A empresa fornece mochilas e bags para entregadores e aplicativos e já chegou a produzir 3.500 bags por mês.
Na última semana, a equipe da 55 Content conversou com Isabella Sarkis, fundadora da iBags. A iBags é uma empresa especializada na criação de soluções para o universo completo da e-logística, atendendo plataformas de transporte, entrega rápida e comércio eletrônico.
A empresa nasceu quando a fundadora recebeu um pedido para desenvolver mochilas para o Uber Eats. Sarkis já trabalhava com mochilas, mas, mesmo nunca tendo feito bags específicas para delivery, aceitou o desafio. Esse evento marcou o início da operação da iBags, focada na produção nacional para cumprir prazos e manter os custos competitivos.
Atualmente, a iBags contempla tanto o mercado B2B, atendendo desde grandes aplicativos até serviços regionais, quanto o B2C, disponibilizando produtos através de sua loja física, site próprio e marketplaces. A empresa mantém oito modelos diferentes em seu portfólio, e chega a produzir 3.500 bags por mês.
A expansão do negócio se deu através do reconhecimento do crescimento do setor de delivery no Brasil, levando a iBags a se conectar com outros aplicativos de entrega como o iFood. Este crescimento foi acelerado pela pandemia de COVID-19, quando a demanda por serviços de entrega disparou.
De acordo com a fundadora, a iBags se diferencia no mercado pela proximidade com seus clientes, especialmente os entregadores. A empresa interage diretamente com esse público para coletar feedbacks e adaptar seus produtos às necessidades reais do trabalho de entrega. Isso resultou no desenvolvimento de mochilas térmicas mais ergonômicas e práticas, além de modelos especializados para diferentes tipos de carga.
A loja física em São Paulo, na Avenida Juscelino Kubitschek, oferece um espaço de convivência para os entregadores, equipado com comodidades como bebedouro, microondas e tomadas para carregar o celular, além de servir como ponto de venda.

O futuro da iBags inclui não apenas a melhoria contínua de seus produtos, mas também a expansão de seu catálogo e a ampliação de parcerias estratégicas, como a já existente com a Mottu.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:
Queria que você começasse falando um pouco sobre como surgiu a empresa. Qual foi a sua motivação para isso? Como foi lá no comecinho?
Eu já trabalhava com importação de mochilas padrão mesmo, para notebook, mochilas corporativas. E aí, a partir dos contatos que eu tinha no mercado, uma pessoa me procurou para fazer uma mochila de delivery. Na época a empresa que eu trabalhava não fazia esse tipo de produto, aí eu estudei a possibilidade de trazer esse produto da China, que era onde a gente trazia as outras mochilas. Mas o aplicativo, que na época era o Uber Eats, ele tinha um prazo muito curto e para produzir na China o tempo de produção, mais o tempo de navio é de pelo menos 3 meses e não ia dar para atender com esse tempo. Eles precisavam no máximo começar a entregar em 40 dias e finalizar em 2 meses.
Como eu entendo de mochila e eu já estava basicamente negociando com o aplicativo, eu fui atrás de parceiros nacionais para desenrolar isso. Eu consegui, e a gente entregou esse primeiro pedido, que era de 10 mil mochilas. E aí a gente começou esse relacionamento com o Uber Eats fazendo tudo nacionalmente, porque a gente conseguiria atender tanto no prazo quanto no preço também.
E como foi expandir essa relação para além do Uber Eats? Hoje em dia vocês atendem mais aplicativos? Como foi a expansão?
Tudo isso começou no final de 2018; essa primeira entrega foi no primeiro trimestre de 2019. O delivery estava crescendo muito aqui no Brasil, o iFood estava crescendo muito. Eu percebi isso, e fui atrás do iFood, como um cold call. Fui pelo LinkedIn, procurei pessoas que eu conhecia que trabalhavam lá para me indicar o pessoal de compras ou que cuida da parte de operação de relacionamento com o motoboy, de entregador. Eu falava para me indicar para apresentar os produtos que a gente consegue fazer aqui no Brasil e ver se eles têm interesse.
