Sim, o motorista da Uber pode levar até quatro pessoas, no entanto, a empresa permite que ele cancele a viagem a qualquer momento.
Com o uso cada vez maior de aplicativos de transporte, grupos de amigos, familiares e conhecidos frequentemente se unem para compartilhar uma mesma corrida.
No entanto, as corridas com quatro ou mais passageiros geram debates e polêmicas: os motoristas devem aceitar esse número de pessoas em um único veículo?
Para entender melhor essa discussão, é importante lembrar que durante o período de pandemia, medidas de segurança rígidas foram implementadas, proibindo a entrada de mais de três passageiros e o uso do banco do carona.
Alguns motoristas chegaram a instalar divisórias entre a parte da frente e a parte traseira do veículo para aumentar a segurança. Com o retorno à normalidade, muitos passageiros ainda enfrentam dificuldades ao solicitar uma corrida para quatro pessoas ou mais.
Além das questões de segurança e conforto, outros fatores também contribuem para a controvérsia. Motoristas frequentemente mencionam preocupações com o desgaste adicional do veículo e o aumento do risco de acidentes.
Por outro lado, passageiros argumentam que dividir uma corrida entre várias pessoas é uma forma mais econômica e prática de se locomover.
A Perspectiva dos Motoristas: Segurança e Conforto
Alfredo Daiub trabalha diariamente de 8 a 10 horas como motorista de app, e não aceita mais de 3 passageiros: “Só aceitaria se tivesse valor para cada passageiro adicional. Deveria ter uma categoria com tarifa maior para esses casos, pois o carro fica mais pesado e desgasta em todos os aspectos. Quanto maior o peso, maior o gasto de combustível, de pneus, pastilhas de freio e bancos do carro”.
Ricardo Mendes, motorista de São Paulo, pondera: “A questão varia de motorista para motorista. Eu, por exemplo, só pego quatro pessoas porque meu carro comporta quatro. Quando eu trabalhava com um carro menor, só levava três pessoas, duas atrás e uma na frente. Motoristas não gostam quando passageiros tentam forçar a levar mais pessoas do que o permitido para pagar menos. O valor do Uber já é baixo, mas para evitar pegar dois carros devido à quantidade de pessoas, acabam tentando forçar o motorista a aceitar esse tipo de corrida”.
Posicionamento dos Aplicativos: Políticas e Flexibilidade
Buscamos as empresas de transporte, para entender qual a política aplicada nesses casos. A InDrive , declarou: “Para a inDrive, a autonomia dos usuários é um valor básico e a liberdade de escolha é sempre incentivada. Portanto, a prática de corridas com quatro ou mais passageiros sempre deve ser negociada entre o motorista e o passageiro, claro, respeitando às leis locais e a capacidade do veículo”.
Enquanto isso, a 99 afirmou: “A 99 informa que segue todas as determinações das autoridades brasileiras voltadas para o transporte individual privado por aplicativo. Portanto, desde a flexibilização das medidas de isolamento social para prevenção de Covid-19, foi retomado o limite de até quatro passageiros nas corridas pela plataforma. A empresa ainda esclarece que é imprescindível que haja o diálogo entre motoristas parceiros e passageiros para que a viagem ocorra de forma confortável e segura para ambos. A 99 reforça que o bom senso, respeito, empatia e gentileza são fundamentais para que a experiência do passageiro e do motorista parceiro seja a melhor possível. Após a viagem, tanto os condutores quanto passageiros são incentivados a avaliar suas corridas, podendo registrar eventuais ocorrências. Mais orientações estão disponíveis no Guia da Comunidade 99″.
A Uber também foi procurada, mas não retornou até a data de publicação da matéria. Mas em seu site, a companhia explica que a segurança é a principal prioridade para eles e que estão permanentemente investindo em novos recursos para fazer a plataforma cada vez mais segura antes, durante e depois que é usada por sua comunidade de usuários, parceiros ou clientes.
