fbpx

“A própria competição entre motoristas que pode fazer os ganhos reduzirem”: economista comenta cenário brasileiro

Renan Pieri, economista da FGV. Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal.

Concorrência entre motoristas, custos elevados e novas oportunidades no mercado: economista analisa os desafios da mobilidade urbana no Brasil.

Renan Pieri, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (EAESP), debate os temas relacionados aos ganhos e impactos do mercado de mobilidade urbana no Brasil.

Observando o crescimento na frota de motoristas de aplicativo, ele considera que essas plataformas de corridas afetam outros setores da atividade econômica no país, isso porque esse ecossistema está diretamente relacionado a demandas como motocicletas, fabricação de veículos pela indústria e consumo de combustíveis, tanto fósseis quanto biocombustíveis.

“As empresas são beneficiadas pelo serviço de transporte, as pessoas também, e isso traz um efeito que se espalha por toda a economia. Podemos observar um efeito bem positivo”, diz o especialista.

Sobre a diminuição dos ganhos dos motoristas ao longo dos anos, Pieri pondera que diversos fatores econômicos podem estar em jogo. Ele destaca que o crescimento do setor pode ter levado a um aumento na oferta de motoristas, intensificando a competição entre eles, o que, por sua vez, pode ter impactado os ganhos médios. “É a própria competição entre motoristas que pode fazer os ganhos reduzirem, mas não sei se é o fato que aconteceu”, reflete.

Além disso, ele considera que outras possibilidades no mercado de trabalho podem ter surgido para esses motoristas, o que altera sua percepção sobre as oportunidades disponíveis. “Pode acontecer também de outras opções de trabalho que esse motorista poderia ter melhoraram no período, porque o país cresceu mais, os salários, o mercado de trabalho como um todo cresceram mais. Então, talvez a percepção do motorista tenha mudado sobre as outras opções que ele tem”, conclui.

Existe uma faixa de remuneração ideal para garantir que motoristas continuem no setor sem prejuízo?
Sobre a faixa de remuneração ideal, ela não existe. O que acontece é que, dado o perfil dos motoristas, dos contratantes desse tipo de serviço, que são os motoristas de aplicativos, a remuneração média tem que cobrir o que a gente chama de custo de oportunidade do trabalhador. Quer dizer, ele tem que conseguir fazer na plataforma pelo menos o que faria em outra atividade no mercado de trabalho, já considerando aí todos os custos que ele pode ter como motorista de aplicativo, como combustível, manutenção de carro, financiamento de carro, etc. Então, tem que ser o mínimo, pelo menos, para cobrir isso.

O custo de combustível afeta todo mundo, inclusive tanto o motorista como também a empresa de aplicativo, porque isso é repassado, em parte, para o consumidor, o que acaba encarecendo o serviço e diminuindo as corridas, quando acontece.

Os aplicativos não têm responsabilidade de recompensar essas despesas porque eles não contratam esses trabalhadores. Pelo contrato jurídico, a operação é inversa: o trabalhador contrata o aplicativo para chegar até o cliente final que pede a corrida.

O que acontece na prática é que, como isso representa aumento de custo e pode inviabilizar a operação para o motorista, é natural que parte ou boa parte, se não tudo, seja repassado ao preço final. Então, essa é a proteção que o motorista vai ter.

Os aplicativos de transporte dependem de tarifas baixas para atrair usuários. Esse modelo é sustentável no longo prazo?
Depende muito da estratégia da empresa. As empresas de aplicativo de transporte chegaram ao Brasil com uma estratégia de growth, ou seja, de crescimento do mercado, seja no número de clientes, usuários, seja na base de motoristas.

Então, é natural que no começo essas taxas fossem mais baixas e que, a partir do tempo, uma vez que o mercado fica mais maduro, a tendência seja ajustar as tarifas para tentar fazer caixa. Então, é natural que ocorra esse processo.

Impacto de promoções e subsídios oferecidos pelas empresas no mercado de transporte urbano.
Não sei que empresas são, não saberia avaliar.

Criativos que adotam taxas fixas ou menores, como a InDrive, podem impressionar gigantes com os modelos Uber e 99.

Então, é natural que o mercado não tenha muitas barreiras de entrada. Se tem uma barreira de tecnologia, de ter o aplicativo, de ter o serviço de atendimento ao consumidor, aos motoristas, existem algumas barreiras, mas não é um mercado completamente fechado.

É natural que novos players apareçam com tarifas menores, para atrair motoristas, para atrair consumidores. Isso é natural do jogo.

Se vai pressionar os gigantes? Depende da agressividade com que esses aplicativos novos entrarem no mercado, tanto de dinheiro que foi colocado em publicidade, enquanto estiverem dispostos a bancar esse período de tarifas mais baixas para crescer mais.

Isso acontece em qualquer mercado, a gente chama isso de jogo do entrante. Cabe ao Uber e à 99 decidirem como vão lidar com esses entrantes: se vão adotar tarifas mais baixas para combater ou se vão apenas assimilar a entrada, dado que, como são empresas já bem estabelecidas no mercado, o entrante, mesmo que pegue uma parte do mercado, talvez não represente um share tão grande assim.

Pesquisar