App regional do RJ busca equilibrar custos operacionais e garantir uma margem de lucro que prioriza a qualidade do serviço, sem comprometer o bem-estar dos motoristas.
Vagner Moraes é o gestor e idealizador do aplicativo de transporte regional Tok 10, que atua com corridas no estado do Rio de Janeiro.
Criada em 2022, a plataforma local hoje opera em Jacarepaguá, Bangu e Campo Grande. Dessa forma, Moraes detalha os desafios e conquistas durante a implementação e disseminação do app.
Depois de observar a deficiência da logística, Vagner enxergou uma oportunidade de se aprofundar em plataformas de corrida e buscou conversas com outros aplicativos: “tentando aplicar uma solução de logística, vendo que você tem um carro de aplicativo que está online”, afirma.
Ele ainda comenta que o Tok 10 foi criado para atender às necessidades dos motoristas. A empresa conta com 16 acionistas, todos motoristas, que fazem parte do conselho.
“Convidamos esses amigos e realizamos uma grande reunião com motoristas de aplicativo, onde apresentamos a ideia e o desafio: eles poderiam investir um valor pequeno mensalmente e, em troca, cada um teria uma participação de 1% no faturamento da empresa. Fizemos uma segunda rodada de investimentos, e alguns motoristas agora possuem até 2% de participação”, revela.
Vagner também conta que a ideia do aplicativo é oferecer uma alternativa para os motoristas que estão enfrentando dificuldades, muitos dos quais têm abandonado o trabalho com aplicativos devido a problemas financeiros ou por não conseguirem manter seus veículos.
“As grandes plataformas como Uber e 99 não estão demonstrando preocupação com a evasão de motoristas, pois agora há um novo mercado em crescimento: o das motocicletas”. E completa dizendo que os passageiros, que antes tinham receio de usar esse tipo de transporte, estão começando a aderir ao serviço, “e as empresas estão focando nessa migração”.
Para o desenvolvimento do Tok 10, o empreendedor ressalta: “A mobilidade urbana depende de conectar essas duas pontas fundamentais, mas isso precisa ser feito de forma equilibrada”.
Ele explica que, se não há equilíbrio, ocorrem desencontros: o passageiro solicita um carro, mas não há motorista disponível; o motorista está online, mas não há chamadas: “Isso desestimula ambos os lados, gerando frustração”.
Em 2023, a empresa investiu na divulgação da marca após uma campanha publicitária em uma rádio regional no Rio de Janeiro. No entanto, não conseguiram manter o investimento em publicidade, o que resultou na perda de tração.
“Apesar de nossas propostas inovadoras e diferenciadas, ainda não conseguimos consolidar o casamento entre oferta e demanda”.
Hoje, a plataforma opera com uma média diária de 20 a 30 viagens: “Há um grupo de passageiros que continua utilizando o serviço, e motoristas que conhecem bem a plataforma. Temos um grupo no WhatsApp onde nos comunicamos regularmente, e existe uma base consolidada de usuários e motoristas”.
No entanto, ele conta que essa base ainda não é suficiente para garantir o acionamento consistente do aplicativo e atingir um volume significativo de corridas.
Como é competir com as multinacionais?
Nosso foco é o motorista. O que nós observamos é que o motorista é muito carente. Existe uma queda de braço entre o passageiro, que quer pagar menos, e a plataforma, que quer o seu lucro. Quem está pagando essa conta é o motorista de aplicativo.
É normal ver motorista de aplicativo com o carro quebrado, com busca e apreensão. A maior parte deles não tem seguro, porque a conta não fecha. Se o aplicativo tira 25% a 30% e o combustível leva mais 30%, o que sobra ele precisa tirar para a manutenção do veículo e sua casa.
Quando ele tem que cortar, corta na manutenção do veículo. Então, essa conta arrebenta no motorista. Nossa base tem três pilares: tarifa mínima de 10 reais, R$2 por quilômetro rodado, e cobramos um valor fixo de 1 real por viagem. Isso é suficiente para manter a plataforma e ainda dar uma pequena margem de lucro para expansão. Não acredito que vá nos deixar ricos, mas a intenção é atender as necessidades dos motoristas e atender bem o cliente.