E foi assim, deu certo. A partir daí, eu fui evoluindo para os outros aplicativos. O primeiro foi o Uber Eats, depois o iFood. E a gente foi evoluindo até o ponto de os aplicativos começarem a procurar a gente para produzir as bags.
E como entrou a pandemia nisso? Como foi para vocês suprir essa demanda do delivery, que deve ter aumentado muito?
Aumentou muito mesmo. Eu estava no hospital porque tinha acabado de ter filho; o Pedro nasceu dia 31 de março de 2020, e os clientes ficavam entrando em contato. Na época eu atendia atacado, pedido sob encomenda, então era na maioria aplicativos. O Uber Eats, iFood, e na época eu já tinha relacionamento também com a 99, e com outros aplicativos, como o James, que existia na época.
E eu estava na maternidade respondendo ali, fechando o pedido porque eles estavam desesperados porque tinha aumentado muito a procura e a demanda para eles, e eles precisavam de mochila porque sem a mochila não existe operação de delivery, né? Então para a gente foi uma oportunidade de crescimento e foi um desafio também porque estava tudo fechado também. Então a gente tinha que ir atrás de fornecedores que conseguiam entregar tecido para conseguir mandar para a oficina fazer. Foi um desafio. Mas foi quando a gente teve essa oportunidade de crescer e foi quando eu também saí dessa outra empresa que eu trabalhava.
Eu saí durante a minha licença de maternidade e foquei 100% na iBags. E foi o ano também, 2020, que eu percebi que existia uma demanda aí também de uma oficina. E foi o ano que a gente criou a loja, com um produto para vender varejo, com espaço para o entregador… Então foi um ano de muita oportunidade de crescimento e um ano que a gente ampliou a estratégia, não só do atacado B2B, mas a gente também partiu para o B2C.
Você pode explicar um pouco como funciona, tanto o B2B (negócios para negócios) quanto o B2C (negócios para clientes)?
No B2B nós atendemos os principais aplicativos ou até aplicativos menores também, existem muitos aplicativos regionais que procuram a gente. Nós fazemos uma cotação do modelo que eles querem, se são modelos que a gente já tem ou são modelos que eles querem desenvolver.
Se são modelos novos que eles querem desenvolver, a gente faz um protótipo, eles aprovam, e aprovando a gente faz um produto. A nossa produção é nacional.
No B2C, eu tenho os modelos. Hoje a gente tem os oito modelos que a gente vende aqui na loja. A gente vai fazendo essa gestão de estoque a partir da venda tanto aqui na loja física quanto no site da marca, e em marketplaces. Hoje, a gente vende no Mercado Livre e Shopee. A gente vai fazendo essa gestão de estoque, produzindo mais mochilas de acordo com as vendas.
No B2C a gente também tem uma parceria com a Mottu, que é um aplicativo de locação de motos. É a gente que produz exclusivamente as bags da Mottu. E a gente vende as bags nas lojas deles também. É como se fosse uma store in store da iBags dentro das lojas da Mottu com a nossa maquininha ali. Então, é varejo também vendendo as bags pro entregador ou a pessoa que vai alugar a moto e compra a bag ou se quiser só comprar a bag também.
Como foi pra você, que já trabalhava com mochila mas não exatamente com isso, fazer a concepção e o design dessas mochilas? Hoje tem vários diferentes? Como funciona?
No começo a gente fazia a mochila isopor, que é o padrão mais tradicional do mercado. Esse primeiro pedido do Uber Eats e os primeiros pedidos do iFood, eram sempre a mochila padrão. Eles trouxeram o que eles precisavam, e a gente fez exatamente o que eles queriam.
Em 2020, com a abertura da loja e com esse contato com o consumidor final aqui na loja, com eles vindo para comprar e conhecer o espaço, no site também, Mercado Livre, Marketplace… a gente foi tendo mais inputs deles porque a gente tinha mais pontos de contato direto com o público de interesse principal, que é o entregador. Eles falaram: ah, esse aqui entra água pelo zíper, aí a gente fez uma cobertura pro zíper. Ah, podia ter um bolso pra eu guardar meus itens pessoais, a gente fez.
