Motoristas de app ganham R$1 a R$1,50 por km; entregadores pedem R$2,50 na paralisação, mesmo com custo de operação menor que nós

Raramente recebemos R$ 1,50 por km rodado. Entregadores pedem R$10 por entrega e R$2,50/km — o que pra nós também seria justo: R$2,50 ou até R$3,00.

Homem dentro de um carro fala enquanto dirige, com uma sobreposição de texto apresentando propostas relacionadas a motoristas de aplicativo e entregadores.
Foto: Samuel de Almeida para 55content

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do 55content

Olá, pessoal, tudo bem com vocês? A maior paralisação em nível nacional dos últimos tempos está para acontecer. Essa paralisação promete parar o país e ser a maior da categoria — dos entregadores e, claro, de nós, motoristas por aplicativo também. A paralisação já tem data marcada: será nos dias 31 e 1º, segunda e terça-feira próximas.

E a gente precisa fazer essa paralisação porque a situação está bem difícil. Você imagina que precisamos, sim, pressionar essas empresas para que tenhamos melhores condições de trabalho. Não é possível que ninguém se movimente para fazer algo por nós. Então, nós mesmos vamos nos levantar e fazer isso por nós.

A gente sabe que os passageiros, as pessoas que pedem produtos para entrega, não têm nada a ver com isso. A gente entende. O problema é que a taxa da Uber, da 99 e do iFood é muito alta, e isso faz com que a gente ganhe cada vez menos.

Essa paralisação tem como objetivo pressionar essas empresas para que ofereçam melhores condições de trabalho para todos nós. E, olha, ela se destaca por pelo menos quatro pautas, que vou mostrar para vocês aqui. Os entregadores estão pedindo, por exemplo, uma taxa mínima de R$10 por corrida — o que também deveria valer para nós, motoristas por aplicativo, não apenas para os entregadores.

Uma taxa mínima de R$10 por corrida. Então, qualquer corrida que você for fazer, você tem que ganhar pelo menos R$10, o que seria, no caso, uma tarifa mínima.

Quilômetro rodado. Hoje, muito do que a gente recebe é algo em torno de R$1,00, R$1,20, R$1,30 — raramente chega a R$1,50 por quilômetro rodado. Os entregadores estão pedindo R$2,50. Lembrando que o custo deles é menor, pois trabalham com motos e consomem menos combustível.

Você imagina que, para nós, está abaixo de R$1,50 — raramente chegando a R$2,00. Os entregadores estão pedindo R$2,50, o que, para nós, também poderia ser suficiente: R$2,50 ou até R$3,00. Mas é isso que precisa pautar essa paralisação.

No caso das bicicletas, eles estão pedindo que haja uma limitação máxima de 3 quilômetros. Hoje, pelo que estou vendo, ultrapassa os 4 quilômetros para o pessoal que trabalha com bikes — o que é um absurdo. Fazer entregas de bicicleta, muitas vezes, significa trabalhar em locais com muita subida, com acessos difíceis. Imagina o raio ser de 4 quilômetros ou até mais.

Então, pedem uma limitação máxima de 3 quilômetros. E o pagamento integral por cada pedido, mesmo em entregas agrupadas na mesma rota. O que acontece hoje? Se você vai lá, busca vários produtos que estão na sua rota, eles dividem o valor e pagam um pouco por cada local que você entrega.

Quando, na verdade, deveria haver um pagamento integral por cada pedido que você fez, por cada entrega que você realizou. Isso é nada mais do que justo. E é necessário, sim, uma movimentação, uma manifestação, uma paralisação, porque não é possível aceitar tudo isso que está acontecendo.

As empresas já se posicionaram. A Uber, a 99, e a Amobitec — que responde pelo iFood, Uber, 99 e outras — estão dizendo que respeitam o direito à manifestação, que mantêm diálogo contínuo com os trabalhadores e que apoiam também uma regulamentação para o setor.

Falando em regulamentação, ainda esta semana o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, comentou sobre nós, motoristas por aplicativo, e pretende, sim, colocar novamente em pauta o Projeto de Lei nº 12. Esse projeto de lei foi criado pelo governo, discutido entre eles, mas nós, motoristas, não aceitamos, pois não traz sequer um benefício importante para nós.

O governo trata o PL 12 como “autonomia com direitos”, sendo que, se você for ver o teor do projeto, não temos autonomia. Não vamos ter autonomia. Autonomia seria poder ligar o aplicativo quando quiser, mas, a partir do momento que você liga, acabou a autonomia — você tem que atender o que a Uber ou a 99 quiserem. E os “direitos” que eles falam são apenas de previdência, nada mais.

A gente não vai ter nenhum benefício real, como, por exemplo, isenção de IPVA ou isenção de impostos para a compra de carro novo. Então, nada favorece o PL 12. E a gente vai ter que mostrar isso através das nossas ações, que acontecerão nos dias 31 e 1º. Chamamos e convocamos todos os motoristas por aplicativo para fazer isso junto com os entregadores.

Gente, se não for assim, a gente não vai conseguir nada. Todos os direitos trabalhistas, inclusive proteção social ou segurança jurídica, só serão conquistados com luta. E é isso que precisa acontecer,. 

Os dias 31 e 1º são só dois dias, mas, além deles, o que pedimos é conscientização. Para que a gente não continue aceitando essas corridas com valores ridículos, que muitas vezes nos fazem pagar para trabalhar.

Então, escolha bem: se você não vai parar nesses dias, pelo menos escolha as viagens de forma que você não acabe tendo prejuízo. Porque é isso que está acontecendo hoje — estamos pagando para trabalhar.

É isso aí. Estamos juntos. Vai nos acompanhando, que eu vou mostrando tudo para vocês em primeira mão. Um abraço, fiquem com Deus e até a próxima coluna.

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