O pré-candidato planeja atuar como representante dos motoristas de aplicativo na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Denis Moura é motorista de aplicativo desde 2014, quando a Uber iniciou as suas operações no Rio de Janeiro, cidade natal do pré-candidato. Ele ingressou na sua carreira como motorista antes da chegada dos apps e se dedicava ao transporte executivo de passageiros.
Em 2015, fundou a Associação dos Motoristas Particulares Autônomos do Rio de Janeiro, a AMPA RJ, a primeira associação de motoristas por aplicativo no Brasil, e começou a se dedicar à luta da classe. Atuou também na organização e fundação da Federação dos Motoristas por Aplicativos do Brasil (Fembrapp), na qual trabalhou como vice-presidente e atualmente trabalha como diretor de comunicação.
Inserido no contexto político de seu trabalho, Denis decidiu trabalhar em sua candidatura como pré-candidato a vereador no Rio de Janeiro, em sua segunda tentativa de ingressar na política brasileira.
Como surgiu o convite para entrar na política? E o que pesou para aceitar ser pré-candidato a vereador?
Em 2020, na pandemia, a classe já enxergava a necessidade de ter uma representatividade. Eu vou ser muito sincero, e assumir que não tinha muita vontade de entrar na política, apesar de gostar muito. A maioria dos colegas que me cercavam, tanto motoristas, quanto o pessoal da associação, e dos grupos que eu participava, estavam vendo que a maneira que a plataforma estava na pandemia. A Uber e a 99 descarnando o motorista, mais até do que está hoje. Então, a galera queria muito que eu tivesse uma voz os representando na Câmara dos Vereadores.
E a gente já havia tido um problema com a PL 78, que era um projeto de lei no município do Rio de Janeiro, que tentava acabar com o nosso trabalho de maneira bem crucial, provocado pelo Jorge Felipe, que era o presidente da Câmara dos Vereadores. Eu fui uma voz muito ativa em combater isso e ele não conseguiu levar o projeto à frente. Percebo que isso foi algo muito emblemático.
Então naturalmente, em 2020, quando vivemos a pandemia, com toda a pressão dos aplicativos. Fiz muitas ações nesse período: entrei com uma denúncia no Ministério Público, e consegui voltar vários motoristas, quase 600 motoristas que tinham sido banidos da plataforma de maneira injusta. Com essas atitudes as pessoas desejaram que eu fosse candidato e eu acabei aceitando.
Estive pela primeira vez em uma eleição em 2020, na qual me candidatei para vereador na cidade do Rio de Janeiro, e recebi 1.400 votos. Por inexperiência, eu não achei que fosse uma coisa expressiva, eu não tinha ideia do que era receber esses 1.400 votos. E aí eu entendi depois, com o passar do tempo, que esse número era uma boa quantidade de pessoas para alguém que fez uma campanha totalmente sem dinheiro, sem recurso quase nenhum.
Eu fiz uma vaquinha eletrônica que não arrecadou nem 5 mil reais. Eu não tinha recurso para fazer a campanha e a minha votação, porque o meu custo voto foi muito interessante a ponto de alguns partidos na outra eleição me procurarem para que eu fosse candidato. E isso aconteceu na eleição para deputado federal, foi o último pleito eleitoral que tivemos no nosso país.
Ali eu comecei a ter realmente vontade de ser político, de entrar para a política. Só então, que eu percebi que era necessário eu ser candidato para manter o meu nome ativo, para que eu tivesse um bom nome ativo dentro do aspecto político. Precisava saber se a minha adesão, e se o meu trabalho eram bem aceitos pela categoria.
Tive uma grata surpresa: de 1.400 votos, eu passei para quase 5 mil votos. E isso me deu um fôlego, me deu uma resposta muito positiva, queria dizer, as pessoas realmente estavam querendo que eu tivesse uma voz representativa.
E então, eu então decidi que nessa eleição agora eu viria como candidato a vereador já me programando. E aí o que aconteceu? Em 2022, o vereador Marlon Luz me convidou para trabalhar com ele.
