Pedir Uber nos aeroportos: “A infraestrutura é péssima para motoristas de app”

ponto de exclamacao .png
Reportagem
Apuração aprofundada sobre um tema específico, com múltiplas fontes e contextualização completa.
Reprodução/Aeroporto de Salvador

Os aplicativos de transporte são uma opção muito utilizada por viajantes, o que gera iniciativas e medidas implementadas pelas plataformas e aeroportos.

Os aplicativos de transporte têm se tornado uma opção cada vez mais popular para passageiros em aeroportos, principalmente devido ao custo-benefício em comparação aos táxis e à facilidade em relação ao transporte público.

Assim, as plataformas estão implementando novas iniciativas e medidas para facilitar o transporte nesses locais. No entanto, motoristas e passageiros ainda enfrentam dificuldades.

Medidas implementadas pelos aplicativos

A inDrive afirma que implementa medidas de segurança em todas as áreas da cidade, incluindo aeroportos. A empresa adota preços recomendados para que os passageiros tenham uma referência de tarifa justa para viajar.

Segundo a empresa, eles fornecem orientação específica para motoristas em aeroportos, abordando locais de embarque e desembarque designados. Isso visa ajudar os motoristas a lidar com a dinâmica específica dos aeroportos de maneira organizada e eficiente.

A plataforma afirma que entre os principais desafios enfrentados pela inDrive ao operar em aeroportos estão a coordenação com as autoridades aeroportuárias, o gerenciamento de fluxos de tráfego e a garantia de uma experiência tranquila e segura para passageiros e motoristas.

Para melhorar a experiência dos passageiros que utilizam aplicativos de transporte em aeroportos, a inDrive afirma que implementa as medidas de segurança e organiza os pontos de embarque e desembarque específicos: “O mercado brasileiro também é bastante avançado nesse aspecto, proporcionando acesso conveniente para os viajantes recém-chegados às cidades”, destaca um porta-voz da plataforma.

Em 2023, a Uber lançou novas funcionalidades para aprimorar a experiência dos usuários em aeroportos. Entre as medidas, estão as instruções para chegar a pé do portão de desembarque do aeroporto até o ponto de embarque de uma viagem com a Uber. De acordo com a empresa, esse recurso facilita o encontro entre motoristas parceiros e passageiros, reduzindo o tempo de espera e tornando a operação mais eficiente.

A empresa também anunciou novidades no Uber Reserve, sua ferramenta para agendamento de viagens. Para o passageiro, é possível compartilhar a viagem com outras pessoas, adicionando paradas à reserva e dividindo a tarifa entre todos. No Brasil, o Uber Reserve está disponível para os serviços Uber Black, Uber Comfort e UberX.

Em 2019, a Uber destacou a importância dos aeroportos para suas operações em um documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) durante sua entrada na Bolsa de Valores. No documento, a empresa mencionou que, em 2018, 15% de suas receitas vinham de corridas iniciadas ou finalizadas em aeroportos. A Uber também expressou preocupação com possíveis regulamentações aeroportuárias que poderiam impactar suas operações, como a exigência de licenças específicas ou até mesmo a proibição completa das operações de carona em alguns aeroportos fora dos Estados Unidos.

Operações dentro dos aeroportos

O aeroporto de Fortaleza, representado pela Fraport Brasil, afirma que mantém contratos com cooperativas de táxi, Uber e receptivos de turismo, incluindo ônibus e vans, além de transporte público, para oferecer opções de transporte aos passageiros: “Cada um destes serviços possui uma área de pick-up no meio-fio que é sinalizada para que o passageiro a identifique”, explica um representante da Fraport Brasil.

Além de definir as áreas específicas para cada serviço de transporte, a Fraport Brasil esclarece que não possui poder de polícia sobre as operações: “A fiscalização da operação de transportes é responsabilidade da AMC (sala de controle) e da Etufor (Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza)”, afirma a companhia.

No aeroporto de Congonhas, a Uber anunciou que, a partir de 11 de julho, os trabalhadores parceiros que aguardam viagens no local poderão utilizar um novo bolsão de estacionamento dedicado a motoristas de aplicativo. 

De acordo com a empresa, os usuários que solicitarem viagens partindo de Congonhas contarão com 80% das vagas do meio-fio do piso inferior destinadas à Uber. Além disso, o espaço de embarque será dividido por cores para facilitar o encontro entre usuários e motoristas. A área de espera para quem aguarda a chegada do motorista também será equipada com novo mobiliário.

A operação começará na fase de testes para ajustes finais. Marco Cruz, diretor de Novos Negócios da Uber, destacou a importância de melhorar a experiência no local, considerando a relevância do aeroporto. Segundo ele, a nova operação visa proporcionar maior conforto aos motoristas parceiros, com uma área de espera dedicada e uma fila virtual organizada. Para os usuários, haverá um esquema de embarque com áreas reservadas e separadas por setores.

A Uber conta que a área de espera dedicada aos motoristas parceiros está localizada na entrada principal do aeroporto, próxima ao terminal, e funcionará das 4h30 às 23h30. Um sistema de fila virtual será implementado, permitindo que o motorista veja sua posição ao chegar na área de espera. A empresa também afirmou que motoristas que desembarcarem passageiros no aeroporto poderão receber preferência para novos pedidos de viagem enquanto se deslocam para a área. 

Impacto na mobilidade urbana

Os aeroportos no Brasil estão em crescimento, e sua integração nas cidades é um desafio que precisa ser enfrentado com estratégias assertivas para evitar problemas futuros e promover benefícios econômicos e sociais. 

