Motorista criticou o projeto do governo federal e pediu que deputados colocassem em pauta o PL 536.
Em audiência realizada na última segunda-feira (20), na Câmara de Vereadores de Salvador, o motorista e influenciador Cláudio Sena expressou sua insatisfação com o relatório apresentado pelo Ministério do Trabalho.
Segundo Sena, o documento foi elaborado sem a participação dos trabalhadores do setor, destacando que “em nenhum momento, os trabalhadores foram ouvidos. Não houve motorista por aplicativos nesse grupo de trabalho.”
Sena criticou o governo por se aliar a plataformas e entidades sem histórico de luta pelos direitos dos motoristas, citando que estas entidades não possuem envolvimento direto com a categoria desde 2014. Ele destacou a importância de um projeto de lei elaborado pelos próprios motoristas, que trata principalmente da correção das tarifas, um ponto crucial que o relatório atual ignora.
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Ele também questionou as estimativas de ganhos apresentadas pelo Ministério do Trabalho. “O relatório diz que o motorista, ao final de X horas trabalhadas, vai receber R$ 5.800. Onde está o custo com combustível, seguro, manutenção e financiamento?”
Sena ressaltou a falta de transparência nas tarifas cobradas pelas plataformas. Ele exemplificou como duas corridas para o mesmo destino, realizadas por diferentes motoristas, podem resultar em cobranças distintas para os passageiros e pagamentos diferentes para os motoristas. Ele classificou essa prática como manipulação irresponsável das plataformas.
O influenciador defendeu que os motoristas de aplicativos não querem ser representados por sindicatos que não os representam de fato. “Queremos liberdade e uma tarifa justa, utilizando metodologias que a própria Uber emprega. Hoje, um motorista pode realizar a mesma viagem e receber valores diferentes”, afirmou.
Ele contou que era um dos 25 primeiros motoristas que estavam nas ruas quando a Uber chegou na cidade e que em sua primeira viagem a Uber cobrou R$ 27 da passageira e lhe deu R$ 20, sendo que hoje essa mesma viagem a Uber pagaria R$ 16, R$ 17.
Sena fez um apelo para que a Comissão do Trabalho considere o PL 536, ao invés do PL 12, que ele considera inadequado para atender às necessidades da categoria.
“O ideal para nós seria o PL 536, porque foi elaborado por nós, que estamos ali pagando o combustível, que estamos ali pagando o carro, que estamos ali sendo insultados por passageiros, que estamos ali ficando 12, 14 horas, como fiquei ontem até hoje, 14 horas e 15 minutos, na pista. À disposição de uma plataforma, custeando o meu deslocamento para ir até o comércio pegar um passageiro, e só nessa partida a Uber já está ganhando, com o meu deslocamento, com o meu tempo, com a minha dedicação, com o meu carro, com o meu investimento, meu combustível, meu financiamento, com tudo! E ela está ali, ela divide comigo, e divide mesmo, porque em uma viagem que fiz ontem, a Uber ficou com 58%. Isso que os sindicatos que estavam no GT não tiveram sensibilidade. Isso que a Uber não está preocupada, isso que o governo não está nem aí! E o motorista está aqui, ó, pagando na pele, suando, tendo que ficar hoje mais tempo na pista do que ficava em 2016 para fazer o mesmo resultado. Essa regulamentação, como proposta, não nos interessa”, diz o influenciador.
Ele concluiu seu discurso agradecendo aos deputados presentes e pedindo para que as necessidades dos motoristas sejam ouvidas na regulamentação do setor. “Nossa esperança é que esta comissão nos ouça e que nossas necessidades entrem nessa regulamentação. Nós temos um projeto de lei. Não sei como se tramita isso lá, mas nós queremos ser ouvidos. Se o 536 entrasse em pauta, nossa, tenho certeza que seria feita justiça. O governo precisa nos dar liberdade e direitos, melhorando o serviço para o consumidor final e tirando o poder das plataformas sobre nós”, finalizou Sena.