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terça-feira, novembro 28, 2023

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Fundada por professora, cooperativa de entrega paga mínimo de R$ 2,50 por Km rodado

Señoritas Courier é uma cooperativa dedicada a fazer entregas de bicicleta e que conta apenas com entregadoras mulheres e da comunidade LGBTQIA+.

Durante a última semana, a equipe do 55 conversou com Aline Os, fundadora do coletivo Señoritas Courier – organização cooperativa dedicada a fazer entregas de bicicleta, fundada em 2017. O coletivo é único na medida em que se concentra especificamente no empoderamento de mulheres e na comunidade LGBTQIA+ que buscam uma renda extra e uma alternativa cooperativa no setor de entregas urbanas.

A criadora do coletivo conta que entrou para o ramo das entregas por bicicleta em 2015 para complementar sua renda. Em meio a uma fase de insatisfação profissional e luta contra a depressão, Aline encontrou na bicicleta não apenas um meio de transporte, mas uma terapia que a ajudou a manter a saúde mental.

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A ideia de criar o coletivo nasceu após dois anos de experiência no setor de entregas. A fundadora afirma que o objetivo era oferecer uma alternativa de renda para pessoas em situação de vulnerabilidade, mas também promover um espaço de trabalho colaborativo, onde todos pudessem ter voz nas tomadas de decisões. A estrutura do coletivo é baseada em princípios cooperativistas, e Aline revela que nunca teve a intenção de ser uma CEO ou proprietária.

A fundadora destaca que com a pandemia em 2020, o coletivo ganhou ainda mais relevância. Quando Aline perdeu seu emprego como assistente de um acervo fotográfico, decidiu dedicar-se inteiramente ao Señoritas Courier, – projeto em que acreditava firmemente.

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Organização e estrutura do coletivo

Atualmente, segundo a fundadora, o coletivo conta com 10 membros, que desempenham diferentes funções além das entregas, como operações, redes sociais, e busca de financiamento. Além disso, o coletivo expandiu suas atividades para oferecer formação em mecânica de bicicletas, e tem parcerias com o SESC e a Prefeitura.

“Não somos apenas um coletivo de entregas, expandimos para atuar em outras áreas, a fim de gerar mais renda para as pessoas. Desde 2014, eu já desenvolvia um projeto pessoal chamado Selim Cultural, que consistia em criar roteiros culturais de bicicleta com foco na diversidade de corpos e nos territórios que atravessamos. Não era apenas sobre turismo ou cicloturismo, mas algo voltado para o aspecto social. Com o Señoritas Courier, começamos a desenvolver uma parceria no final de 2021, oferecendo formação para que as entregadoras pudessem criar roteiros, levando em consideração suas próprias realidades e os territórios pelos quais passavam diariamente”, explica Aline. 

“O objetivo era permitir que essas pessoas entregassem mais do que apenas produtos e encomendas, mas também cultura e história, suas próprias histórias. Assim, o Señoritas Courier surgiu nesse contexto, com as 10 pessoas que compõem o coletivo. Começamos a desenvolver projetos e, desde o final de 2020, também abordamos a inclusão digital, criando iniciativas nesse sentido. Todas as pessoas podem participar de todos os projetos, desde que tenham interesse e disponibilidade. Dentro do coletivo, enfatizamos que não é obrigatório fazer algo se não houver interesse ou disponibilidade. Cada pessoa é livre para escolher como quer se envolver. Até agora, temos caminhado muito bem dessa forma”, completa a criadora.

Aline ainda conta que ao longo do tempo, o Señoritas Courrier passou por várias fases, e teve diferentes formatos de processamento de pedidos. “Durante o auge da pandemia, tínhamos entregas e demanda o tempo todo, e contávamos com um número maior de bikers do que temos atualmente. Chegamos a ter uma operação com 18 a 20 bikers ativos. No entanto, hoje em dia temos menos bikers porque a demanda de entregas diminuiu.”

