Sandra comenta os desafios das corridas para as motoristas mulheres nas ruas cariocas.
Com os altos índices de criminalidade nas grandes cidades brasileiras, motoristas se preocupam e tomam medidas para evitar situações de risco. É o caso de Sheila Strougo, 60 anos, moradora do Rio de Janeiro e motorista de aplicativo há quase 7 anos.
Sheila conta que evita aceitar corridas em certas regiões e delimita seus horários de trabalho: “Me sinto mais insegura, entendeu? Isso (violência) impactou, sim, na minha saída. Às vezes eu desisto um pouco de sair, me dá aquela coisa que a gente acha que é ser sentido, sabe? Não tô sentindo, não vou”.
A motorista continua: “Eu não rodo na Zona Norte. Depois de um certo horário, eu não vou. E não vou nunca. Eu vou pra Baixada Fluminense, que é mais longe ainda. Em Caxias, Belford Rocho, São João de Meriti, Nova Iguaçu, eu não tenho coragem, não conheço. E tenho medo mesmo”.
Em conversas com parceiras de profissão Sheila diz que enfrentam situações que se fossem homens dirigindo, acreditam que não aconteceriam: “O cara fica mais folgado quando ele vê que é uma mulher, entendeu? Tem determinadas pessoas, que se sentem mais à vontade e acham que podem fazer o que querem ou falar só porque é uma mulher”.
Além dos receios, certos “impeditivos” podem fazer diferença no final do mês, com um faturamento menor do que motoristas homens que não precisam selecionar horários e nem locais. Com esses filtros, como Sheila faz, o resultado final pode ser afetado: “Eu não fico muito exposta, mas tem quem vira a noite, tem gente que trabalha 12 horas, tem coragem pra fazer isso e encarar o povo saindo da noite, sabe? Do jeito que vier, leva. Eu não tenho essa disponibilidade. Por isso que eu digo, eu sou uma pessoa que faço não só pela violência, não, sabe? É porque eu não gosto de amanhecer na rua. Não tenho o corpo. E aí, a violência veio me incentivar”.