Então foi muito a quatro mãos, junto com o principal público de interesse, que é o entregador, a gente foi melhorando esses produtos. E percebemos que também tinha oportunidade para sair do isopor, e criamos a bag especial também, que é uma bag toda térmica sem isopor, então ela dobra e fica muito mais confortável pra ele usar nas costas o dia todo. Ela também pode ser colocada no baú, então não precisa ficar nas costas.
Foi quando a gente desenvolveu outros modelos também para quem trabalha, por exemplo, trabalha mais com supermercado ou mais com bebida, que são produtos mais pesados. A gente fez uma bag mais estruturada, a partir desse contato com eles aqui na nossa loja.
Esse contato também foi a motivação para criar o cantinho dos entregadores? Vocês viram essa necessidade?
Com certeza. Quando a gente concebeu a loja, a gente pensou também que a gente queria ter um atrativo para trazer o entregador pra perto, para ter esse canal de diálogo com eles. Então desde o começo da criação da loja a gente já tinha esse cantinho do entregador com um bebedouro, ele pode usar o banheiro aqui da loja, tem microondas pra esquentar marmita, pode usar a tomada pra carregar o celular, já que eles dependem do celular pra trabalhar.
A gente quis trazer o entregador pra perto justamente ter um atrativo e ter esse diálogo com eles, e também como uma forma de retribuir. Porque, principalmente naquela época da pandemia, eles estavam nas ruas e foi por causa deles que todo mundo conseguiu ficar em casa. Então pra retribuir um pouco o que eles fazem pela sociedade como um todo.
E vocês têm planos de abrir mais lojas físicas em São Paulo ou em outros estados?
A gente percebe que existe uma carência em outros lugares de um modelo de loja como o nosso, que não é só o produto em si mas tem uma experiência de marca. A gente ainda está sem planos, mas é uma coisa que está em aberto. Pode existir essa possibilidade no futuro.
Em média, quantas bags são vendidas por mês?
Como atacado e varejo são, na média no ano, 3.500 bags por mês. Claro que tem meses que vendem mais porque entram mais pedidos do atacado e aumentam a média, mas na média do ano por mês é isso. São 3.500 bags, somando o atacado com o varejo.
Quais são os próximos passos da iBags? Vocês querem só melhorar as mochilas que vocês já têm ou querem ampliar o catálogo? Tem alguma coisa em desenvolvimento?
Acho que ampliar o catálogo sempre pensando na funcionalidade para os entregadores. A gente não atende só delivery de comida, tem delivery de e-commerce também. Entrega do mesmo dia, dia seguinte. Então a gente criou outras mochilas maiores para esse tipo de entrega. É tudo muito orgânico, porque esse mercado de mobilidade tem muita coisa surgindo, a gente precisa sempre entender o que está acontecendo, as empresas que estão surgindo no mercado. A gente quer facilitar a vida do entregador e tornar as operações das empresas possíveis. Acho que surgem novos produtos futuramente, quem sabe, novas lojas. Ampliar essa parceria que a gente tem com a Mottu, que é uma parceria bacana para a gente. E ampliar com outros aplicativos também.
Existem alguns aplicativos que usam a nossa loja como um ponto de experiência. Então fazem eventos para os entregadores deles com café da manhã, por exemplo. Queremos ampliar esses relacionamentos também, com outros aplicativos.
Qual você diria que é o maior desafio que você enfrenta atualmente na empresa?
Eu diria que é combinar esse produto extremamente funcional e que aguente o tempo, a rua e essa vida do entregador com o preço. Eu acho que é o maior desafio hoje. Acertar essa combinação, porque não adianta também a gente desenvolver um produto perfeito e tudo mais, mas que não atenda em preço e que também não seja lucrativo para a empresa. Acho que o maior desafio é esse. A gente conseguir equalizar um produto bacana e funcional, que dure, com o preço que o entregador pode e consegue pagar. Somos uma empresa que preza pelo lado humano mesmo. Quem está usando o produto, e não só uma venda.