Olhem esse diálogo:
— “Moço, posso sentar na frente?”
O motorista responde: “São quatro passageiros?”
— “Somente eu mesmo.”
E o motorista encerra: “Não levo passageiro na frente.”
A Uber acabou de soltar um comunicado dizendo que os passageiros podem voltar a sentar no banco da frente. Então vem comigo pra entender o que está acontecendo, porque se os passageiros virem isso, eles vão querer sentar do nosso lado.
Um hábito que mudou com a pandemia
Olha, esse nosso trabalho é cheio de polêmicas: uma hora é o ar-condicionado (liga ou não liga?), outra é o pagamento (pode pagar depois?), e agora a questão é: pode ou não pode sentar no banco da frente?
Até 2020, era normal. Os passageiros sentavam do nosso lado, igual fazem no táxi até hoje. Afinal, lá no começo dos aplicativos, a ideia era de carona compartilhada, e o passageiro podia escolher: frente ou trás.
Mas veio a pandemia, o distanciamento, e as regras mudaram — somente passageiros no banco de trás, no máximo três pessoas. Com o tempo, isso virou costume. Mesmo com o fim da pandemia, muitos motoristas preferem manter esse hábito — alguns por segurança, outros por conforto. Tem quem leve marmita no banco do carona, bolsa, garrafa d’água, e por aí vai.
E tem também quem diga que é por custo: Quatro pessoas pesam mais, o carro consome mais, e o aplicativo paga a mesma coisa. Pra mim, o banco da frente é exceção, não regra.
Na minha opinião, eu, Fernando, não ligo se a pessoa sentar na frente ou não, desde que tenha um bom motivo pra isso. Se não tem motivo, o banco de trás é o seu lugar.
Agora, se for uma pessoa idosa, alguém com dificuldade de locomoção, ou acidentada, tudo bem. A porta da frente é maior, o acesso é mais fácil. Nesses casos, não vejo problema. Mas fora isso, o banco de trás é o lugar do passageiro — por conforto e por segurança. Passageiro lá, eu aqui.
Quando o motorista também é passageiro
E olha, falo isso não só como motorista há quase 10 anos, mas também como passageiro e pai de família. Aqui em casa, somos em cinco — eu, minha esposa e três filhos.
O mais velho já está em outra vibe, mas às vezes saímos só nós quatro: eu, ela e os dois pequenos.
E aí vem a dúvida: se eu precisar pedir um carro, pediria dois carros pra levar minha esposa e duas crianças?
Sinceramente, não faz sentido. Por isso, eu entendo também o lado do passageiro: há situações em que a regra de levar só três pessoas parece exagerada, especialmente quando é uma família.
Então eu entendo o outro lado.Mas também sei o quanto pesa pra gente, motorista, o custo e o desgaste. Por isso, o equilíbrio é essencial — cada caso é um caso.
O comunicado da Uber e a pegadinha
A Uber respondeu à mídia e confirmou:
“Já está liberado o uso do banco da frente. O passageiro pode sentar na frente se quiser.”
Mas aí vem a pegadinha — aquela que quase ninguém lê até o final. A própria Uber reconhece que o motorista é autônomo, e que a decisão final é dele.
A Uber não pode obrigar o motorista a nada. A escolha de permitir ou não um passageiro no banco da frente é exclusiva do motorista.
Ou seja: a palavra final é nossa.
A empresa ainda recomenda que o passageiro avise antes, pelo chat do aplicativo, se quiser sentar na frente — pra evitar constrangimentos, cancelamentos e desperdício de tempo e combustível. Se o motorista não quiser, o passageiro pode cancelar sem custo e pedir outro carro.
No fim, vale o bom senso e a segurança
Pra nós, motoristas, tudo se resume a uma palavra: bom senso. Se achar que dá pra fazer, faz. Se achar que não deve, não faz.
Mas, acima de tudo, o que vale é a segurança — a nossa e a do passageiro. Em uma viagem, o que mais importa é a segurança. Concorda comigo ou não concorda?