“Minha média era de 10 a 12 mil”: Quanto ganha um motorista de aplicativo?

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Reportagem
Apuração aprofundada sobre um tema específico, com múltiplas fontes e contextualização completa.
Reprodução/Internet

Motoristas relatam que os ganhos podem variar entre 3 e 12 mil reais por mês.

Os ganhos dos motoristas de aplicativo podem variar amplamente dependendo de diversos fatores, incluindo os hábitos de trabalho, a região ou cidade onde atuam, e a plataforma utilizada.

Motoristas que trabalham em grandes centros urbanos, por exemplo, podem enfrentar uma demanda maior, mas também lidam com desafios como o trânsito intenso e a concorrência acirrada.

Por outro lado, aqueles em cidades menores podem ter menos corridas, mas menores custos operacionais. A escolha da plataforma também é um fator de grande influência, pois cada uma tem suas próprias políticas de tarifas e comissões, afetando diretamente o rendimento dos motoristas.

As variações nos ganhos e as práticas das plataformas são frequentemente criticadas, e permeiam os debates sobre a regulamentação do setor.

Visão das empresas

A 99 anunciou um reajuste na taxa garantida semanal cobrada dos motoristas parceiros a partir de 24 de junho. Conforme comunicado da empresa, essa taxa agora varia entre 14,99% e 24,99%, dependendo da cidade. A medida, segundo a 99, visa manter um equilíbrio saudável na plataforma e melhorar a redistribuição de incentivos, tornando as corridas mais atrativas para os motoristas: “Possibilita a manutenção de um equilíbrio saudável na plataforma e permite aprimorar a redistribuição de incentivos, estimulando corridas mais atrativas para os motoristas”, informou a empresa.

A 99 afirma que é a única empresa do setor a garantir uma taxa semanal, o que, segundo eles, proporciona previsibilidade aos motoristas parceiros. Além disso, a companhia afirma que oferece uma das menores taxas de serviço no segmento de carros por aplicativo, o que, segundo a 99, promove ganhos significativos para os condutores. O cálculo da taxa continua sendo semanal, com reembolsos realizados às segundas-feiras caso a taxa aplicada ultrapasse 24,99%: “Os motoristas parceiros podem conferir a qualquer momento, dentro do app, qual é sua taxa garantida para a semana vigente”, disse a empresa.

O preço final das corridas na plataforma 99 é determinado por uma equação que considera a distância percorrida e o tempo de deslocamento, ajustados de acordo com a oferta e demanda de motoristas na região, segundo a companhia. A empresa ressalta que o valor final pode ser influenciado por fatores como trânsito intenso, condições climáticas adversas ou um aumento na demanda por carros: “É importante ressaltar que o valor final pode ser afetado por variantes como excesso de trânsito, chuva ou aumento de pedidos de carros por aplicativo”, explicou a 99.

A 99 reforçou seu compromisso com a sociedade, destacando que a plataforma contribui para a mobilidade urbana nas cidades. A empresa enfatiza seu compromisso em garantir transporte acessível e de qualidade tanto para os usuários quanto para os motoristas parceiros: “A plataforma é uma das soluções que colaboram com a mobilidade urbana nas cidades e tem como compromisso garantir transporte acessível e de qualidade a seus usuários e motoristas parceiros”, finalizou a 99.

No caso da inDrive, a plataforma adota um modelo diferenciado onde as tarifas das corridas são negociadas diretamente entre motoristas e passageiros. Segundo a empresa, a média sugerida para cada corrida leva em consideração a distância a ser percorrida e condições específicas, como o trânsito local.

Para a empresa, esse modelo flexível permite que os motoristas ajustem os preços de acordo com a demanda e as circunstâncias, potencialmente maximizando seus ganhos. Quanto à comissão da plataforma, a inDrive retém uma taxa fixa de 9,99% sobre cada corrida.

De acordo com a inDrive, essa política permite que os motoristas fiquem com uma parcela maior dos seus ganhos. A plataforma também afirma que tem implementado projetos, como a oferta de empréstimos aos motoristas, que visam melhorar as condições de vida e de trabalho dos seus parceiros: “Implementamos alguns projetos para oferecer empréstimos aos motoristas, possibilitando que possam utilizá-los para gerar melhores condições de vida. Esses projetos foram executados no México e talvez possamos desenvolvê-los futuramente em outros mercados, como o Brasil”, informou a inDrive.

Para garantir a transparência e a justiça na distribuição das corridas entre os motoristas, a empresa enfatiza a importância do feedback constante: “A inDrive busca ser totalmente transparente com seus motoristas parceiros, sempre se colocando à disposição para ouvir sugestões e melhorar no que for preciso”, afirma a plataforma.

Já a Fast Car Rio, aplicativo regional do Rio de Janeiro, adota uma abordagem diferenciada em relação à definição das tarifas das corridas. Segundo a empresa, as taxas são estabelecidas acompanhando os valores praticados pelas duas grandes empresas do mercado, mas com a vantagem de serem menores e sem tarifas dinâmicas, beneficiando assim os passageiros.