Eu aceitei desde que eu ficasse apenas um ano, porque queria trabalhar com ele para viver a experiência de um gabinete, para entender como um gabinete funcionava, como as questões políticas por dentro funcionavam ali, para saber se realmente era algo que eu iria fazer com bom desempenho. Então, eu acabei trabalhando com ele e me interessando mais ainda pela candidatura a vereador pela cidade do Rio de Janeiro, a qual esse ano eu espero ganhar.
Também tive uma vivência política muito forte no ano de 2017, de setembro de 2017 até fevereiro de 2018, quando a categoria estava sofrendo um assédio do deputado Zarattini, do PT de São Paulo. Eu fui para Brasília junto de vários outros colegas, inclusive o Marlon, o Duda da Amasp, o Paulo Xavier, o Claudião. Vários colegas que hoje estão no cenário, e figurando de maneira muito séria, muito competente, nós fomos para Brasília lutar pela legalização da categoria e saímos vitoriosos de lá. Então, isso também deu um gás. Mas nessa época, eu não tinha realmente intenção nenhuma de ser candidato. A intenção veio posteriormente.
Quais são suas principais propostas, caso eleito vereador?
Eu divido a necessidade da categoria em três partes, que seriam tarifa, segurança e respeito. Tarifa, porque a gente engloba, no caso, a maneira que a gente recebe e também respeita a maneira que o passageiro é tributado. É tributado, não é cobrado. Porque a gente precisa ter uma taxa fixa.
Essa taxa fixa é para o motorista poder se planejar. Vamos definir se ele paga 20% ou 25% em cada corrida, e não como é hoje, que cada operadora cobra o preço que quer. Isso pode ser feito a nível municipal. O projeto que o Marlon acabou de aprovar em São Paulo, o qual, tive o prazer e a honra de participar na construção, porque foi no período em que eu estava trabalhando com ele, que foi construído, fala sobre taxa fixa. E isso é fundamental de se pensar.
E a tarifa, por que a tarifa para o passageiro também é importante para a gente? A tarifa fala diretamente sobre os nossos ganhos. Se a taxa for fixa, ela tem que ter uma proporcionalidade em relação à essa. Hoje, o passageiro não sabe quanto é a tarifa para ele. Para cada passageiro, com uma necessidade peculiar, a Uber cobra um valor ou a 99, as plataformas de um modo geral.
Em relação à segurança, é importante tipificar o crime contra o motorista de aplicativo. Hoje, quando o motorista de aplicativo é assaltado e tem a possibilidade de ser morto, isso entra numa estatística como um crime comum. Na verdade, não é um crime comum. A intenção do marginal é atentar contra o motorista de aplicativo. Então, isso tem que ser tipificado para que a gente possa ter ações pontuais que defendam o motorista de aplicativo.
Uma outra coisa que é importante a gente fazer no campo da segurança é melhorar o cadastro dos passageiros e dos motoristas. Às vezes, pagamos 40% a 50% para a plataforma nos trazer um passageiro que, muitas vezes, não tem o menor critério de cadastro. A ideia é que haja um cadastro mais rigoroso, tanto dos passageiros quanto dos motoristas, para evitar situações perigosas que acabam atrapalhando. Isso pode ser feito na esfera municipal de maneira mais rigorosa para trazer segurança para o motorista.
Por qual partido você irá concorrer e como definiria seu posicionamento político?
Eu venho pelo MDB. É um partido que dá liberdade para que você tenha opiniões ao centro, opiniões à esquerda, não tem problema. Eu me defino como uma pessoa de direita, centro-direita. Gosto da ideia de estar num partido de centro, porque a minha bandeira é a categoria.
E para proteger e defender minhas ideias em relação à categoria, eu vou precisar de apoio da direita, mas também de apoio da esquerda. Não tem jeito, porque fazemos propostas que vão ser votadas de ambos os lados. A minha luta é uma luta por uma categoria. É lógico que eu tenho ideias e propostas também em relação ao município, mas a gente está falando aqui mais voltado para a categoria. Então, a ideia é sempre estar protegendo o motorista de aplicativo.
Atualmente, apenas o vereador Marlon Luz está eleito com a bandeira da representação dos motoristas de aplicativo. Nas últimas eleições, outros motoristas de app tentaram e não conseguiram. O que faz você acreditar que será diferente em 2024?
