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O que é Uber One?

Com benefícios que incluem cashback, entregas grátis e acesso preferencial a motoristas, o programa busca fidelizar usuários de transporte e delivery — mas experiências divididas mostram que o custo-benefício depende da rotina de cada cliente.

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Reportagem
Apuração aprofundada sobre um tema específico, com múltiplas fontes e contextualização completa.
Banner promocional do Uber One com logo, chamada sobre programa de membros e botão "Inscreva-se". Oferece assinatura mensal por R$19,90 ou anual por R$198.
Foto: Reprodução/Uber

O Uber One é o programa de assinatura da Uber que substituiu o antigo Uber Pass no Brasil. Lançado em setembro de 2023, o serviço reúne benefícios voltados a usuários dos aplicativos Uber e Uber Eats, com foco em entregas, transporte e suporte.

A assinatura custa R$ 19,90 por mês ou R$ 198 no plano anual. A empresa oferece um período de teste gratuito de 30 dias. Segundo a Uber, o serviço pode gerar economia média de até R$ 40 por mês para usuários que utilizam a plataforma com frequência.

Benefícios do Uber One

O programa oferece:

  • 10% de cashback em créditos Uber para viagens com UberX, Uber Black, Uber Comfort, Uber Flash e Uber Taxi (exceto Uber Moto);
  • Taxa de entrega gratuita em pedidos de restaurantes e compras acima de R$ 100 em mercados, farmácias e lojas parceiras;
  • Acesso preferencial a motoristas mais bem avaliados;
  • Crédito de R$ 15 caso a entrega ultrapasse o tempo estimado;
  • Descontos exclusivos em produtos e serviços dentro do app.

Os créditos acumulados por cashback ou atrasos ficam disponíveis na carteira do usuário e podem ser usados em corridas e pedidos.

Disponibilidade

O Uber One está disponível em todas as cidades brasileiras onde a Uber opera. Isso significa que, se é possível solicitar uma viagem pelo aplicativo na sua cidade, também é possível assinar o Uber One e utilizar seus benefícios. A cobertura inclui tanto regiões metropolitanas quanto cidades de médio porte, acompanhando a presença da plataforma no país.

Para quem vale a pena

O serviço é voltado a usuários que utilizam transporte e delivery com frequência. Para quem pede comida ou faz corridas esporádicas, a assinatura pode não compensar o investimento mensal.

Evolução e impacto

O Uber One é considerado pela companhia uma das principais alavancas de crescimento de longo prazo. Segundo o CEO Dara Khosrowshahi, assinantes gastam mais e têm maior propensão a experimentar novos serviços, o que contribui para o aumento da retenção e da receita por usuário. Atualmente, o programa tem 30 milhões de membros no mundo, responsáveis por 60% das reservas brutas no Uber Eats, com “bilhões de reais em descontos”, segundo a empresa.

O programa também tem impulsionado o uso cruzado de serviços no aplicativo, parte da estratégia da Uber de consolidar seu app como uma “porta de entrada digital” para atividades cotidianas, como transporte, alimentação e compras.

Concorrência

O Uber One não é o único programa de fidelidade no setor. O Clube 99, da concorrente 99, oferece corridas com desconto e taxas reduzidas no 99Food. O plano custa R$ 14,99 por mês. Já o iFood Club, voltado exclusivamente para pedidos de comida, oferece entregas grátis e promoções exclusivas por R$ 19,90 por mês.

Enquanto iFood Club e Clube 99 atuam em nichos específicos, o Uber One busca integrar serviços de transporte e entrega em um só plano, o que pode ser vantajoso para quem utiliza os dois com frequência.

Cancelamento

A assinatura pode ser cancelada a qualquer momento pelo aplicativo, na seção de configurações da conta. Após o cancelamento, os benefícios permanecem ativos até o fim do ciclo de cobrança vigente.

