“Propor que o motorista de app ganhe R$ 32,00 e depois pular para R$ 70,00 não faz sentido”, diz Duda da Amasp

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Presidente da Associação do Motoristas de Aplicativo de São Paulo voltou a criticar trabalho de sindicatos.

Em audiência pública realizada na última sexta-feira (17), Eduardo Lima de Souza, o Duda, presidente da Associação dos Motoristas de São Paulo (Amasp), expressou suas preocupações com a falta de acesso ao texto atualizado do projeto. “O que realmente preciso é do texto do relator, Augusto Coutinho, com as emendas que foram entregues. É complicado discutir sem o texto em mãos. Como podemos debater sem saber exatamente o que está sendo proposto?”, declarou.

Para ele, o projeto começou errado e, se sancionado, vai trazer sérios problemas para a classe. “Identifiquei sérios problemas nesta regulamentação. Na minha visão, deveríamos ter um formato onde os motoristas e as empresas apresentem suas demandas de forma independente para serem analisadas pelo governo e ele (governo) avalia o que é possível ou não”, explicou Duda.

Ele criticou o modo como as medidas foram introduzidas, ressaltando a falta de clareza e de comunicação efetiva entre as partes interessadas. “Propor R$ 32,00 e depois pular para R$ 70,00 não faz sentido. Se você manter R$ 32,00, a classe vai passar fome. Se você aumentar para R$ 70,00, a classe vai passar fome. Isso só vai encarecer o serviço e prejudicar tanto os motoristas quanto os usuários”, comentou.

“Os deputados e o governo deveriam nos agradecer por alertar sobre os problemas desse projeto. Eles não percebem a bomba que estão preparando para lançar sobre os motoristas e passageiros”, disse ele, fazendo um apelo final para uma revisão mais consciente do projeto. “Se você prejudicar o bolso do motorista, não pense que ele vai ficar quieto. Isso é uma questão de sobrevivência”, alertou.

Duda intensificou ainda mais sua crítica sobre a estrutura proposta pelo projeto PLP 12, apontando a ampla liberdade concedida às empresas dentro do esquema regulatório. “A empresa tem uma abertura gigantesca para fazer o que quiser. Você está falando aí, juntamente com o secretário do trabalho, sobre fiscalização. Mas vamos ser realistas: em 2011, enquanto dirigia ônibus, estourei meu ombro trabalhando de 14 a 18 horas por dia. Depois de um ano de cama, recorri ao sindicato e a resposta foi ‘corre atrás do seu direito’. Paguei 16 anos ao sindicato para ouvir isso”, argumentou ele, compartilhando uma experiência pessoal para ilustrar a falta de suporte efetivo para os trabalhadores.

Ele prosseguiu, questionando a sustentabilidade futura da Previdência Social e a falta de opções reais para os motoristas, como a opção de ser um Microempreendedor Individual (MEI). “Daqui a 30, 40 anos, como a Previdência vai sustentar os aposentados? E sobre o MEI, o governo não decide nada, as empresas não decidem nada. Quem decide é o motorista. Ele traz a reivindicação”, enfatizou.

Duda criticou a falta de autonomia e representatividade, apontando falhas na abordagem atual para resolver as questões dos motoristas. “Estamos com uma manifestação nacional travada. Estou segurando essa manifestação porque, como vamos protestar sem saber ao certo contra o quê?”, questionou ele, evidenciando a incerteza e a falta de clareza nas medidas propostas.

O presidente fez um apelo direto para que se reconheça a voz dos motoristas e se respeite suas demandas. “Quando um motorista diz que o sindicato não o representa, isso é um sinal claro. É necessário parar, analisar e entender o que estamos falando aqui. Não somos representados de forma adequada”, concluiu Duda, pedindo uma reflexão mais profunda sobre o papel das entidades representativas e a eficácia das regulamentações propostas.

Duda destacou a confiança que sua comunidade deposita nele e reiterou a necessidade de ouvir as demandas dos motoristas diretamente.

“Onde está o problema? Eu sou a máxima, a associação é a máxima. A maior associação do Brasil. Os motoristas têm um carinho gigante por mim. Você não vê os motoristas me atacando nos comentários, porque eles sabem que eu luto por eles”, afirmou Duda, ressaltando sua popularidade e apoio entre os motoristas.

Duda argumentou que as verdadeiras necessidades e desejos dos motoristas muitas vezes não são considerados adequadamente pelos formuladores de políticas. “A questão é vontade do motorista. Como é que você chega para mim e fala que vai lutar para não ter um MEI? Eu quero o MEI. Você chega e contraria a minha vontade. Isso não existe. Você tem que ir ao motorista, irmão. O motorista quer o MEI, eu vou bater de frente com o governo para pôr o MEI”, explicou.

Além disso, ele tocou no ponto das restrições de horas de trabalho e nos esforços para aumentar o teto de renda anual para motoristas. “O motorista quer rodar 12 horas. A gente vai ter 12 horas. E estamos trabalhando juntamente com o Ministério do Empreendedorismo para aumentar o teto para R$ 270 mil”, questionou.

Duda também criticou a postura do sindicato e do governo, que segundo ele, muitas vezes não refletem as verdadeiras necessidades dos trabalhadores. “O governo não sabe o que a gente precisa. Quem sabe o que a gente precisa? Quem está na pista? Ouve o motorista. É isso. É simples”, finalizou, pedindo uma escuta mais ativa das vozes dos motoristas na formulação de políticas que os afetem diretamente.

Concluindo, Duda reforçou a necessidade de ouvir diretamente os motoristas sobre suas necessidades específicas, como o desejo por mais autonomia através do status de Microempreendedor Individual (MEI), ou a demanda por jornadas flexíveis de até 12 horas. “Motorista que é MEI vai lutar pelo MEI. Motorista que é 12 horas vai lutar por 12 horas. Motorista que quer remuneração considerando o km e os minutos não quer R$ 70 a hora”, explicou, enfatizando que as demandas dos motoristas devem guiar as negociações e não serem esquecidas ou minimizadas.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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