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Estrangeiros encontram oportunidades no Brasil como motoristas de aplicativo

inDrive cadastro motorista
Pessoa segurando o volante de um veículo com celular na mão Foto: Divulgação/inDrive

Aplicativos de transporte oferecem um novo começo para imigrantes e refugiados em busca de renda no país.

No Brasil, os aplicativos de transporte têm emergido como uma alternativa para imigrantes ou refugiados que buscam se integrar ao mercado de trabalho, principalmente se não conseguem exercer as mesmas funções que desempenhavam no país de origem.

Segundo dados de 2023 do Senado Federal, o Brasil abriga aproximadamente 1,5 milhão de imigrantes e cerca de 66 mil refugiados, mas apenas 230 mil desses estrangeiros possuem um emprego regular. 

O Instituto Adus, que trabalha com reintegração de refugiados, aponta que entre os principais obstáculos para inserção dessas pessoas no mercado de trabalho estão a revalidação de diplomas, barreiras linguísticas e a adaptação às exigências do mercado brasileiro. Muitos possuem qualificações profissionais que não conseguem utilizar devido à burocracia e à necessidade de fluência em português.

Uma pesquisa realizada em 2024 pela ONG Visão Mundial revelou que 67,4% dos imigrantes entrevistados não estão inseridos no mercado de trabalho formal.

A pesquisa ouviu 264 imigrantes, predominantemente venezuelanos, em cidades como Boa Vista (RR), Manaus (AM) e São Paulo (SP). O levantamento destacou que as mulheres são as mais impactadas pela falta de emprego, com apenas 42% delas empregadas. A maioria das que não conseguem emprego são mães, enfrentando dificuldades adicionais na busca por sustento.

Nesse contexto, os aplicativos de corrida têm a possibilidade de agir como um novo começo e uma oportunidade de renda para essas pessoas.

Experiências de motoristas

O venezuelano Greibi Daniel Ramirez e o haitiano Jean Olgue são dois exemplos de estrangeiros que encontraram no setor de transporte por aplicativos uma oportunidade de renda.

Greibi relata que o processo de adaptação ao chegar no Brasil não foi fácil, mas hoje se sente confortável aqui. Ele começou o trabalho como motorista de aplicativo a partir da sugestão de um amigo brasileiro: “Eu tinha meu carro. Ele falou: ‘cara, por que você não trabalha como motorista?’ E me indicou o aplicativo Urban66, com o qual eu trabalho sempre,” conta. 

Segundo ele, desde que começou a trabalhar com o Urban66, e agora também com o 69 Driver, Greibi tem conseguido interagir com os passageiros e se sente bem com essa atividade. Ele destaca as orientações recebidas do Urban66 como um dos fatores que o ajudou no trabalho.

No entanto, ser motorista de aplicativo não é a única função de Greibi. Ele relata que combina suas atividades nos apps com seu trabalho sazonal como operador de maquinaria pesada e agrícola: “Eu trabalho por safra. Quando chega a safra de colher de milho, de soja, eu sou operador,” explica. Para Greibi, o trabalho como motorista de aplicativo é uma fonte de renda complementar, principalmente fora da época de colheita, e uma oportunidade de aprendizado.

Jean Olgue, haitiano que chegou ao Brasil em 2014, encontrou na receptividade do povo brasileiro uma base para enfrentar os desafios iniciais. Casado com uma brasileira e pai de dois filhos, Jean precisou superar a barreira linguística e as dificuldades econômicas para se estabelecer: “Encontrei um povo muito bom, que gosta de conversar com estrangeiros e não tem preconceito,” relata. 

Ele conta que encontrou no trabalho como motorista de aplicativo sua principal fonte de renda, o que lhe permite sustentar sua família tanto no Brasil quanto no Haiti: “Tenho família no Haiti, minha mãe e meus irmãos, e preciso ajudá-los financeiramente. Por isso, decidi trabalhar como motorista de aplicativo,” explica.

Jean relata que o processo de cadastro como motorista de aplicativo foi simples, exigindo apenas a apresentação dos documentos necessários. No início, ele enfrentou dificuldades com a plataforma, aceitando chamadas distantes que resultavam em menor lucro devido à falta de conhecimento das melhores estratégias, além da direção: “Dirigir foi um desafio, pois eu não tinha muita experiência”. Por escolha, ele trabalhou exclusivamente com o aplicativo da Uber, para evitar sobrecarga.

