Aderson Ribeiro é motorista de aplicativo em Brasília e tornou-se um dos principais nomes contrários à regulamentação do governo federal.
Aderson Ribeiro tem 46 anos, é casado há 8 anos e formado em administração de empresas. Sua carreira mudou em 2017, quando, após ser demitido de seu emprego na área de gestão, começou a trabalhar com aplicativos de transporte.
“Em Brasília, o UberX estava começando por volta de 2016 para 2017. Na época, eu ainda estava no meu trabalho, mas fui mandado embora. Então, pesquisei bastante e vi muitos vídeos no YouTube. Como muitos brasileiros naquela época, peguei o dinheiro da rescisão do contrato, comprei um carro usado e comecei a trabalhar como motorista”, conta Aderson.
Liderança e organização dos motoristas
Aderson acabou entrando em um grupo de motoristas de aplicativo: “Nesse grupo, fiquei um tempo até as primeiras baixas drásticas dos aplicativos, quando muitos motoristas saíram. Por coincidência, meu nome é Aderson. A liderança do grupo foi saindo e virei administrador do grupo”, relembra.
Quando assumiu a liderança, decidiu fundir dois grupos de motoristas, utilizando sua experiência em administração e pesquisa para orientá-los: “Hoje, esses dois grupos são os melhores de Brasília. Minha esposa costuma dizer que eles são a menina dos meus olhos, e eu defendo os motoristas com dedicação”. Ele conta que, há sete anos, dedica seu tempo a orientar e ensinar outros motoristas: “Embora eu devesse cobrar por isso, acredito que ajudar os outros é essencial”, comenta. Atualmente, Aderson lidera o grupo “Melhores Drivers de Brasília”, e está criando um movimento de motoristas da capital, o “MOVBRAMAP”.
Ele esclarece que não critica aqueles que cobram por seu trabalho, mas destaca que sua liderança se formou dessa maneira, baseada na ajuda mútua e na orientação gratuita.
PLP 12/2024
Esse ano, Aderson iniciou seu trabalho relacionado à luta contra o PLP 12/2024, que busca regulamentar o trabalho dos motoristas de aplicativo. O projeto apresentado foi recebido com críticas pelos trabalhadores como Aderson, que não o consideram adequado. Recentemente, o deputado e relator do projeto, Augusto Coutinho (Republicanos-PE), pediu aos motoristas que enviassem novas emendas que gostariam que fossem implementadas.
Aderson detalha que houve uma reunião das comissões de Indústria e Comércio, onde o relator desejava ouvir os motoristas de forma conjunta: “Porém, isso não aconteceu, pois os sindicatos fizeram suas próprias propostas e nós fizemos as nossas. Entregamos, mas não foram acatadas”, relata.
Ele conta que, apesar de saber que as emendas provavelmente não seriam aceitas, seu grupo de motoristas decidiu tentar: “Tanto que no relatório final, o relator mencionou que não recebeu emendas de nosso grupo. Ele até incluiu algumas coisas, mas o principal, que é a autonomia do motorista para escolher suas condições de trabalho, não foi incluído”, explica. Ele menciona, também, a metodologia do Markup e a possibilidade de adesão ao MEI como pontos que são defendidos pelos trabalhadores e não foram acatados.
Aderson critica a metodologia de precificação por hora trabalhada, que muitos motoristas, incluindo ele próprio, consideram inadequada: “Realizamos o mesmo tipo de serviço que os taxistas e precisamos ser valorizados”, enfatiza.
Ele relembra uma liderança que o convidou para visitar gabinetes e como sugeriu formar uma equipe para fazer reinvindicações: “Propus a ele que, ao invés de apenas três ou quatro pessoas, formássemos uma equipe maior. O trabalho era muito desgastante para poucas pessoas”, diz.
Segundo Aderson, o objetivo do Movimento Nacional, do qual ele faz parte, é auxiliar os motoristas e garantir que suas vozes sejam ouvidas no Congresso: “Mandamos e-mails, usamos redes sociais e visitamos gabinetes. A equipe de Brasília tinha caído, então organizamos reuniões, alinhamos com a diretoria da Frente Parlamentar e alguns líderes nacionais falaram conosco. Distribuímos material para estudo e preparação”, explica.
