Plataforma regional conta sobre expansão no Espírito Santo e trabalho com os motoristas cadastrados.
O aplicativo regional do estado do Espírito Santo, Chama 27, está presente em cinco cidades capixabas, atendendo 43 mil usuários com uma frota de 600 motoristas cadastrados.
Henrique Junior, gestor da plataforma, compartilhou detalhes de sua operação. No início de sua jornada como motorista de aplicativo em Colatina, para complementar sua renda, ele percebeu a falta de valorização dos motoristas: “Eu rodava o dia todo e, no final, quando olhava no bolso, tinha R$ 150, mesmo tendo feito uma quantidade absurda de corridas. Isso me causava indignação”.
Com isso, Henrique decidiu sair da faculdade e focar na melhoria das condições dos motoristas: “Quando você tem como principal concorrente duas potências que não valorizam tanto o motorista, fica claro que elas não estão nem aí para o motorista. Ele é a parte principal de um aplicativo, é ele quem faz o aplicativo rodar”.
Inicialmente, Henrique atuou como gestor de outro aplicativo em sua cidade, mas não era proprietário. Nesse período, ele e seus amigos decidiram reunir os motoristas que trabalhavam em um grupo de WhatsApp e criar sua própria plataforma.
Na primeira tentativa, enfrentaram dificuldades, especialmente durante um grande evento na cidade, quando o aplicativo apresentou falhas. “Quando mais precisávamos, o aplicativo falhou. Pedimos suporte 24 horas, pois havíamos investido muito, mas eles se negaram a ajudar”, conta.
Depois desse episódio, Henrique investiu em uma nova solução, que deu origem ao Chama 27. Hoje, a plataforma opera em Aracruz, Colatina, Baixo Guandu, Linhares e Aimorés, com planos de expansão para a capital, Vitória, até o final do ano.
Como vocês calculam o preço da corrida?
“Cada cidade tem uma realidade diferente. Para diversificar os valores, utilizamos a plataforma Machine. Criamos filiais, e assim podemos definir preços de acordo com a realidade local. Diversificamos isso através de filiais”.
Para ajustar o preço de acordo com a concorrência, Henrique explica que eles mantêm um valor fixo para trabalhar. Em Aracruz, a corrida mínima é de R$ 13; em Linhares, R$ 8; em Colatina, R$ 10; e em Baixo Guandu e Aimorés, R$ 11. As taxas variam entre 10% e 15%.
“Em cidades onde atuam grandes plataformas internacionais, é possível oferecer melhores condições para o motorista. No entanto, onde há muita concorrência, aumentar muito o preço dificulta a competitividade, mesmo entregando qualidade e serviço”, explica Henrique.
Quando não há presença de multinacionais, ele revela que conseguem elevar “um pouco” o valor da corrida mínima. “Hoje, as pessoas querem atendimento e qualidade. Temos um atendimento humanizado para nossos motoristas e clientes. O número de telefone cadastrado na plataforma é o mesmo que eu uso, tenho muito respeito pelo que faço”.
Qual a média de faturamento dos motoristas?
“Temos motoristas que faturam R$ 4 mil por semana em Aracruz, mas depende da força de vontade de cada um. Outros ganham R$ 200, varia muito de acordo com as horas trabalhadas e a disposição”.
Quantas corridas, em média, o aplicativo realiza por dia?
“Recebemos entre 1.600 e 1.700 corridas por dia em um bom dia. O início do mês costuma ser melhor”.
Qual é o faturamento mensal?
“Mais de R$ 40 mil na central, Aracruz”.
E sobre o futuro da empresa?
“Hoje, nosso foco é reestruturar o que já temos. O mercado mudou muito com a queda dos preços das multinacionais. Há corridas em que o motorista recebe apenas R$ 5. Isso desestabilizou muito o mercado local. Queremos reestabelecer nossa operação em Linhares e Colatina e planejar o crescimento em Vitória. Nosso primeiro passo será Serra, na Grande Vitória. De lá, queremos expandir para Viana, Cariacica, até chegar, na capital”.
Como é competir com as multinacionais?
“É preciso ter força de vontade para mostrar que queremos fazer o melhor. O maior desafio é mostrar para o motorista que não somos apenas mais um. Estamos pensando nele. Se ele confiar na empresa e caminhar junto conosco, podemos enfrentar essa concorrência. Basta ter força de vontade”.
“Não condeno os motoristas, pois já receberam muitas promessas. Chega alguém, injeta muito dinheiro, mas o primeiro prejudicado é o motorista. Hoje, o maior desafio é fazer com que o motorista entenda que ele é a peça principal. Precisamos do passageiro? Sim. Mas, de que adianta ter passageiros se não há motoristas? Um motorista feliz traz passageiros. Um passageiro satisfeito traz outros passageiros”.
Como encontrar o equilíbrio entre as expectativas de passageiros e motoristas?
“É difícil. O motorista sai de casa sabendo o que precisa fazer, mas o passageiro sempre quer pagar menos. E, infelizmente, é comum que as concorrentes coloquem preços muito mais altos, e mesmo assim os passageiros pagam”.
“O motorista sai de casa com a lista de compras: sal, leite, ração. Às vezes, ele acaba pegando corridas que não queria, mas precisa levar algo para casa. Precisamos mudar essa mentalidade. Se todos os motoristas cruzarem os braços, como vamos atender?”
Que tipo de conhecimento é importante para um gestor de aplicativo?
“Relacionamento. Saber lidar com o motorista, ouvir. Não se colocar acima só por estar numa posição de gestão. Uma decisão errada pode atrapalhar todo o projeto. É preciso ter sabedoria. Às vezes, o motorista chega alterado, e se você não souber lidar, pode piorar a situação”.