Descubra como motoboys autônomos podem definir suas taxas de entrega, calcular custos operacionais e garantir uma margem de lucro sustentável.
Publicado em 12/08/2021 – Atualizado em 25/09/2024
Com o crescimento dos aplicativos de entrega, muitos motoboys continuam a optar por atuar de forma independente, fora das grandes plataformas. Para esses profissionais, conhecer a melhor maneira de precificar seus serviços é fundamental.
Muitos entregadores preferem cobrar um valor fixo por quilômetro rodado. Saber calcular corretamente essa tarifa oferece tanto a motoboys autônomos quanto a pequenas empresas uma base sólida para iniciar seus serviços de forma competitiva.
A precificação por quilômetro rodado é um dos maiores desafios para quem trabalha de forma independente. O valor cobrado precisa não apenas ser atrativo, mas também cobrir os custos operacionais e garantir um lucro viável.
O motoboy Pedro Augusto explica que, para definir o valor do serviço, ele leva em consideração diversos fatores: “Determino o valor do frete com base na distância (Km), depreciação do veículo e alimentação diária. Além disso, peso e volume ajustam o valor, e há tarifas variáveis dependendo da área, horário e se a entrega é noturna”.
Como calcular os custos e despesas de operação?
O primeiro passo é calcular todos os custos e despesas envolvidos na operação. É importante entender a diferença entre os dois, pois isso impacta diretamente na precificação correta dos serviços.
O administrador Guilherme Bastos explica: “Custos referem-se aos gastos diretamente relacionados à execução do trabalho, ou seja, são variáveis de acordo com a quantidade de serviços realizados”.
No caso dos motoboys, os principais custos incluem o combustível, a manutenção da moto e a depreciação do veículo. Quanto mais quilômetros o entregador percorre, maiores serão esses custos. Por isso, é importante monitorar de perto esses valores para garantir que o preço cobrado cubra todos os gastos operacionais.
“Despesas, por outro lado, são os gastos fixos que não variam diretamente com a quantidade de entregas feitas, como o seguro da moto e impostos. Essas despesas precisam ser pagas independentemente do volume de trabalho. Elas são essenciais para a operação do negócio, mas não estão diretamente ligadas à quantidade de quilômetros percorridos”, completa Bastos.
O administrador também conta que diferenciar custo de despesa ajuda o motoboy a entender o que pode ser ajustado conforme o volume de trabalho e o que precisa ser incluído na precificação, mesmo que o serviço seja esporádico.
Exemplo de cálculo de custos:
– Combustível: Se você roda 1.000 km por mês e gasta R$300 em combustível, o custo por quilômetro é de R$0,30.
– Manutenção: Se você gasta em média R$200 por mês com manutenção (troca de óleo, pneus, etc.), o custo por quilômetro é de R$0,20.
– Seguro: Supondo um seguro de R$120 por mês, o custo por quilômetro seria R$0,12.
– Depreciação: Se sua moto perde R$2.400 de valor por ano (aproximadamente R$200 por mês), o custo por quilômetro seria R$0,20.
– Impostos e taxas (caso o motoboy seja MEI): Com uma contribuição mensal de R$70, o custo por quilômetro seria R$0,07.
Somando esses custos, o total mensal seria de R$890. Dividindo isso pelos 1.000 km rodados, o custo operacional básico por quilômetro seria de R$0,89. Com esses números em mãos, você terá uma estimativa de quanto custa rodar com sua moto por quilômetro.
A soma dessas despesas dividida pelo número de quilômetros rodados fornece o custo operacional básico.
Margem de lucro: como determinar
Após calcular seus custos operacionais, o próximo passo é definir a margem de lucro.
A margem de lucro varia e é influenciada por aspectos como o setor de atuação, o tipo de serviço prestado, os custos operacionais e o ambiente externo. Para motoboys autônomos, esses fatores incluem os custos variáveis, e as despesas fixas, como explicado acima. Além disso, a concorrência e a demanda local também podem afetar a escolha de uma margem de lucro adequada.
Para defini-la, o entregador deve considerar quanto deseja ganhar além das despesas. De acordo com dados do Sebrae, uma margem comum para a indústria de serviços é de 20% a 30% sobre os custos totais.
