nenhum vereador em nenhuma cidade do país como representação da classe. Porque a gente sabe que, para ter uma categoria unida, organizada, a gente precisa ter representação, seja na esfera estadual, municipal ou federal. Tem que ter. Então, se a gente não teve na municipal, dificilmente a gente vai ter na estadual e na federal.
Infelizmente, vamos ter que continuar dependendo daqueles vereadores que já estão nas câmaras municipais. Tem que ir lá e implorar ajuda para a categoria, tentar buscar e tentar entrar na pauta dos motoristas e das motoristas de aplicativo. É lamentável a gente não ter eleito ninguém.
A gente vem de uma categoria muito dispersa, uma categoria que vem de outras categorias. É normal que eles não se sintam representados por algumas pessoas que estão ali como candidatos.
Não tivemos nenhum, vale a pena lembrar, candidato sindicalista que estivesse na mesa de trabalho do governo federal e que estivesse como candidato agora. Tivemos, se não me engano, só em Rondônia. Mas também não se elegeu.
Então, acho que falta um pouco de consciência de classe dos motoristas e das motoristas para realmente votar em quem está ali lutando pela categoria.
Porque eles não se sentem, muitas vezes, representados até serem bloqueados, até terem algum problema na plataforma e virem pedir para o sindicato ajudar, para o vereador que está lá ajudar ou para qualquer outro.
Acredito que falta, sim, consciência de classe para os motoristas e para as motoristas colocarem motorista de aplicativo que está ali dando a cara a tapa, sendo candidato, colocando as ideias, expondo e tentando melhorias para a categoria, seja ele de sindicato ou não.
Faltou esse incentivo, além, claro, da consciência de classe que os motoristas não têm. Muitos são desligados. Eu vi motorista fazendo campanha para vereador que já votou contra motorista. Então, falta muita consciência de classe.
Por que você não se candidatou como vereadora? Deseja ingressar na política?
No meu entendimento, nunca foi a minha vontade ser uma candidata a vereadora aqui na cidade. Eu acho que contribuo mais estando dentro da entidade. A nossa entidade é sem fins lucrativos, é um sindicato, não tem grana. E o que a gente faz é praticamente de coração, por amor, e sabendo que realmente aqueles motoristas precisam de ajuda.
É motorista que sofreu agressão, é motorista que foi bloqueado por alguma coisa injusta. Então, a gente está aqui para fazer um trabalho em prol da categoria, sem pensar que amanhã eu quero ser candidata. Não, nunca foi a minha intenção.
A minha intenção nunca foi ser candidata mesmo a vereadora. Quem sabe, futuramente, alguma outra coisa. Mas a intenção é continuar no sindicato, fazendo o nosso trabalho como a gente vem fazendo ao longo do tempo. Levar o nosso debate para fora do país também.
O Encontro Mulher, por exemplo, é uma representatividade para fora do país. Nós temos um grupo de mulheres latino-americanas que trabalham com aplicativos, sejam entregadoras, sejam motoristas, ou que trabalhem dentro das empresas.
Então, a nossa ideia é levar as nossas reivindicações para fora também, mostrar que a gente é motorista, que a gente é trabalhadora e que temos direitos também.
Sobre a não reeleição do Marlon, você tem alguma hipótese do que houve?
Eu não sei avaliar com certeza, mas acredito que houve muita fake news. Ele mesmo divulgou muita coisa que não era verdade, tanto sobre a regulamentação, colocando os motoristas contra o sindicato, contra os presidentes do sindicato. Acho que houve muito isso.
Não houve, da parte dos sindicatos, nada contra ele, mas eu acredito que ele, em vez de ganhar a categoria, acabou afastando aqueles que poderiam votar nele. Então, acredito que foi um pouco disso. Muita fake news lançada, desmentida pelo próprio governo, desmentida pelos sindicatos, desmentida por muita gente.
Ele acabou afastando muita gente que queria votar nele. Ele é de um partido de direita, e eu acho que isso, por si só, não iria influenciar. Mas, se ele não tivesse divulgado tanta fake news como foi durante a campanha dele e antes da campanha, talvez fosse diferente.
Você acredita que a classe possa ser sub-representada em Brasília? Tem alguma pessoa específica que possa ajudar na causa de vocês?
Daqui a dois anos tem eleição de novo. Então, é o período de eleição para deputado federal e estadual. Eu acredito que possa ser que a gente consiga eleger alguém, mas vai depender de muito trabalho da galera que vai ser candidata para a gente colocar alguém lá como representante.
Hoje, eu não vejo um nome que possa ser representação da categoria em Brasília. Mas acredito que a gente precisa disso, tanto na esfera estadual quanto na federal, principalmente federal. Para a nossa pauta estar lá dentro do Congresso, a gente precisa de alguém a nível federal para debater e colher as demandas da categoria.
Hoje, eu não vejo nenhum nome forte que pudesse ser o candidato ou a candidata dos motoristas de aplicativo em Brasília.
Mas acredito que tem que ser um trabalhador mesmo, uma trabalhadora que tenha mais afinidade com a categoria. Não pode ser qualquer pessoa que veio do nada, apareceu e quer ser representação, mas nunca sentou dentro de um carro, nunca dirigiu de noite, nunca atendeu um passageiro.