Inicialmente, Jean conta que recebeu muitas multas por excesso de velocidade, mas a situação melhorou com o uso de aplicativos de navegação. Atualmente, ele diz que trabalha sem problemas e sem medo, mas evita trabalhar durante a madrugada devido a relatos de assaltos, optando por rodar apenas durante o dia para minimizar riscos.

Com o tempo, Jean desenvolveu um gosto pelo trabalho e decidiu lançar seu próprio aplicativo, o Ameri Driver. 

Iniciativas de apoio

Marcelo Haydu, diretor do Instituto Adus, detalha a missão e as atividades da organização, fundada em outubro de 2010: “O Instituto Adus é uma Associação civil de direito privado, sem fins lucrativos, que atua junto aos refugiados e outros estrangeiros vítimas de migrações forçadas na cidade de São Paulo, a fim de reduzir os obstáculos que enfrentam para sua efetiva reintegração na sociedade”. 

A organização afirma que busca oferecer o suporte essencial para que esses indivíduos possam se integrar de forma plena à sociedade brasileira.

Ao abordar os maiores desafios enfrentados pelos imigrantes e refugiados na busca por trabalho no Brasil, Haydu destaca três principais barreiras: “Os principais desafios se relacionam diretamente com a revalidação de diplomas universitários, o match com vagas de trabalho atrativas com o perfil profissional dos beneficiários, e as barreiras linguísticas iniciais para a realocação no mercado de trabalho.” 

Ele observa que a comunicação em português é essencial para muitas vagas no Brasil, o que coloca os imigrantes e refugiados em desvantagem. Além disso, a burocracia para a revalidação de diplomas internacionais impede muitos de atuarem em suas áreas de formação.

Para ajudar na integração dessas pessoas no mercado de trabalho brasileiro, o Instituto Adus desenvolveu uma abordagem baseada em três pilares: Proteção, Capacitação e Geração de Renda: “O primeiro pilar diz respeito à proteção internacional de refugiados, solicitantes de refúgio e migrantes em situação de vulnerabilidade,” comenta Haydu, explicando que isso envolve a prevenção de violações de direitos. 

O segundo pilar é o Programa de Ensino de Português, que visa capacitar os refugiados e solicitantes de refúgio no domínio da língua portuguesa, facilitando sua integração na sociedade. O terceiro se concentra na inserção socioeconômica, através do Programa Capacitação e Geração de Renda: “Criamos o Programa, por meio do qual nos articulamos, sensibilizamos e capacitamos empresas e organizações visando a inserção laboral das pessoas em situação de refúgio e imigrantes,” diz. A organização também criou a escola de idiomas “Nós, o Mundo”, onde refugiados ensinam inglês, francês e espanhol. As aulas ocorrem em diversos locais, incluindo empresas parceiras.

Em 2018, a 99 lançou um programa em parceria com o Instituto Adus para permitir que motoristas estrangeiros se cadastrassem na plataforma, mesmo sem CPF. Além disso, fizeram parceria com uma locadora de carros, para que os estrangeiros pudessem alugar veículos a preços reduzidos. 

Segundo a publicação da revista Veja, motoristas da plataforma também eram beneficiados com outras parcerias que dão descontos em restaurantes, celulares e até em um curso de inglês. 

A integração dos imigrantes e refugiados ao mercado de trabalho brasileiro é um desafio significativo, mas iniciativas como o trabalho em aplicativos de transporte e programas de apoio oferecidos por organizações têm demonstrado ser caminhos viáveis.

Essas soluções proporcionam uma fonte de renda imediata e a possibilidade de adaptação ao mercado local, enquanto esforços de longo prazo, como a capacitação linguística e a revalidação de diplomas, continuam sendo essenciais para a plena inserção desses indivíduos na economia formal. Com o apoio adequado e políticas inclusivas, é possível melhorar as condições de vida e as oportunidades para imigrantes e refugiados no Brasil.

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Anna Julia Paixão

Anna Julia Paixão é estagiária em jornalismo do 55content e graduanda na Escola Superior de Propaganda e Marketing.

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