Segundo a criadora, o processo de seleção das entregadoras para o coletivo Señoritas Courier envolve várias etapas. Primeiro, as candidatas preenchem um questionário que avalia seu envolvimento com o uso da bicicleta e sua familiaridade com o cooperativismo e coletivismo. Depois, passam por entrevistas e treinamentos, tanto online quanto presenciais, para garantir sua aptidão para o trabalho. As candidatas são informadas sobre todas as facetas do coletivo, incluindo projetos e formas de contribuição. “O objetivo é que elas vejam o Señoritas Courier não apenas como uma fonte de renda, mas como uma rede de apoio e colaboração, onde podem continuar contribuindo mesmo após pararem de fazer entregas”, finaliza. 

Os pedidos são processados de acordo com o entendimento do coletivo sobre logística. Os clientes podem entrar em contato diretamente ou enviar uma lista de entregas. O coletivo trabalha com uma variedade de clientes, incluindo ONGs, organizações do terceiro setor, e empresas que necessitam de entregas sazonais.

“O processo de recebimento de pedidos geralmente ocorre quando o cliente entra em contato conosco ou nós entramos em contato com eles. Existem diferentes tipos de clientes, e não trabalhamos, por exemplo, com entregas de alimentos para consumo imediato, como o serviço de delivery. Sabemos que esse é um mercado que paga menos e é altamente precarizado. No entanto, outros clientes podem entrar em contato conosco, enviar a lista de entregas que precisam ser feitas, e processamos essas informações com base em nosso conhecimento em logística. Em seguida, entramos em contato com a biker responsável pela entrega”, conta. 

Aline revela que o repasse financeiro para as entregadoras parceiras é feito semanalmente, uma decisão tomada coletivamente. A taxa por quilômetro de entrega não é inferior a R$2,50. “Atualmente, o valor médio por quilômetro de entrega realizado pelas entregadoras é de pelo menos R$2,50. Com base nesse valor, é possível fazer uma estimativa de ganhos mensais, considerando uma demanda completa de seis horas diárias. No entanto, é importante levar em conta fatores como o peso transportado, a quilometragem percorrida e a carga horária de trabalho, uma vez que estamos falando de entregas realizadas por bicicleta”, afirma Aline. 

Embora o coletivo ainda seja informal e não tenha um CNPJ, isso não impediu o desenvolvimento de relações duradouras com alguns clientes, e, segundo ela, há planos para a formalização da cooperativa nos próximos meses.

Desafios: formalização como cooperativa e busca por recursos financeiros

Quando questionada sobre quais são os maiores desafios do coletivo atualmente, Aline discorre justamente sobre a questão da formalização como cooperativa. Segundo ela, ser uma cooperativa no Brasil não é uma tarefa fácil, e inicialmente a falta de um CNPJ impediu a cooperativa de realizar contratos, o que limitava suas oportunidades. No entanto, esse desafio está sendo resolvido e a cooperativa agora está finalizando o processo de criação de um CNPJ, o que facilitará a realização de contratos no futuro.

Outro desafio enfrentado pela Señoritas de acordo com Aline é a questão financeira. A cooperativa deseja oferecer bolsas de estudo em linguagem de programação e tecnologia para pessoas de baixa renda, especialmente aquelas que precisam trabalhar para se sustentar. No entanto, para oferecer essas bolsas, a cooperativa precisa de recursos financeiros. Eles buscam captar esses recursos por meio de editais e possíveis apoiadores, mas isso ainda é um desafio.

Além disso, Aline conta que a cooperativa precisa desenvolver uma plataforma para melhorar seus serviços e atrair mais clientes. No entanto, isso também requer recursos financeiros para cobrir os custos de infraestrutura, equipe de desenvolvimento e divulgação. “A comunicação é um aspecto fundamental para competir com outras plataformas já estabelecidas no mercado, mas investir em comunicação é um desafio significativo devido aos altos custos envolvidos”, revela a fundadora. 

Por fim, a cooperativa tem uma visão para o futuro de expandir sua atuação para outras cidades, como Belo Horizonte, Macapá e Manaus. No entanto, essa expansão apresenta desafios adicionais, pois é necessário entender as realidades locais e adaptar-se a elas. Embora esse desafio não seja uma prioridade imediata, a fundadora afirma que a cooperativa reconhece a importância de abordá-lo no futuro.