O motorista também tem o grupo Pelotão, que, segundo ele, está à postos para audiências e comissões.
Mobilização e organização
Antes de o relator apresentar o relatório da Comissão de Indústria e Comércio, a equipe já estava trabalhando: “As visitas aos gabinetes são essenciais para representar os 1,5 milhão de motoristas. Não falamos em nome individual, mas em nome de todos. Colocamos coordenadores e motoristas bem preparados para levar nossas demandas”.
Na semana do dia 12 de junho, na qual o projeto de lei seria votado inicialmente, os motoristas de aplicativo passaram todos os dias visitando gabinetes e conversando com deputados da Comissão de Indústria e Comércio.
União e modernização das leis trabalhistas
Aderson menciona que, há dois anos, tentaram reunir os grupos de administradores de motoristas de Brasília, mas muitos egos estavam envolvidos: “Recentemente, vi uma frase que dizia: ‘Deixe seu ego na porta.’ Se tivéssemos feito isso há dois anos, estaríamos mais organizados e avançados na regulamentação”.
Ele comenta sobre o PL 536, elaborado pelo deputado Daniel Agrobom (PL-GO), que é apoiado por ele e pelo Movimento Nacional.
O motorista explica que o Brasil tem 39 milhões de pessoas na informalidade, muitas das quais não recebem nenhum tipo de auxílio social do governo: “Essas pessoas estão trabalhando, ganhando dinheiro e movimentando a economia, mas não recolhem INSS nem pagam imposto de renda”, diz. De acordo com o Aderson, o PL 536, ao regulamentar a atividade dos motoristas, causará um “efeito cascata”, para outras atividades plataformizadas.
O motorista afirma acreditar que o Governo Federal deveria estar focado na modernização das leis trabalhistas do país: “O Brasil precisa mudar suas leis trabalhistas para se adaptar à nova realidade do mundo”. Ele afirma que a modernização das leis trabalhistas eliminaria a necessidade de projetos especiais para profissões como motoristas de aplicativo: “Em vez de criar projetos de lei específicos para motoristas de aplicativo, motoboys, ou outros profissionais, bastaria modernizar as leis trabalhistas.”
Desafios e perspectivas futuras
Ele prevê que o processo de regulamentação será longo e difícil: “Dependendo de nós, o governo só passará esse projeto se for de madrugada, sem tempo de mobilizar os motoristas. Estamos em recesso de festas juninas, depois vêm as férias e as eleições municipais. A regulamentação é urgente, mas precisa ser justa para frear as plataformas”. Segundo o motorista, os trabalhadores estão prontos para lutar pelos interesses deles.
Nas últimas semanas, Aderson conta que ele e seus colegas organizaram manifestações, mesmo com recursos limitados: “Tentamos ocupar um plenário com 300 motoristas, mas conseguimos 150 de Brasília e outros de fora. Fizemos camisetas e plaquinhas, e levantei uma placa pedindo uma CPI contra os aplicativos, pois o que fazem é criminoso. Eles não oferecem previsibilidade aos motoristas”, relata.
O motorista exemplifica a falta de previsibilidade mencionando sua experiência pessoal: “Comprei dois carros novos em 2018. No final do ano passado, a Uber rebaixou os carros de categoria, resultando em uma queda de 30% na minha receita, mas minhas dívidas não diminuíram. Isso mostra como as plataformas prejudicam os motoristas”, explica.
Aderson destaca a necessidade urgente de união entre os motoristas de aplicativos: “Nossa categoria nunca se uniu de verdade, e agora estamos precisando nos unir com urgência. Os motoristas precisam entender que não houve tempo para eleger lideranças, mas surgiram lideranças que se propuseram e foram reconhecidas. Essas lideranças são motoristas com 5, 6, 7 anos de experiência nas ruas, e muitas vezes são questionadas por colegas que não compreendem a importância de se organizar”, explica ele.
O motorista faz um apelo à união e compreensão da importância da liderança: “Quero deixar uma mensagem para os motoristas: vamos nos unir, entender o que é liderança e trabalhar juntos. A união pode fazer muito. Eu mesmo estou enfrentando dificuldades, mas não vamos desistir. Se deixarmos, o governo nos engolirá”.