Debora Gershon, diretora de Políticas Públicas e Economia da plataforma, afirma que a jornada média semanal dos entregadores é de 13 a 17 horas, e o ganho mensal médio estimado é entre R$1.980,00 e R$2.039,00
No último dia 23 de julho, Debora Gershon, Diretora de Políticas Públicas e Economia do iFood, participou de um evento no qual discutiu dados e pesquisas sobre o setor de intermediação de entregas no Brasil, o perfil dos entregadores e questões regulatórias.
Gershon iniciou sua palestra apresentando dados de um estudo realizado pelo CEBRAP em 2023, patrocinado pela AMOBITEC, envolvendo 1.507 entrevistas com treinadores e 1.518 entrevistas com motoristas: “Hoje estima-se que sejam 386 mil entregadores das plataformas digitais no Brasil, dos quais 97% são homens”, afirmou. A pesquisa também revelou que a maioria dos entregadores tem ensino médio completo, 70% são negros, e a renda familiar média é de até três salários mínimos.
A Diretora destacou a importância da educação e as discriminações enfrentadas por essa população: “Para o entregador, a educação ainda é um ativo bastante importante, especialmente do ponto de vista da mobilidade social”, disse. Além disso, enfatizou que 70% dos entregadores já tinham uma ocupação anterior a entrar na plataforma, o que, segundo ela, refuta a ideia de que a adesão ao trabalho por aplicativos é exclusivamente uma falta de opção no mercado de trabalho.
Sobre a satisfação dos entregadores, Gershon compartilhou que “70% dizem que querem continuar trabalhando mediados pelos apps, e 10% procuram o trabalho para substituir essa atividade”. Ela explicou que isso demonstra uma escolha presente na adesão a esse tipo de ocupação, motivada pela flexibilidade e autonomia.
Quanto aos ganhos e jornada de trabalho, Gershon informou que o ganho bruto por hora na plataforma é de R$23,00, com um ganho líquido estimado entre R$10,00 e R$19,00. A jornada média semanal é de 13 a 17 horas, e o ganho mensal médio estimado é entre R$1.980,00 e R$2.039,00: “O engajamento do entregador nas plataformas é baixo”, observou, destacando que apenas 0,5% dos entregadores trabalham com uma jornada semelhante à de um empregado CLT.
Especificamente em relação à jornada de trabalho na plataforma iFood, Gershon destacou que os entregadores Nuvem, conectados diretamente à plataforma e representando mais de 90% da base de entregadores, serão os efetivamente alcançados pela regulamentação.
Ela explicou que muitos desses entregadores tem engajamento baixo, com uma média de 62 horas por mês: “Tanto a hora logada quanto trabalhada são baixas. Tem muito mais gente trabalhando menos horas do que a média do que mais horas”, explicou.
Gershon enfatizou a importância de desfazer o mito de que o trabalho nas plataformas digitais é necessariamente de jornada excessiva e exaustiva: “É importante para a gente desfazer o mito, muitas vezes várias notícias veiculadas sobre a precarização do trabalho nas plataformas digitais o comparam ao trabalho análogo à escravidão”, afirmou.
Ela compartilhou sua experiência no combate ao trabalho escravo contemporâneo no Brasil e considerou um desserviço esse tipo de comparação, especialmente ao olhar para dados de baixo engajamento, salários e condições de vida proporcionadas pelo iFood, segundo ela.
Ao abordar a regulamentação do trabalho dos entregadores, Gershon declarou: “O iFood apoia a regulamentação desse trabalho desde 2021”. Ela explicou que o objetivo é garantir segurança jurídica para os trabalhadores e para a empresa. A discussão regulatória inclui a natureza jurídica da relação entre trabalhadores e plataformas, transparência, previdência e ganhos.
Gershon concluiu ressaltando os desafios e a importância de avançar na regulamentação, mencionando que nenhuma regulação internacional conseguiu ainda um modelo de previdência pública adequado para trabalhadores de plataformas digitais: “Estamos tentando criar uma política que seja exemplo para o mundo, o que é um grande desafio”, finalizou.