De acordo com o Urban Systems, Ronei Glanzmann, Secretário Nacional da Secretaria de Aviação Civil, afirmou que os aeroportos no Brasil estão em expansão e que investimentos significativos estão sendo feitos para melhorar a infraestrutura: “Os aeroportos no Brasil irão crescer muito,” afirmou Glanzmann. “Nos últimos anos, foram investidos cerca de 25 bilhões de reais, e a previsão é de que mais 21 bilhões sejam investidos nos próximos cinco anos.”

Renata Cavion, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Santa Catarina, relata que os impactos dos aeroportos vão além do aumento de voos e passageiros; eles envolvem questões como o ruído das aeronaves e o trânsito ao redor dos aeroportos. 

Ela citou o exemplo do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, onde a proximidade com áreas residenciais gera constantes reclamações de moradores: “A mobilidade urbana deve ser pensada com cuidado, uma vez que a existência e crescimento de aeroportos nas cidades têm diversos impactos. O trânsito ao redor dos aeroportos, com o fluxo maior de pessoas, táxis e carros de aplicativo, pode se tornar cada vez mais caótico”, explicou durante um painel de discussão sobre o tema.

Experiências dos motoristas

Fabio Guatura, motorista de aplicativo em São Paulo, conta que evita operar em aeroportos devido à falta de locais adequados para embarque e desembarque e à fiscalização rigorosa que pode resultar em multas ou apreensão do veículo: “Estou evitando aeroportos. A infraestrutura é péssima para motoristas de app e as corridas não têm sido vantajosas”, afirma. 

Ele conta que prefere corridas menores e menos problemáticas em regiões tranquilas. Fabio destaca que a fiscalização visa encontrar algo para multar ou apreender os veículos, tornando a operação em aeroportos ainda mais desafiadora.

Rodrigo Pereira, outro motorista de aplicativo que atua na capital paulista, relata uma experiência mista ao operar em aeroportos. Embora a área seja movimentada e sempre haja passageiros disponíveis, ele enfrenta desafios como trânsito intenso ao redor do aeroporto e a espera em filas para pegar passageiros: “É uma área movimentada, então sempre tem passageiros, mas também muitos desafios”, comenta. Além disso, ele aponta a dificuldade de comunicação com pessoas que não conhecem bem a cidade ou o aeroporto, e têm dificuldade em indicar o local exato para o encontro.

“A infraestrutura do aeroporto para motoristas de aplicativo poderia ser melhor”, observa Rodrigo. Ele menciona que há áreas específicas para pegar e deixar passageiros, mas muitas vezes estão lotadas e a sinalização nem sempre é clara: “Isso aumenta os tempos de espera e causa confusão”.

No entanto, Rodrigo menciona que as corridas de ou para o aeroporto são geralmente financeiramente vantajosas, pois tendem a ser mais longas e com valor final maior do que corridas dentro da cidade. Ele ressalta que essa vantagem depende do trânsito e do tempo de espera, que podem reduzir o lucro.

Ponto de vista dos usuários

Agnes Todesco, jornalista carioca, compartilha sua experiência ao utilizar aplicativos de transporte para chegar e sair do aeroporto. Ela relata que chegar ao local é geralmente tranquilo, com preço justo e rápido de aceitar: “Para sair do aeroporto complica mais, mesmo quando tem stands da Uber, o preço é bem mais alto e demora bastante para aceitar”, explica Agnes.

Quando a dificuldade de aceitação é grande, ela afirma que opta por pedir um Uber Comfort ou Black. Apesar do preço mais alto, Agnes considera que ainda compensa mais do que utilizar táxi. No entanto, ela já enfrentou problemas como longas esperas e cancelamento de corridas, dependendo do dia.

A publicitária Raphaella Condeixa também compartilha suas impressões. Ela observa que alguns aeroportos já são bem preparados e têm um espaço adequado para pegar o transporte sem muita dificuldade, mas muitos ainda não possuem essa estrutura, o que torna a experiência desconfortável: “Normalmente demora bastante também. Você tem um fluxo de carros muito grande, mas como tem muita gente pedindo, sempre demora”, afirma Raphaella. Ela destaca que a parte mais difícil do embarque é lidar com as malas, especialmente quando há muitas, pois isso pode desorganizar o processo e gerar impaciência nos outros motoristas.

Raphaella considera que o principal benefício dos aplicativos de transporte é o valor mais acessível em comparação com táxis e carros fretados diretamente do aeroporto: “Outra coisa também é a praticidade do pagamento, você ter uma flexibilidade de poder decidir qual vai ser o seu destino rapidamente, direto pelo aplicativo”, explica ela.

Condeixa menciona que essa praticidade é particularmente útil em locais desconhecidos. Além disso, ela ressalta que, mesmo com o aumento dos preços dos aplicativos, eles ainda são mais baratos do que os táxis e oferecem uma melhor noção de custos: “No táxi, você chega e ele já fala um valor geralmente alto para o aeroporto, então isso é algo que me incomoda um pouco”, comenta.

Sobre problemas de longas esperas, Raphaella desenvolveu uma tática para minimizar o tempo de espera ao pedir o transporte antes de chegar ao local pré-determinado: “Mas já esperei bastante, principalmente em São Paulo, acho que pelo fluxo, pela demanda, tem muitos cancelamentos”, diz ela. Condeixa observa que motoristas tendem a cancelar corridas para destinos próximos devido à distância dos aeroportos de São Paulo de outras áreas: “O táxi, nesse sentido, seria muito mais prático, porque normalmente eles já estão lá, mas ainda assim, pelo custo, vale a pena”, conclui.

Foto de Anna Julia Paixão
Anna Julia Paixão

Anna Julia Paixão é estagiária em jornalismo do 55content e graduanda na Escola Superior de Propaganda e Marketing.

Pesquisar