Por exemplo, se o custo por quilômetro rodado for de R$1,50 e o entregador desejar uma margem de 20%, o valor final a ser cobrado seria de R$1,80 por quilômetro. No entanto, essas médias são apenas orientações gerais. Cabe ao motoboy conhecer a fundo suas operações, custos e o ambiente de atuação para calcular sua própria margem.
Além disso, a margem de lucro pode variar conforme a demanda de entregas e a competitividade do mercado. Em áreas de alta demanda ou horários de pico, por exemplo, o valor cobrado pode ser ajustado para cima. Já em períodos de baixa demanda, talvez seja necessário trabalhar com uma margem menor para manter o fluxo de serviços.
Existe uma tabela de taxa de entrega por km?
No Brasil, não há uma tabela oficial que regule quanto um entregador deve cobrar por quilômetro rodado. O que existe são referências usadas por aplicativos de entregas.
Porém, a equipe do 55content já lançou uma matéria mostrando como as grandes empresas de entrega tabelam os preços dos serviços dos seus motoboys. Já falamos também como os clientes que usam o módulo de entregas da Machine podem cobrar pelos seus serviços.
Sobre a precificação do trabalho dos entregadores, o iFood afirma: “O pagamento dos entregadores do iFood é calculado com base em três fatores principais: coleta do pedido, entrega e distância percorrida. Há valores mínimos garantidos para cada entrega (R$6,50 por rota), por quilômetro rodado (R$1,50) e para pedidos extras na mesma rota (R$3,00). Caso o cálculo não atinja esses valores, o iFood complementa a diferença. Além disso, promoções, gorjetas e taxas de espera podem incrementar os ganhos semanais dos entregadores.”
O iFood também declara que realizou aumentos nos ganhos dos entregadores pelos três últimos anos consecutivos: “Em 2023, esse aumento foi de 4,5%, um nível acima da inflação. Este ano, o iFood atualizou em abril a precificação das rotas agrupadas, passando a pagar a partir de R$3,00 para cada entrega extra. O iFood está atento aos custos dos entregadores e reavalia o tema constantemente.”
Motoboys autônomos têm a liberdade de definir suas próprias taxas, mas é importante ficar atento ao valor praticado na sua região para não cobrar nem muito abaixo, nem muito acima do mercado. Em áreas metropolitanas, o trânsito pode influenciar no tempo gasto por quilômetro, o que pode justificar valores maiores, por exemplo.
Exemplo de cálculo de taxa por quilômetro
Vamos usar um exemplo prático para ilustrar como calcular sua taxa de entrega por quilômetro:
1. Custo de operação: Após calcular todos os custos e despesas mensais com combustível, manutenção, seguros e impostos, você chega à conclusão de que seu custo por quilômetro rodado é de R$1,40.
2. Margem de lucro: Você decide aplicar uma margem de lucro de 25%. Nesse caso, 25% de R$1,40 é R$0,35.
3. Valor final por quilômetro: Somando o custo operacional ao lucro desejado, sua taxa final seria de R$1,75 por quilômetro rodado.
Se a entrega envolver 10 km, o valor cobrado seria R$17,50. Caso o percurso tenha mais desafios, como trânsito intenso ou estradas de má qualidade, você pode considerar um adicional ou negociar previamente com o cliente.
Dicas sobre como otimizar os custos
Para otimizar os custos, é possível adotar algumas práticas que podem fazer a diferença no dia a dia dos motoboys. A manutenção preventiva, por exemplo, é fundamental para evitar gastos maiores com consertos emergenciais. Realizar revisões regulares, trocar o óleo e manter os pneus calibrados não só prolonga a vida útil da moto como também melhora o consumo de combustível. Além disso, escolher bem as rotas é outra estratégia eficiente. Usar aplicativos que indicam os caminhos mais curtos e rápidos ajuda a economizar combustível e permite fazer mais entregas em menos tempo.
Sempre que possível, agrupar entregas é uma forma eficaz de otimizar o número de quilômetros rodados, aumentando o ganho por viagem. Também é importante estar atento ao preço do combustível. Encontrar postos com preços mais acessíveis na região, sem abrir mão da qualidade, ajuda a reduzir custos. Utilizar combustíveis adulterados pode gerar danos ao motor e, a longo prazo, elevar os gastos com manutenção.
Por fim, se você trabalha com clientes ou empresas frequentes, vale a pena negociar contratos mensais ou pacotes de entregas. Isso garante uma renda fixa e permite ajustar os valores conforme o volume de serviço, trazendo mais estabilidade para o seu negócio.