Influenciador e motorista de app comenta sobre eleição e revela: “A categoria não elege representantes”.
Cláudio Sena, mais conhecido como Claudião, é influenciador e motorista de aplicativo e comentou sobre a campanha dos motoristas como candidatos a vereadores em todo o Brasil. Ele, que também tentou ingressar na política em 2020, mas não foi eleito, desenvolveu teorias sobre os resultados eleitorais de 2024.
Com uma extensa lista de motoristas de aplicativo que se candidataram como vereadores nestas eleições, nenhum conseguiu a eleição por meio de votos. Claudião comenta: “A maioria dos candidatos não se preparou para esse momento”.
Outra figura conhecida pela classe é Marlon Luz, do MDB, que recebeu nesta eleição 0,45% dos votos válidos, totalizando 25.847 votos, mas não foi eleito, apesar de ter recebido mais votos do que em 2020, quando conquistou o cargo com 25.643 votos.
Qual a sua teoria sobre nenhum motorista ter sido eleito ou reeleito, no caso do Marlon? O que aconteceu?
Primeiro, é preciso considerar que essa categoria não elege representantes, pois ela não tem características de uma classe; falta-lhe unidade. Não há coesão, como ocorre entre bancários e outras categorias de trabalhadores. A categoria é muito dispersa, sem vínculo, círculo representativo ou rotina habitual de trabalho.
Temos pessoas que fazem viagens eventualmente e outras que se dedicam 100%. Essas pessoas não estão necessariamente envolvidas na atividade; ligam o aplicativo para fazer uma viagem e pronto. Essas características precisam ser consideradas. A dispersão, em função da natureza do trabalho, é um ponto importante que ajuda a entender essa dificuldade de representação.
Além disso, a maioria dos candidatos não se preparou para esse momento. Muitos foram abordados por partidos que disseram: “Vejo potencial em você para representar a categoria”. Assim, buscam lideranças comunitárias, influenciadores e pessoas de destaque social para integrar o partido e serem candidatos. Mas, cada vez que essas pessoas não são eleitas, falta-lhes uma estrutura sólida para disputar uma eleição de fato.
Esse aspecto de falta de preparo e amadorismo também pesa. Política não é para amadores; exige preparação e dedicação. A pessoa acredita que, por ser influenciador e conhecido, automaticamente receberá votos, mas as pessoas votam de maneira ideológica e pragmática.
Após quatro eleições, ficou evidente o surgimento de candidatos dentro da categoria. Em 2014, isso começou de forma embrionária, mas foi em 2018 que tivemos o primeiro candidato significativo para deputado. Desde então, houve tentativas nas eleições de 2018 e 2022, e, para vereador, em 2024, mas não conseguimos eleger um representante.
Vale destacar que, em 2020, houve a mesma quantidade de votos, mas foi uma eleição atípica devido à pandemia, com elevada abstenção e um coeficiente eleitoral reduzido, o que tornou a concorrência menos acirrada do que em um pleito normal.
Nesse cenário, Marlon foi eleito, mas acredito que seu mandato deixou a desejar, especialmente na comunicação e nas promessas feitas. Ele prometeu mudanças em tarifas, algo que o município não tem autonomia para realizar, pois essa competência é limitada. Quando ele apresentou essa proposta em São Paulo, foi promovida como uma solução, mas se mostrou um fracasso e prejudicou sua imagem.
Além disso, sua postura, em muitos momentos, não correspondeu ao nível esperado de um vereador. Ele parecia mais imerso no meio popular e nos bastidores, o que não era o ideal. Apesar disso, não subestimo a importância de sua reeleição, ainda que não tenha ocorrido. Ele ficou como suplente, o que significa que ainda pode assumir o cargo, caso haja mudanças, como a eleição de Ricardo Nunes, seu correligionário.
Você acredita que a classe possa ser sub-representada?
Temos dois casos de legítimos representantes da categoria que já eram vereadores e foram reeleitos: a vereadora Nina, em Natal, e o vereador Márcio Martins, em Fortaleza. Ambos são do União Brasil. Márcio Martins, bem engajado com a causa dos motoristas em Fortaleza desde 2017, tem atuado com seu gabinete em ações de acordo com as necessidades dos motoristas. Recentemente, foi instaurada uma CPI em Fortaleza, que acredito que, em 2025, avançará.