O olhar do usuário

Apesar da proposta de economia, a percepção de valor pode variar conforme o perfil de uso. Aline Carlin, ex-assinante do Uber One, cancelou sua assinatura após adquirir um carro e reduzir drasticamente o uso do aplicativo.

“Eu gostava muito da assinatura, acho que vale a pena para quem usa bastante, mas depois de um tempo eu não vi mais necessidade por estar dirigindo”, explica.

Ela também relatou frustração com o custo-benefício nos horários de maior demanda:

“Usava bastante o Uber para ir e voltar do trabalho, em horário de pico. Muitas vezes o preço estava alto por conta do dinâmico, ainda mais em dias de chuva. Nesses momentos, os descontos eram mínimos, e isso me deixava frustrada.”

Sobre o uso dos benefícios de entrega, Aline diz que o foco da sua assinatura era exclusivamente transporte, e não o Uber Eats:

“Não usava o Uber Eats. O que me impulsionou a assinar eram os descontos nas corridas. O Uber Eats, para mim, era um extra. Então, não acho que o custo justificava.”

Ela afirma que melhorias no programa, como descontos mais expressivos ou recursos voltados a usuários recorrentes, poderiam fazer diferença:

“Talvez se os descontos fossem mais significativos, ou se houvesse ferramentas novas, como um esquema de corrida fixa com motoristas, poderia ser mais interessante. Algo mais adaptado à rotina do usuário.”

“Mesmo só usando aos finais de semana, ainda vale a pena”

Por outro lado, usuários frequentes como Gabriel Ganthous seguem vendo valor na assinatura, especialmente por conta do seu estilo de vida:

“Utilizo muito a Uber, principalmente para viagens longas nos finais de semana. Quando bebo, não uso meu carro, então pego muitos preços dinâmicos. Vi vantagem em assinar.”

Gabriel destaca que o principal benefício no seu caso são os descontos em viagem via cashback, que se acumulam e ajudam a reduzir os custos com transporte.

“Acredito que os descontos em viagem, contabilizados por cashback, são os que mais uso no dia a dia.”

A decisão de assinar não passou por um cálculo minucioso, mas sim pela percepção de acessibilidade do valor:

“Vi que o valor para a minha realidade era baixo e logo assinei, sem me preocupar muito se valeria a pena na ponta do lápis.”

Ex-assinante do antigo Uber Pass, Gabriel vê continuidade no benefício mesmo com mudanças no plano:

“Sempre fui cliente do Uber Pass, que com certeza valia a pena, pois usava diariamente. Hoje continuo pagando, mesmo sabendo que talvez um mês ou outro ele não tenha tanto valor, mas na maioria dos meses creio que economizo.”

Ele também sugere melhorias para tornar o plano mais competitivo em momentos críticos:

“Talvez descontos aumentados em horários dinâmicos para ganhar das concorrentes. O InDrive quase sempre é mais barato nesses momentos. Descontos progressivos conforme o uso, mas com um teto definido, também seriam interessantes.”

Especialista: fidelidade se conquista, não se compra

Para Michel Cardoso, consultor financeiro pessoal e empresarial com experiência em estratégias de fidelização, o sucesso de um programa como o Uber One depende de duas etapas bem distintas: atrair e manter. A adesão, segundo ele, é movida pela percepção imediata de vantagem.

“O que faz alguém aderir é muito simples: clareza no valor. O cliente precisa bater o olho e pensar ‘vale a pena’. A proposta precisa ser direta, com benefícios fáceis de entender e, de preferência, aplicáveis à rotina do consumidor”, explica.

Mas a permanência é onde mora o verdadeiro desafio. “A continuidade da assinatura depende da experiência. O programa precisa mostrar que está vivo, evoluindo, se adaptando ao comportamento do cliente. E, acima de tudo, deve gerar sensação de pertencimento. As pessoas não são fiéis a marcas, são fiéis às experiências que essas marcas entregam.”

