Pré-candidato a vereador quer implementar a Faixa Azul e investir na iluminação pública de Belo Horizonte.
Geovane da Conceição Estanislau é pré-candidato a vereador em Belo Horizonte, com uma trajetória marcada pela experiência como entregador. Após ser demitido do emprego anterior, Geovane decidiu se dedicar integralmente ao trabalho de entregas, mas logo percebeu que a promessa de autonomia e liberdade não condizia com a realidade de precarização e desamparo que enfrentou. Após sofrer um acidente de moto e não receber o suporte necessário, ele se uniu a outros entregadores insatisfeitos com as condições de trabalho.
Nesta entrevista exclusiva para o 55content, Geovane fala sobre sua decisão de entrar na política e sua visão para a cidade. Com participação em campanhas eleitorais anteriores, ele enxerga na vereança a possibilidade de implementar projetos voltados para melhorar as condições de trabalho e segurança dos moradores de Belo Horizonte. Geovane considera a política uma ferramenta para mudar as condições de vida das pessoas, especialmente daqueles que enfrentam situações de precariedade no trabalho.
Conte um pouco da sua trajetória como entregador.
O que aconteceu comigo aconteceu com muitas outras pessoas. Eu comecei a fazer entregas enquanto ainda trabalhava em outro emprego. Fazia entregas de manhã e trabalhava à tarde/noite. Quando fui demitido, decidi me dedicar integralmente ao iFood. Fui parte de uma base de um operador logístico chamado CR Express. Um dia, sofri um acidente de moto e fiquei três semanas parado, sem receber qualquer pagamento, tanto do iFood quanto do CR Express, o que me desmotivou bastante.
Mesmo assim, na primeira semana após meu retorno, o punho do acelerador da moto quebrou durante uma entrega. Pedi à base para fazer uma pausa e fui xingado. Isso me enfureceu, pois eu era o único responsável por tudo, inclusive pelos custos de conserto da moto. Como poderiam ter a audácia de me xingar?
Foi nessa época que procurei o Nicolas, que me falou sobre um grupo de entregadores insatisfeitos em Belo Horizonte, onde conheci o Paulo César. Hoje, somos um grupo de pessoas que entende que a vida de entregador não é um trabalho autônomo, como dizem, mas sim um trabalho precarizado. Somos trabalhadores que realizam o serviço fornecendo todos os meios necessários, sem sermos devidamente remunerados por isso.
Por que decidiu entrar para a política?
Já tenho experiência na política, tendo concorrido em 2018, 2020 e 2022. Minha entrada na política começou após uma conversa com um amigo chamado Jefferson, com quem tenho amizade há mais de 20 anos. Em uma das nossas conversas, discutimos o filme “O Expresso do Amanhã”. Esse filme é interessante porque mostra que, mesmo no fim do mundo, um grupo ainda tem privilégios negados aos outros.
Quando comecei a cursar o Mestrado na UFMG, em uma disciplina isolada com o Professor Geraldo Márcio, percebi que o filme também aborda a questão do trabalho. Qual é o papel do trabalho no nosso dia a dia? A quem serve o nosso trabalho? De onde surgiu o emprego? Qual é a ideia por trás da burguesia, monarquia, feudalismo? Estudar é uma forma muito interessante de entender o mundo.
Hoje, acredito que ainda tenho muitas perguntas, mas as dúvidas que tinha antes não são mais tão presentes. Entendo que a política é uma divisora de águas para qualquer pessoa. Somos criaturas sociais que precisam trabalhar para tudo, seja para modificar nosso ambiente e proporcionar uma forma de viver, seja para tornar essa vivência mais confortável.
E é isso que vejo na política: uma forma de melhorar a vida das pessoas, especialmente dos trabalhadores de Belo Horizonte. As pessoas precisam, mais do que nunca, ser tratadas com dignidade. Dignidade é não ter que pegar ônibus lotados, não pagar caro pela comida, receber mais do que um salário mínimo, não ser assediado no trabalho e ter seus direitos básicos garantidos. Todo o funcionalismo público deve estar voltado para isso: trazer um pouco de conforto para a população.
Quais são suas principais propostas, caso eleito vereador?
A vereança é uma oportunidade gigantesca para implementar projetos locais e acompanhar de perto a implementação deles. Minha premissa é trazer segurança para todos os motociclistas de Belo Horizonte. Hoje, muitas famílias choram a perda de seus entes queridos devido à falta de sinalização por parte da prefeitura. Pais, mães, filhos, filhas, tios e tias morrem por questões banais. Não podemos banalizar a vida. Nada neste mundo é mais importante do que a vida de uma pessoa.
Elaborei um documento com alguns pontos que gostaria de submeter à apreciação da população de Belo Horizonte:
- Iluminação Pública: Rota segura é rota iluminada! Precisamos de mais luz nas vias que percorremos todos os dias.
- Sinalização Adequada: Sinalizações claras e visíveis são essenciais para evitar acidentes e garantir um trânsito mais fluido. Quanto menos placas, melhor. Informações fáceis de serem lidas e entendidas.
- Trabalho: Proposta de diminuição da carga fiscal para empresários, baseada no rendimento anual de suas empresas, quando mantenedores de empregos.
- Estacionamentos: Proposta para que motocicletas possam estacionar em qualquer local, a qualquer horário, possivelmente viabilizando um sistema de ticket mensal ou anual de rotativo.
- Faixas Preferenciais para Motos: Com faixas preferenciais, conhecidas como faixa azul, teremos mais segurança e agilidade no trânsito intenso de BH.