Passageiros: A Conveniência e o Custo-Benefício
Vinicius Crepaldi, de 19 anos, utiliza com frequência os aplicativos de transporte em seu dia a dia, e comenta que poderia existir uma categoria especial para essas corridas: “Já tive corridas recusadas na hora por motoristas que não queriam levar mais de 3 pessoas. Os motoristas que não aceitam, na verdade, muitas das vezes estão perdendo dinheiro, porque na maioria dos casos é uma corrida mais cara, pela quantidade de pessoas. Mas é um direito deles escolher levar ou não”.
O cliente finaliza: “Seria interessante uma categoria especial para isso, para justamente só aqueles motoristas que realmente aceitam levar essa quantidade de pessoas, poderem usufruir desse benefício”.
Julia Dias, também é usuária, e conta: “Fico com muita raiva quando cancelam, parece que não querem trabalhar. Atrasa todo o planejamento do dia, mas também entendo que em alguns casos o motorista pode ter tido algum problema anterior, mas atrapalha muito”.
Desafios Regulatórios e Normativos
Thyrso Guilarducci é consultor de segurança no trânsito, e explica que o veículo com 5 ocupantes e com alguma bagagem trafega no limite de sua capacidade de peso. “Nesses casos é importante lembrar que o espaço para uma frenagem de emergência pode demandar mais espaço pelo aumento da massa em função do deslocamento. Uma questão das leis da física. Os veículos dotados de tecnologias mais recentes possuem recursos que minimizam esses efeitos, mas não deixam de haver os riscos”.
Para o especialista é importante redobrar a atenção ao dirigir, evitando distrações, e regulando bem os retrovisores externos, pois provavelmente com três passageiros no banco traseiro a visibilidade pode ser comprometida pelo retrovisor interno.
Thyrso também comenta o caso de transporte de criança. Ele explica que existe uma regra que diferencia os táxis e carros de app dos veículos particulares amparada pela Resolução 819/2021. “Carros particulares devem respeitar o uso obrigatório dos dispositivos de contenção que podem ser bebê conforto, cadeirinha ou assento de elevação. Esses equipamentos devem ser afixados tanto na criança, quanto no aparelho como ambos nos cintos dos veículos. A criança é considerada passageira. Imaginando um casal com trigêmeos, as três crianças devem estar acomodadas com dispositivos no banco traseiro e o tutor/a no banco dianteiro ao lado do motorista”, Thyrso conclui.
As regulamentações de trânsito permitem que motoristas de aplicativos aceitem mais de três passageiros?
Procuramos o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP), que informou: “A regulamentação para o transporte por aplicativos é de competência municipal. Entretanto, essa circulação de veículos de aplicativo não pode desrespeitar as normas de trânsito e transporte propostas pelo Código Brasileiro de Trânsito – CTB, incluindo o limite de ocupação regular por modelo de veículo, que são de competência privativa da União, ou seja, dependem de lei federal, que tem validade em todo o território nacional”.
E acrescentam: “ Importante destacar que a fiscalização em relação ao respeito às normas estabelecidas pelo CTB pode ser feita por agentes municipais, policiais militares e agentes rodoviários. Independente de os veículos serem ou não de aplicativo, além do limite de ocupação, tanto condutor quanto passageiros devem utilizar o cinto de segurança e os motoristas precisam respeitar os limites de velocidade, não utilizarem o celular ao volante e não cometerem a desastrosa combinação do consumo de bebida alcoólica e direção”.
Soluções e Alternativas
Para contornar esses desafios, tanto motoristas quanto aplicativos têm adotado diversas estratégias. Alguns motoristas optam por veículos maiores, como os SUVs, que podem acomodar mais passageiros com segurança. Além disso, práticas como avisar antecipadamente o motorista pelo chat do aplicativo, não sujar os bancos, e até mesmo evitar tumultos, podem ajudar.
Uma outra solução para esses casos pode ser observada nos Estados Unidos, com a categoria XL. O modelo permite corridas para até seis pessoas ou quatro passageiros com bagagem, com Vans e SUVs disponíveis para o transporte.
