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Você quer ser motorista de aplicativo a vida inteira ou quer usar o que aprendeu pra subir mais um degrau?

Depois de anos dirigindo, eu entendi que o aplicativo paga as contas, mas o futuro depende do que você faz com o que aprendeu.

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Opinião
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Luis Hatada para o 55content.
Luis Hatada para o 55content. (Foto: Acervo pessoal)

Você quer ser motorista de aplicativo a vida inteira?

Essa é a pergunta que eu deixo logo no início — não como provocação, mas como um convite à reflexão. Você que começou agora, esse mês, esse ano, ou que já está na estrada há dois, cinco ou até sete anos, como eu, já parou para pensar se quer seguir nessa profissão pelo resto da vida?

Eu faço essa pergunta porque sei, por experiência própria, o quanto o trabalho como motorista de aplicativo é desafiador. Todos os dias enfrentamos tarifas defasadas, trânsito intenso, passageiros difíceis e, infelizmente, problemas de segurança. Aqui em São Paulo, por exemplo, é comum ouvir relatos de tentativas de assalto ou vandalismo. Recentemente, quase quebraram o vidro do meu carro — escapei por segundos. É um trabalho arriscado e, muitas vezes, pouco valorizado — inclusive por nós mesmos.

Mas o ponto é: você já parou pra pensar onde quer chegar com isso? O aplicativo pode ser uma boa fonte de renda, mas será que é o seu destino final? Trabalhar como motorista exige esforço, paciência e inteligência para driblar as dificuldades, mas também exige visão de futuro.

Eu sei que dá pra tirar um bom dinheiro, às vezes até mais do que muita gente com diploma universitário. Dou sempre o exemplo do administrador: passa quatro anos na faculdade, faz pós, MBA, e ainda assim, quando entra no mercado, não ganha muito mais que dois salários mínimos. Enquanto isso, um motorista de aplicativo que entende as estratégias certas pode ganhar mais do que isso líquido.

Mas o problema não é o valor, é a dependência. Se um dia você não sair pra rodar, o faturamento é zero. Mesmo parado, o custo com locação, manutenção e combustível continua correndo. É um modelo que te prende — quanto mais você trabalha, mais ganha, mas se parar, tudo desaba.

E é aí que está a reflexão principal: todo trabalho que depende exclusivamente da sua força física e do seu tempo tem um limite. Você não consegue crescer financeiramente se não criar formas de gerar renda que não dependam só de você. Isso vale pra qualquer profissão. A diferença é que muitos motoristas param no “tô ganhando bem”, e esquecem que o “bem” de hoje pode ser o “aperto” de amanhã.

É importante enxergar o aplicativo como uma escada, e não como o topo. Trabalhar aqui pode ser o ponto de partida, mas não o ponto final. Use o que ganha, o que aprende e o tempo que tem pra construir algo além. Se você adoecer, se o carro quebrar, se o aplicativo mudar as regras, você fica vulnerável. Ter outras fontes de renda é uma questão de sobrevivência.

Quando falo em criar uma segunda renda, não é só sobre investimento. É sobre encontrar maneiras de escalar seu trabalho — seja prestando outro tipo de serviço, seja vendendo algo online, seja criando conteúdo, seja aprendendo algo novo. E eu falo isso com propriedade, porque foi exatamente o que eu fiz.

Antes de dirigir, eu trabalhava em empresa. Sempre me dediquei ao máximo, fazia mais do que pediam, queria crescer. Mas chegou um ponto em que percebi que aquele emprego não me levava mais adiante. Saí com duas férias vencidas e usei a rescisão pra montar minha reserva de emergência. A partir daí, comecei a trabalhar como motorista — precisava de uma renda rápida.

Um ano depois, enxerguei uma oportunidade: criar um canal sobre aplicativos. Eu via que muitos motoristas tinham as mesmas dúvidas que eu tive e pensei: “por que não compartilhar o que aprendi?”. Criei o canal, comecei a postar conteúdo e, com o tempo, ele foi crescendo. No início, a monetização era pequena, quase simbólica, mas eu não mexi naquele dinheiro. Fui juntando, reinvestindo e construindo algo maior. Depois de um tempo, começaram a surgir parcerias, convites, oportunidades. Eu percebi que podia ganhar dinheiro na internet sem abrir mão dos meus valores.

Hoje, continuo com o canal, mas também trabalho com consultoria de desenvolvimento pessoal e financeiro. É um projeto que venho construindo há anos, e que hoje virou minha marca — a Luiz Ratada Consultoria. Trabalho com ferramentas de autoconhecimento, como o perfil comportamental, que ajuda as pessoas a entenderem como elas funcionam, como se relacionam e como podem evoluir. Quando a pessoa entende quem ela é de verdade, tudo muda — trabalho, relacionamentos, resultados.

E é por isso que eu sempre falo: não dependa apenas dos aplicativos. Como diz o ditado, “quem tem dois, tem um; quem tem um, não tem nenhum”. Busque no mínimo duas fontes de renda. A sua próxima pode estar dentro do próprio carro — talvez vendendo algo, criando conteúdo, prestando outro serviço, ou usando suas habilidades de um jeito novo.

Muitas vezes a gente se desanima com os resultados, acha que não tem saída, que a vida vai ser sempre assim. Mas não é verdade. O desânimo é normal, o que não pode é viver nele. Esteja perto de pessoas que te inspiram, que te puxam pra cima. Essa energia é contagiante.

E, pra finalizar, quero te dizer algo que aprendi com o tempo: existe um potencial dentro de você que talvez nem você saiba que tem. Ele está aí, esperando pra ser descoberto. Quando você entende quem é, o que sabe fazer bem e o que quer construir, você percebe que tem um gigante adormecido dentro de si.

O que falta pra maioria das pessoas não é força nem talento — é clareza e direção. Com isso, você consegue transformar sua vida e alcançar qualquer objetivo que quiser.

Então eu te pergunto de novo: você quer ser motorista de aplicativo a vida inteira? Ou quer usar o que aprendeu na rua como ponto de partida pra algo ainda maior?

Foto de Luis Hatada
Luis Hatada

Luis Hatada, conhecido como "Uber do Japa", é motorista de aplicativo desde 2018 e, ao perceber as dificuldades dos colegas em gerenciar ganhos e despesas, criou um canal no YouTube em 2019. Nele, compartilha orientações sobre gestão financeira e desenvolvimento pessoal, defendendo que a profissão exige uma mentalidade empreendedora. Seu conteúdo aborda temas como administração financeira e autodesenvolvimento, com o objetivo de ajudar motoristas a melhorar a rentabilidade e superar desafios diários.

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