De acordo com Aline, o coletivo não possui apoio financeiro ou institucional. No entanto, eles contam com o apoio voluntário do núcleo de tecnologia do MTST, que está ajudando a desenvolver a plataforma. Além disso, têm uma parceria com a pesquisa de pós-graduação na Unicamp e o apoio do núcleo jurídico da Faculdade de Direito da USP, especificamente com o SanFran Jr, que auxilia no desenvolvimento e criação da cooperativa. “Esses são os apoios atuais que recebemos. Vale ressaltar que não temos apoio financeiro de nenhuma instituição. Nós mesmas somos nosso principal suporte e estamos constantemente buscando clientes e oportunidades para moldar nosso trabalho. É assim que atuamos atualmente”, explica a fundadora. 

Visão Futura: Expansão e desenvolvimento

Para Aline, o futuro do coletivo Señoritas Courrier pode ser visto de várias maneiras. “Primeiramente, pretendemos continuar como uma cooperativa de entregas, aprimorando nossa atuação na logística de última milha e expandindo para mais cidades. O objetivo principal é oferecer trabalho decente e impulsionar o cooperativismo, lutando contra a precarização do trabalho das plataformas.”

Há a ideia de criar ainda uma plataforma própria de entregas de trabalho, um modelo cooperativista com um algoritmo próprio que coloca os trabalhadores no centro das decisões. O algoritmo seria disponibilizado para qualquer iniciativa com o mesmo olhar para o cooperativismo.

“Nossa intenção é incentivar o cooperativismo e combater a precarização do trabalho nas plataformas. Almejamos criar uma plataforma própria de entregas cooperativistas, com um algoritmo que coloque os trabalhadores no centro das tomadas de decisão, garantindo trabalho decente e remuneração justa. Estamos considerando expandir para outras cidades e estados ou apoiar iniciativas cooperativistas em todo o país, disponibilizando nosso algoritmo para qualquer iniciativa que compartilhe nossa visão cooperativista”. 

Existem também planos de ampliar as atividades do coletivo além das entregas. As entregas seriam uma porta de entrada, mas os membros teriam oportunidades de se desenvolverem em outras áreas, acessando formações, participando de projetos envolvendo tecnologia e contribuindo para transformar as cidades e comunidades onde trabalham. Isto envolve cursos de mecânica, projetos tecnológicos, mapeamento, coleta de dados, e soluções de logística para economia de carbono.

O coletivo acredita que, na era digital, os dados produzidos pelos trabalhadores lhes pertencem, o que é uma consideração importante em seus projetos futuros. No geral, a visão é de que o coletivo se tornará um terreno fértil que pertence aos trabalhadores, onde poderão cultivar novas ideias e projetos.

“Além disso, acreditamos que o coletivo tem a capacidade de desenvolver outras frentes que envolvam condições dignas de trabalho. Atualmente, estamos envolvidos em projetos nesse sentido e gostaríamos de ver mais pessoas participando. Entendemos que as entregas podem servir como uma porta de entrada, mas queremos oferecer oportunidades de desenvolvimento para os trabalhadores, por meio de formações, inclusão digital e projetos relacionados à bicicleta e à transformação das cidades e comunidades onde atuamos.”

“Para o futuro, esperamos aprimorar esses projetos, incluindo cursos de mecânica, soluções tecnológicas, mapeamento, coleta, tratamento e uso de dados. Reconhecemos que os dados são uma mercadoria valiosa e acreditamos que, se os trabalhadores estão produzindo dados, eles devem ser donos desses dados. Também enxergamos o potencial do coletivo em reduzir as emissões de carbono e promover uma economia de baixo impacto ambiental, utilizando isso como incentivo para conquistar mais mercado e encorajar o uso da bicicleta. No geral, buscamos criar um ambiente onde os trabalhadores se sintam empoderados e donos do que produzem. Queremos desenvolver projetos que beneficiem não apenas o coletivo, mas também a comunidade em geral”, conclui Aline. 

Giulia Lang
Giulia Lang
Giulia Lang é graduanda em jornalismo pela Cásper Líbero e jornalista do 55content.
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