Eu vejo que tenho uma boa chance, na verdade, uma chance grande, acredito eu. Primeiro, porque a categoria está tendo um amadurecimento maior. Os motoristas estão entendendo a necessidade de ter um representante. Isso é muito importante. E segundo, porque eu já fui testado em urna duas vezes. Na eleição, eu tive 1.400 votos. Na outra, praticamente triplicou, foi para 4 mil e pouco, quase 5 mil votos.
Então, à medida que vai passando o tempo e você vai continuar trabalhando pela categoria desde o começo, você vai aumentando provavelmente a quantidade de votos. Então, é bem possível que, nesta eleição, eu consiga, até por um histórico político mesmo, de trabalho, de luta, de seriedade na minha conduta. E é natural que outros colegas de outros municípios também consigam. Nós temos candidatos hoje em vários municípios, são mais de 30 candidatos. Eu vejo com muita chance de ser eleito também o Guerra, em Curitiba, já que faz um excelente trabalho lá, e eu acredito que ele tem uma boa chance.
Quando influenciadores de uma determinada categoria decidem entrar para política, é comum haver críticas que estaria se aproveitando da influência para fins próprios. Como você responderia a essas críticas?
Eu não tenho rótulo de influenciador, até acho engraçado. As pessoas me veem de uma maneira política e às vezes até duvidam que eu rodo. Eu estou sempre rodando. O meu rótulo, é porque a galera me vê com essa presença mais política mesmo. Talvez, pela maneira séria que eu falo ou por eu não ter até o talento de influenciador, apesar de ter uma rede social, mais ou menos movimentada. Eu estou em todas as redes sociais, mas a minha pegada não é de influenciador, então eu não recebo uma crítica em relação a isso.
Mas acho que existem alguns influenciadores, inclusive no Rio de Janeiro, que se aproveitam do fato de serem influenciadores e se iludem, achando que, pelo fato de serem famosos na internet, vão ganhar uma eleição. O que vai fazer ganhar uma eleição não é o fato do indivíduo ser influenciador. Eu acho que, como eu disse, a categoria está amadurecendo e as pessoas veem o trabalho que o candidato faz por eles, a dedicação que ele tem, a seriedade, a competência. Simplesmente o fato de ser influenciador não vai fazer ninguém ser eleito.
Como pretende usar um possível cargo de vereador para modificar a regulamentação federal?
Então, eu acho que já comentei aqui, em 2017 e 2018, como motorista, na época como presidente de associação, nós, junto com a categoria, com outros colegas, e com motoristas, mudamos a realidade e conseguimos mudar a regulamentação federal na época. A gente conseguiu evitar o pior, que era ter a nossa atividade suspensa e proibida, como era proposto pelo deputado Zarattini, lá do PT de São Paulo. E a gente conseguiu mudar.
Como vereador, você passa a ser uma autoridade municipal, e no meu caso, da segunda maior cidade do país, em volume de corridas do mundo. Então, você passa a ter uma influência muito grande, assim como a do Marlon. Eu tive o prazer muito grande de trabalhar com ele, porque vi a capacidade dele e a importância dele com um cargo de vereador.
Então, assim, a gente não fica limitado ao cargo, muito pelo contrário, sabendo utilizar o cargo de maneira responsável e as ferramentas que o cargo oferece, que é a assessoria jurídica e influência, com certeza a gente vai mudar muita coisa no ambiente federal.
Agora, seria mais fácil e seria mais propositivo, quando vereadores eleitos nesta eleição se tornem futuramente deputados federais. E aí, tendo no futuro, tendo mais deputados federais eleitos pela categoria, com certeza a gente vai ter uma lei muito mais justa, não só para os motoristas de aplicativo, como para toda a população.
Porque a tendência é que, por ser a maior categoria de trabalhadores hoje do Brasil, a gente influencie outras categorias. Isso é muito bom, porque é bem provável que os aplicativos tomem conta de outras profissões, como já estão tomando conta. Então, a gente vai sair à frente dessa luta, com certeza estará melhorando a vida de todo mundo.