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“Apps só pensam neles mesmos e nos lucros de cada corrida, faço meu trabalho mesmo sabendo que vou tomar uma bica”, critica entregador

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Entregador
Carlos Andre da Silva
Carlos Andre da Silva

Entre tempestades, apagões, ganhos insuficientes e penalidades: a realidade de um entregador de aplicativo em São Paulo. 

Carlos André da Silva, entregador de aplicativo, compartilhou uma história sobre as dificuldades enfrentadas durante uma entrega que parecia rotineira, mas que se complicou por uma tempestade e falhas no sistema elétrico da cidade de São Paulo.

Carlos iniciou sua jornada num dia que prometia ser como outro qualquer, buscando 12 quilos de frango congelado em um frigorífico no CEASA para entregar no Morumbi. “Durante o trajeto, inesperadamente começou uma tempestade intensa, tão forte que mesmo com capa de chuva fiquei encharcado”, contou ele sobre o início de seu percalço.

Além da chuva, um apagão em várias regiões de São Paulo, incluindo o destino da entrega, adicionou mais um obstáculo à sua missão. Ao chegar ao local, Carlos encontrou outro problema: “A portaria do prédio funcionava com um sistema eletrônico que, sem energia, não operava.” Isso o deixou impossibilitado de concluir a entrega, apesar de seus esforços para entrar em contato com o cliente e o suporte da plataforma, passando “uma hora e meia na chuva” sem sucesso.

Sem conseguir fazer a entrega, Carlos se viu obrigado a retornar ao ponto de partida, que também estava fechado. Sem opções, levou o frango para casa e teve que esvaziar o freezer para acomodar o frango do cliente, deslocando suas próprias carnes para a casa do vizinho.

O contato com a empresa responsável pela plataforma só ocorreu horas mais tarde. “Por volta das 22h, a empresa responsável pela plataforma, sediada no Rio de Janeiro, entrou em contato para saber se tinha conseguido fazer a entrega”, relatou Carlos. Ele explicou toda a situação e descobriu que a plataforma operava vendendo produtos próximos à data de validade.

No dia seguinte, um novo plano foi feito para retornar ao frigorífico, mas ao chegar, Carlos encontrou o local fechado. “Mantendo a calma, apesar dos contratempos, consegui que o segurança entrasse em contato com a gerente, que autorizou a entrega dos frangos.”

Apesar de finalmente concluir a entrega, as compensações foram insuficientes. “Recebi uma quantia insuficiente, em torno de R$39,40, para cobrir até mesmo os custos de transporte e espera, além de ter o meu score no aplicativo reduzido, o que agora limita minhas oportunidades de trabalho”, lamentou ele.

Carlos refletiu sobre sua experiência, enfatizando a discrepância entre os interesses dos trabalhadores e dos aplicativos de entrega. “ Fiz meu serviço, com excelência e profissionalismo, mas adivinha o que eu ganhei? Uma diminuição no Score e agora só consigo pegar os serviços que ninguém quer. Conclusão: aplicativos só pensam neles mesmo e nos lucros de cada corrida. Mas me sinto leve e feliz pois todas as vezes fiz meu trabalho, mesmo sabendo que no final eu vou tomar uma ‘bica’ e serei prejudicado”, concluiu. 

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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