O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, acusou os aplicativos de entrega de não realizar o repasse das gorjetas para os entregadores.
Segundo ele, um empresário o confidenciou que sempre pagava gorjeta usando a funcionalidade do próprio aplicativo. No entanto, em conversas com entregadores, nenhum deles afirmava receber gorjeta. “Se você quer dar gorjeta para o entregador, entregue em moeda, na mão dele, porque a plataforma não repassa para o trabalhador”.
Procurado, o IFood afirmou que 100% do valor das gorjetas são repassadas diretamente pelo app aos entregadores. “Acreditamos que a gorjeta é uma forma de reconhecimento do cliente por uma boa entrega, funcionando também como estímulo para o entregador e contribuindo para melhoria nos seus ganhos”.
A empresa ainda explicou que o repasse é feito semanalmente, somado ao valor trabalhado pelo entregador no período, por transferência bancária.
“O IFood trabalha com total transparência em relação às gorjetas. Até outubro deste ano, foram R$ 37 milhões em gorjetas repassados integralmente para os entregadores. O valor médio foi de R$ 4,15”.
Já a Rappi afirmou que todo valor da entrega é repassado aos entregadores e que a empresa não cobra nenhuma taxa ou percentual dos entregadores. Além disso, 100% do valor da gorjeta é repassado para o entregador.
Ministro criticou aplicativos de entregas
Durante a entrevista, o ministro voltou a falar sobre o processo de regulamentação do trabalho por aplicativo. Marinho reafirmou que as negociações entre motoristas e apps de transporte avançaram, enquanto a mesa dos entregadores com apps de entregas ficou estagnada.
“As partes chegaram a um valor sobre bases de jornada mínima, remuneração e contribuição previdenciária. Neste momento estamos trabalhando na redação. Não vou revelar ainda, pois precisamos ter a redação fechada”.
O ministro também afirmou que é preciso ter cautela na divulgação de qualquer notícia, pois ele não conhece as empresas e não sabe se pode ou não confiar. “Eu conheço os dirigentes da Uber no Brasil, mas não no mundo. Então eu preciso confiar no que está escrito, não nas pessoas”.
Marinho também criticou as empresas de entregas, afirmando que elas não chegaram a um valor mínimo para que os entregadores sustentem dignamente suas famílias. “Elas falaram que o valor não cabia no escopo, mas eu pergunto: qual é o escopo? O da super exploração?”.
O ministro voltou a afirmar que a sociedade precisa questionar o valor do trabalho. “A sociedade precisa ter clareza quando contrata um aplicativo para entregar sua refeição, que ela espera que chegue rápido e quente. Que tipo de remuneração ela deseja que o trabalhador tenha? Que ele tenha a mesma condição de usufruir aquele alimento ou que tenha condições de garantir uma boa condição econômica para sua família”.
Segundo ele, vê-se no mundo e no Brasil uma situação em que o trabalho parece não ter valor. “Quantos anos o trabalhador consegue ficar nessa situação sem adoecer ou sofrer um acidente?”.
Governo entrando na disputa?
Perguntado se o governo poderia criar um aplicativo próprio, Marinho afirmou que há algumas experiências pelo Brasil, como o Mobizap em São Paulo e que, apesar do aplicativo não ter decolado, dirigentes o confidenciaram que a empresa estaria entrando em uma nova fase de expansão.
“Eu fiz uma provocação aos Correios e reforço. Eles deveriam fazer um aplicativo e colocar à disposição, dentro do ponto de vista do seu negócio. À princípio, o presidente dos Correios achou interessante e espero que estudem para valer o assunto, ou outras empresas públicas que possam se interessar no debate. Seria muito saudável para a sociedade brasileira um olhar sobre a contratação deste tipo de serviço que não fique apenas nas mãos de pessoas que queiram ficar apenas mais bilionárias do que já são”.