Michel alerta para armadilhas comuns enfrentadas por empresas que tentam embarcar na onda da fidelização sem estratégia. Entre os principais erros, ele destaca três: lançar um programa sem propósito claro, comunicar mal seus benefícios e não medir os resultados.

“Tem muita empresa que cria programa de fidelidade só porque os concorrentes têm. Mas se não houver um motivo estratégico por trás, o cliente percebe que aquilo não passa de uma jogada de marketing vazia. E aí, em vez de fidelizar, você afasta.”

Outro ponto crucial é a simplicidade. “Se o cliente precisa de um manual para entender como o programa funciona, você já perdeu ele”, diz Michel. A recomendação é começar de forma enxuta, testar, coletar feedbacks reais dos usuários e aprimorar continuamente com base nesses dados.

Ao analisar o cenário dos apps de mobilidade e delivery, ele destaca um aprendizado valioso: a fidelização está cada vez menos associada a brindes e mais conectada à praticidade e economia de tempo.

“Uber One, iFood Clube, Latam Pass… o que todos esses programas têm em comum é que eles oferecem vantagens tangíveis. Não é só sobre ganhar desconto — é sobre facilitar a vida do cliente de forma real. E isso vale para qualquer empresa, de qualquer segmento.”

Michel encerra com uma provocação que pode nortear o desenvolvimento de qualquer programa de fidelidade:  “A pergunta não é ‘o que eu dou para o cliente?’. É ‘o que eu faço ele sentir todos os dias?’. A fidelização de verdade é aquela que se encaixa tão bem na rotina, que a pessoa sente falta quando não tem.”

Concorrência regional e os desafios de fidelizar sem escala

Enquanto gigantes como a Uber contam com programas robustos de fidelização, como o Uber One, apps regionais ainda buscam alternativas para competir em um mercado dominado por multinacionais. É o caso da Te Levo, plataforma que atua em cidades de médio porte no Brasil. Segundo o CEO Sérgio Brito, o impacto de programas como o Uber One é sentido com mais intensidade nas regiões metropolitanas, onde a disputa por usuários é mais acirrada.

“Nas cidades menores, a gente ainda não sente tanto o efeito do Uber One. Mas nas quatro cidades maiores em que atuamos, o impacto é claro. Precisamos encontrar formas de driblar isso com o que temos de mais forte: o atendimento próximo, as promoções personalizadas e a experiência local”, afirma.

Para Sérgio, competir com uma marca consolidada como a Uber exige mais do que preço: é preciso gerar confiança e se tornar relevante na rotina da população local.

“Quando chegamos numa cidade nova, enfrentamos o desafio da ‘Uberização’ — o nome Uber já virou sinônimo de transporte. Então, nosso esforço é nos tornarmos conhecidos e preferidos, e isso só acontece com um atendimento excelente. Por isso, todos os nossos motoristas passam por treinamento.”

A fidelização, na visão do executivo, passa diretamente pela qualidade da experiência, não apenas pelos descontos.

“O que fideliza nas grandes capitais não é só preço. É atendimento e benefício real. O cliente quer um carro limpo, motorista educado, agilidade e confiança. Essa é a única forma de apps regionais conseguirem bater de frente com os grandes.”

Mesmo reconhecendo a importância estratégica dos programas de fidelização, Sérgio destaca os altos custos como principal barreira à implementação de algo semelhante ao Uber One.

“Já conversamos com várias empresas que oferecem soluções white label de fidelização, mas os preços são inviáveis para nós. Eles cobram por ‘vida cadastrada’, e temos hoje cerca de 200 mil clientes. Só o custo do programa passaria dos R$ 200 mil mensais. Ainda é muito caro para a nossa realidade.”

Apesar disso, ele afirma que a Te Levo continua buscando alternativas: “Faz todo o sentido seguir por esse caminho. Quem não investir em fidelização vai ficar estagnado. A gente ainda não encontrou o modelo viável, mas estamos pesquisando soluções paralelas para não ficar para trás.”

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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