Para os motoristas, a plataforma aplica atualmente uma taxa de 10% por corrida, com planos de reduzir para cerca de 5% com a expansão da empresa, segundo o fundador: “Nosso projeto é implantar com a expansão total a regressão desta taxa para algo em torno de 5%, para que assim os parceiros motoristas tenham ganhos maiores e alcancem sua total prosperidade e valorização”, explica.

A plataforma ajusta as tarifas ao longo do tempo para manter o equilíbrio no mercado e conforme a intensidade da demanda. “Sempre para acompanhar o equilíbrio do mercado e conforme a intensidade da demanda”, afirma a empresa.

Para resolver disputas ou problemas relacionados aos pagamentos, a Fast Car Rio tem um sistema de disparo de corridas baseado na proximidade, onde o primeiro motorista a atender a chamada é quem realizará a corrida. Além disso, os motoristas recebem o valor total da corrida diretamente dos passageiros, independente da forma de pagamento, eliminando a necessidade de intermediação nos pagamentos: “Nossos motoristas parceiros recebem o valor total em seu carro 100% em cada finalização, direto do passageiro na forma de pagamento em dinheiro, Pix, cartão débito e crédito (máquina do motorista)”, detalha a empresa. Em casos de não pagamento por parte do passageiro, a Fast Car Rio se compromete a interceder e tomar as ações necessárias para solucionar o débito.

O lado dos motoristas

Katia Anello, motorista de aplicativo, conta que o formato inicial de pagamento da Uber incluía um valor por quilômetro rodado e outro por minuto, além de uma taxa fixa mínima. Com o passar do tempo, os valores deixaram de ser reajustados, apesar das constantes subidas nos preços dos combustíveis e outros custos de vida, e as informações não ficam claras para os motoristas: “Hoje, é impossível você saber quanto que ela te pagou o minuto, o quilômetro, quanto que é a tarifa fixa, se é que ela ainda existe,” afirma.

Ela critica a falta de transparência nas tarifas, notando que, mesmo nas corridas mínimas, o valor pago ao motorista é muitas vezes incerto: “Antigamente, a Uber pagava os horários de dinâmica, pico, que sofriam uma demanda maior. Ela tinha um fator multiplicador,” diz, contrastando com a atual prática da dinâmica que, segundo ela, frequentemente resulta em ganhos injustamente baixos para os motoristas.

Katia observa que a situação piorou nos últimos meses, com muitos motoristas relatando que a Uber retém até 60% do valor das corridas em eventos de alta demanda. Ela sugere que uma tarifa mínima seria necessária para tornar o trabalho viável: “O ideal hoje para a gente poder pelo menos se restabelecer novamente seria uma mínima de R$2,50 por km e R$0,40 por minuto,” propõe.

De acordo com a motorista, a média de rendimento dela sofreu alterações nos últimos meses: “Até uns 2 meses atrás minha média era de 10 a 12 mil. Mas infelizmente nos últimos 2 meses caiu para 8/9 mil, as plataformas reduziram drasticamente o valor das corridas”.

Ela destaca os custos fixos elevados como grande empecilho para sua lucratividade: “Gasto uma média de R$ 3.300,00 de combustível, R$ 653,00 com seguro, R$ 68,00 de internet, R$ 250,00 com troca de óleo e filtros, guardo R$ 1.200 para manutenções preventivas (pneus, freio, embreagem, limpeza de bicos, lâmpadas e etc…) totalizando uma média de R$ 5.500”.

Ela conclui que as mudanças nas políticas de pagamento e a falta de reajustes adequados estão tornando cada vez mais difícil para os motoristas manterem ganhos razoáveis, mesmo com longas jornadas de trabalho, independente do aplicativo.

O motorista Ronaldo da Conceição conta que trabalha entre 8 e 9 horas por dia, sete dias por semana. Sua média mensal de ganhos é de aproximadamente R$3.500,00, podendo chegar a R$4.000,00 em meses mais favoráveis.

No entanto, Ronaldo afirma que enfrenta um desafio significativo com os gastos operacionais, que consomem cerca de 65% do seu faturamento bruto. Esses custos incluem combustível, alimentação e outras despesas relacionadas ao trabalho, com o combustível sendo um dos itens mais caros.

Atualmente, Ronaldo estima que a comissão retida pela plataforma seja em torno de 45%, o que ele considera injusto: “Eu não acho justo, pois são muitas horas trabalhadas e sem avistar uma solução para isso”, afirma Ronaldo. Ele observa que, na cidade de Teresópolis, muitos motoristas aceitam qualquer tipo de viagem, o que não é o seu caso, contribuindo para a variação nos ganhos.

O motorista destaca que a variação de ganhos é significativa: “A variação de ganhos é grande, por exemplo, em época de férias, o movimento cai consideravelmente”, observa ele. Para melhorar seus rendimentos, ele sugere novos valores: “A melhora em meus ganhos seria de que o valor mínimo da tarifa seria de R$10,00 e o km rodado de segunda a sexta deveria ser de R$2,50 e nos finais de semana R$3,00”, conclui.