Hoje, uma grande queixa dos passageiros é a alta taxa de cancelamento. A pessoa aguarda 10, 20, 30 minutos pelo carro e, depois desse tempo, o motorista cancela. Isso cria uma nova jornada e, aí, as grandes plataformas lançam o preço dinâmico, capturam um pouco mais, mas não repassam para o motorista. Muitos voltaram para o trabalho formal por causa desse problema.
Para o passageiro, oferecemos um valor fixo, sem tarifa dinâmica ou surpresas no final da corrida. O passageiro já sabe quanto vai pagar, sem surpresa de 150 reais numa corrida de 30. O segundo ponto é um atendimento melhor, porque o motorista está mais satisfeito. Nossa proposta é mudar a mobilidade no Rio, com passageiros satisfeitos e motoristas com ganhos reais.
Qual é o faturamento mensal?
Nós mantemos uma taxa de manutenção para custear nossa despesa básica, e o que entra das corridas investimos em um pouco de publicidade. Temos hoje uma média de 1.700 motoristas cadastrados e cerca de 3.500 passageiros. Nossa média diária gira em torno de 40 a 50 chamadas, mas conseguimos converter isso em 20 a 30 chamadas por dia.
Estamos preparando uma rodada para uma aceleradora para conseguir recursos para publicidade. Também estamos trabalhando em um projeto de logística, que é uma inovação.
Tivemos algumas portas abertas e, até o final do ano, queremos lançar um projeto de logística. Nossa intenção é trazer recursos para a mobilidade urbana. Existe uma carência muito grande, as reclamações são quase que universais, tanto do motorista quanto do passageiro. E agora, o governo querendo pegar uma fatia desse bolo, isso vai estourar na mão de alguém esses 27% que o governo quer pegar.
Que tipo de conhecimento ou habilidade você acredita que é essencial para um gestor de aplicativo de transporte?
Para o gestor, é importante ter conhecimento básico de informática para operar a plataforma, noção contábil, gestão de pessoas, porque você tem sócios querendo resultado de um lado e passageiros querendo ser atendidos de outro. Então, precisa ter um pouco de tudo.
Temos uma equipe que trabalha comigo, desde o controle de documentos dos motoristas, veículos, até a parte financeira e administrativa. Mas o mais importante é estar atualizado com as tendências do mercado. Muitas startups de mobilidade surgem com ideias enriquecedoras. O conhecimento é primordial, tem que estar atualizado o tempo inteiro.
Como foi reunir os 16 motoristas para idealizar o projeto?
Já éramos amigos que rodavam, e fizemos uma grande reunião de motoristas de aplicativo. Lançamos a ideia e o desafio para eles. Eles poderiam entrar com um recurso pequeno, mensal, e teriam uma fatia do faturamento da empresa. Esse retorno ainda não veio, estamos rodando no vermelho, mas essa foi a proposta: montar um aplicativo para atender as demandas dos motoristas. A equipe está comigo por amor e fé, acreditando que vamos gerar resultado.
Agora estamos lançando uma solução de logística como uma segunda perna. Foi levar para eles uma saída para não abandonar o trabalho de transporte por aplicativo. É uma saída, porque muitos estão desistindo, muitos foram expulsos porque o carro quebrou, e o motorista não tem condição de pagar o financiamento. A moto, por ser mais barata, diminuiu a demanda pelo carro, e as grandes plataformas estão migrando para o mercado de motocicletas.
Você pretende captar uma rodada de investimento para investir em marketing?
Sim, já mapeei algumas aceleradoras no Rio, como a Abelha e outras. Muitas estão focadas em logística e inovação. Existe um gap na logística, com uma grande malha de carros e motos online. Precisamos investir em atendimento para o passageiro e trazer esse recurso para a mobilidade urbana. Precisamos de publicidade, só precisamos que essa ideia seja conhecida por todos.