A vereadora Nina, desde 2018, está profundamente envolvida com a categoria. Não considero que sejam sub-representações, mas representações legítimas, pois não basta ser motorista de aplicativo para ser candidato. É preciso ter vontade e capacidade. O amadorismo da maioria dos candidatos impede o progresso. Muitos querem ser vereadores, mas qual é o projeto real? A política exige robustez para enfrentar desafios, e, sinceramente, a maioria não tem isso.
Em outras cidades, seria necessário delegar a um vereador, de acordo com a necessidade, as demandas da categoria. Contudo, a dispersão é um fator. Convocar paralisações ou manifestações é difícil, pois, apesar do número expressivo de motoristas, ainda não mostramos a força dos nossos números.
Qual o maior desafio para os motoristas que tentam ingressar na carreira política?
Eles teriam que tratar o projeto político como um projeto de vida. Planejar com antecedência e construir visibilidade, além de realizar ações concretas. Não devem confiar 100% apenas nos motoristas. Ninguém será eleito só com os votos da classe dos motoristas.
É preciso expandir para outras frentes eleitorais. Se há uma comunidade, deve-se trabalhar com ela; se há uma causa animal ou estudantil, também deve ser abordada para agregar votos. Apenas com os votos dos motoristas, não se elegerão.
Que tipo de impacto positivo a eleição traria para a classe dos motoristas caso os candidatos fossem eleitos?
Poderia ser formada uma frente parlamentar de vereadores da categoria para atuar de maneira articulada. Imagine se, em cidades como Salvador, Recife, Porto Alegre, São Luís, Palmas, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Curitiba, entre outras, conseguíssemos eleger dez vereadores.
Esses vereadores poderiam trabalhar em conjunto, formando uma frente parlamentar, ainda que atuassem dentro de suas esferas locais. Contudo, o vereador não atua isoladamente; faz parte de uma estrutura política com hierarquias que inclui deputados estaduais, federais e senadores.
Por exemplo, em 2020, durante a pandemia, a vereadora Nina, em Natal, tentou obter uma isenção do IPVA para motoristas de aplicativo, mas foi impedida por questões legais, pois a tributação começava em janeiro, antes da pandemia. Embora a isenção não fosse possível, ela conseguiu parcelar o imposto em várias vezes, sem juros de correção, beneficiando os motoristas. Esse exemplo mostra como um vereador, em articulação com parlamentares estaduais, pode obter avanços importantes para a categoria.
Qual seria a sua sugestão para a preparação para a próxima eleição?
Não ter vergonha de dizer que pretende ser candidato daqui a quatro anos: “Eu vou me dedicar e farei o máximo pela categoria. E daqui a quatro anos, serei candidato, com a intenção de fazer muito mais como vereador”. A primeira coisa é ser transparente. Também é essencial trabalhar outras fontes de votos e não focar apenas nos motoristas.
O que você espera para o futuro dos motoristas na política? Qual a sua expectativa?
Confesso que sou pessimista. Não tenho muitas esperanças; é uma luta difícil. Alguns vêm tentando desde 2018. Um exemplo é Denis Moura, que é um parlamentar sem mandato e uma pessoa extraordinária. Mesmo assim, ele não conseguiu se eleger em 2018, 2020, 2022 e agora em 2024.
Isso mostra que a persistência nem sempre garante vitória. Eu diria isso diretamente ao Denis: ele tem um potencial impressionante, mas talvez seja hora de considerar outras abordagens além da candidatura.
Quero destacar também o fenômeno da candidatura de Atan Uber, aqui em Salvador. Ele não foi eleito, mas chegou bem perto, obtendo 5.136 votos. Entre os novos candidatos, tirando o Marlon, ele teve o melhor desempenho proporcional. Para se ter uma ideia, ele alcançou 0,44% dos votos válidos na cidade. Embora possa parecer pouco, não é, pois houve candidatos eleitos com 0,6% dos votos. Atan quase chegou lá.
Além disso, vale notar que ele concorreu praticamente sem patrocínio, recebendo apenas R$30 mil do partido, valor insuficiente para cobrir todos os custos de uma campanha. Mesmo assim, tirando o Marlon, que já era vereador, Atan teve o melhor desempenho entre os candidatos da categoria em relação ao capital investido.