Volney Maciel, motorista de aplicativo, relata uma rotina de trabalho de 10 horas por dia, totalizando entre 50 e 60 horas semanais. Com essa carga horária, seus ganhos mensais variam de R$6.000,00 a R$8.000,00. No entanto, 35% desse valor é destinado a custos operacionais, sendo o combustível um dos principais gastos: “Tenho ganhos satisfatórios, sabendo escolher bem as corridas para manter uma boa relação custo/benefício”, afirma Volney.

Em relação às comissões das plataformas, ele menciona que a média retida é de 20% por corrida. O motorista considera essa taxa alta, especialmente quando comparada aos preços cobrados dos passageiros: “As plataformas ganham muito em cima de nós”, ressalta. Volney acredita que uma redução nessas taxas e uma remuneração melhor seriam mudanças importantes para aumentar os rendimentos dos motoristas: “Os passageiros não pagam muito barato por certas corridas, e os aplicativos lucram muito em cima, poderiam repassar melhor para nós”.

Estudos apontam diferenças por região

Uma análise publicada pela UOL e realizada pelo aplicativo StopClub, voltado para motoristas de transporte por aplicativo, estima que, em São Paulo, o faturamento mensal de um condutor pode chegar a R$ 6.500. No entanto, após deduções de despesas como combustível, IPVA e manutenção, o salário líquido é reduzido para aproximadamente R$ 2.500. Os dados foram coletados a partir de informações inseridas pelos próprios motoristas na plataforma, que possui mais de 220 mil usuários ativos e mais de 1 milhão de downloads.

O levantamento da StopClub indica que um motorista de aplicativo em São Paulo trabalha em média 60 horas por semana, o que equivale a 8,5 horas diárias. Em outras cidades, os resultados variam. No Rio de Janeiro, o faturamento mensal é de R$ 6.000, com um lucro líquido de R$ 2.413,31 após a dedução de R$ 3.585,69 em despesas, incluindo combustível. Em Belo Horizonte, os motoristas registram uma receita de R$ 6.428,57, com um lucro líquido de R$ 2.805,77, trabalhando 54 horas semanais.

Os números também revelam diferenças regionais significativas. Em Porto Alegre, a receita mensal dos motoristas é de R$ 6.428,57, resultando em um lucro líquido de R$ 2.527,58 após a dedução de R$ 3.900,99 em despesas. Já em Brasília, a receita é de R$ 5.215,71, mas o lucro líquido cai para R$ 1.320,64, com despesas totais de R$ 3.895,07. Em Recife, os motoristas ganham R$ 4.285,71 por mês e têm um lucro líquido de R$ 1.148,27, considerando despesas de R$ 3.137,44.

Outros dados incluem Salvador, onde a receita mensal é de R$ 5.142,86, com um lucro líquido de R$ 1.712,19 após a dedução de R$ 3.430,67 em despesas, e Curitiba, onde a receita é de R$ 5.785,71 e o lucro líquido é de R$ 1.888,24, com despesas de R$ 3.897,47. Em Fortaleza, os motoristas registram uma receita de R$ 5.142,86 e um lucro líquido de R$ 1.947,52, enquanto em Goiânia, a receita mensal é de R$ 5.142,86 e o lucro líquido é de R$ 2.041,50.

A Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia), que representa empresas como Uber e 99, refutou os números apresentados pela StopClub, alegando que não foram divulgados critérios técnicos ou metodologia de amostragem.

Segundo a associação, os dados são baseados em informações declaradas pelos motoristas, sem verificação ou cálculo probabilístico. A Amobitec citou uma pesquisa conduzida em 2023 em parceria com o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), que estimou que a renda líquida média mensal dos motoristas varia entre R$ 2.925 e R$ 4.756, para uma jornada de 40 horas semanais. O estudo baseou-se em 1.518 entrevistas com uma amostra aleatória representativa dos 1,3 milhão de motoristas de aplicativos no Brasil.

Quanto ganha um motorista de aplicativo?

A remuneração dos motoristas de aplicativo pode variar significativamente, dependendo de uma série de fatores como a localização geográfica, a demanda por corridas, o número de horas trabalhadas e as estratégias individuais de cada motorista.

Em grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, os ganhos podem ser mais elevados devido ao maior volume de passageiros e à maior frequência de corridas, mas também são acompanhados por custos mais altos, como combustível, manutenção do veículo e taxas de plataformas.

Além disso, é importante considerar as políticas das empresas de transporte por aplicativo, que frequentemente ajustam suas tarifas e bônus, impactando diretamente os rendimentos dos motoristas.

Muitos trabalhadores relatam que, para alcançar um salário satisfatório, é necessário trabalhar longas horas e, muitas vezes, em horários menos convenientes, como à noite ou nos fins de semana.

Assim, a profissão oferece uma oportunidade de renda flexível, mas também exige resiliência e uma boa gestão financeira para lidar com as variações de ganhos e os custos operacionais. A realidade é que, apesar da promessa de autonomia e bons rendimentos, muitos motoristas precisam enfrentar uma rotina intensa e imprevisível para alcançar uma remuneração estável.

Foto de Anna Julia Paixão
Anna Julia Paixão

Anna Julia Paixão é estagiária em jornalismo do 55content e graduanda na Escola Superior de Propaganda e Marketing.

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