- Educação: Proposta de criação de um fundo municipal com verbas de multas de trânsito em áreas escolares, multas ambientais, multas por desvios de verbas públicas, multas por infrações trabalhistas e multas por violação de direitos humanos, para subsidiar estudos de mestrado e doutorado para profissionais da educação no âmbito municipal.
- Cidadania: Proposta de criação de centros comunitários, geridos pelos moradores, que proponham junto à sociedade políticas de melhorias locais.
- Tecnologia: Proposta de criação de um sistema de aperfeiçoamento tecnológico da cidade, em parceria com faculdades públicas e privadas, para implementar sistemas de melhorias.
- Alimentação: Proposta de estudo para implantação de sistemas hidropônicos em prédios ociosos da capital, as chamadas fazendas verticais.
Essas são simplificações das ideias que temos em mente. O aprofundamento dessas propostas poderá ser acompanhado pelas minhas redes sociais ao longo da campanha.
Por qual partido você irá concorrer e como definiria seu posicionamento político?
Meu partido é o PSB – Partido Socialista Brasileiro.
Eu concorro pelo PSB, o único partido pelo qual concorri até hoje. Defino meu posicionamento político como de centro-esquerda. Embora eu tenha alguns pensamentos conservadores em certos aspectos, sou progressista em outros.
Sei que o trabalho é um balizador da moral na sociedade, mas não podemos aceitar que ele seja banalizado como tem sido. Em Belo Horizonte, alguns empresários oferecem trabalhos com turnos diários de 11 horas, com 1 hora de almoço em uma escala de 6×1, como se estivessem fazendo um grande trabalho social.
Sabemos que um empregado bem remunerado suporta muitas coisas, mas precisamos ter um norte. Não podemos normalizar o que não pode ser normalizado. Belo Horizonte é uma cidade rica, e precisamos fazer com que toda a sua população também se torne rica.
Seja diminuindo o valor da cesta básica para que as pessoas possam ir a festivais culturais, aumentando a renda para que possam consumir mais, ou implementando propostas de trabalho com as faculdades locais para produzir bens e serviços de melhor qualidade a menor preço, precisamos mudar a forma como as coisas estão. O que não podemos permitir é que essa precarização do trabalho continue.
Como pretende usar um possível cargo de vereador para ajudar na construção de uma possível regulamentação federal?
Além da regulamentação federal, como a famosa PLP 12/2024, existem outras leis, como a Lei 12.009, que influenciam nosso trabalho. Porém, um ponto importante é que, de acordo com a Constituição, alguns aspectos de regulamentação podem ser feitos pelos governos locais.
Temos ideias de implementação que, infelizmente, não foram analisadas pela Prefeitura. Não por falta de tentativa, pois tentamos de todas as formas entregar essas propostas ao Prefeito, inclusive em contato com o Superintendente do Trabalho de Minas Gerais e o Procurador do Ministério Público do estado.
Nessa proposta, incluímos a possibilidade de as empresas oferecerem equipamentos de proteção aos trabalhadores cadastrados na plataforma, como casacos de frio, antenas contra cerol, capas de chuva, coletes reflexivos; também incluímos a faixa azul (uma faixa demarcada entre a 1ª e a 2ª faixa nas principais avenidas, como Cristiano Machado, Pedro I e II, Amazonas, etc.), que seria benéfica tanto para motos quanto para carros. Imagine não haver mais motos batendo no retrovisor do seu carro ou aparecendo repentinamente atrás dos veículos.
Também propusemos uma taxa mínima de R$ 2,50 por km; INSS; prazo de entrega de pedidos; seguro de vida; pontos de apoio; cursos de direção defensiva, e até subsídios para a aquisição de um veículo novo.
Como você se diferencia dos demais entregadores candidatos a vereador?
O problema de algumas pessoas, políticas ou não, é que acham que somos ingênuos. Se você conversar com alguém charlatão e perguntar qual será o benefício prático do projeto dela, e ela começar com a famosa frase “será bom para todo mundo”, afaste-se.
Acredito que, inclusive durante a campanha, posso fazer o bem para os motociclistas. Tenho conversado com a direção do PSB para envolver todos os motociclistas interessados em participar da campanha, tanto proporcional quanto majoritária. Vai ser muito difícil um prefeito ignorar a categoria dos motociclistas, sabendo que ela fez parte da campanha e que é um dos maiores grupos de Belo Horizonte.
Uma pessoa que admiro muito é Maria da Conceição Tavares, que diz: “Uma economia que não se preocupa com justiça social é uma economia que condena os povos a isso que está acontecendo no mundo: uma brutal concentração de renda e de riqueza, o desemprego e a miséria. Uma economia que diz que primeiro tem de estabilizar, depois crescer, depois distribuir, é uma falácia. Não estabiliza, cresce aos solavancos e não distribui. E essa é a história da economia brasileira.”
Acredito que é isso que essas pessoas pregam: que primeiro precisa ficar bom para um certo grupo para depois melhorar para todos. Isso nunca aconteceu e nunca vai acontecer. Por isso, se não for para crescer junto com todos, é melhor nem tentar.
E é isso que quero dizer aos demais entregadores candidatos: olhem ao seu redor, vejam seus irmãos no sol e na chuva, enfrentando dificuldades, e, no final do mês, não conseguindo fechar as contas. Se vocês não querem melhorar a vida dos motociclistas, é melhor repensarem o que pretendem fazer na vida pública.